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Viajar para ver fungos luminosos? Conheça o micoturismo

Visitas guiadas para a observação de cogumelos está em ascensão no Brasil

14/10/2024

Você já deve ter visto pela internet vídeos impressionantes de algas bioluminescentes colorindo o oceano com um brilho azul fluorescente, ou ter se impressionado com vaga-lumes sobrevoando por aí. Mas você sabia que esta habilidade de emitir luz também pode ser observada em outros ambientes como cavernas e florestas? Além de algas e vaga-lumes, a bioluminescência ocorre também em outros insetos, bactérias e ate mesmo em… fungos.

Grande parte da atividade dos fungos pode não ser vista a olho nu, mas é possível compreender melhor sobre o universo mágico destes misteriosos seres vivos através do documentário Fungos Fantásticos, filmado em time-lapse. E se além você pudesse conhecer pessoalmente esses cogumelos brilhantes em um passeio à noite pela floresta? Você toparia essa aventura?

Em países como França, Estônia, Espanha, Itália, Canadá, entre outros, a busca por cogumelos durante o outono é um hobby muito comum. Grupos de famílias e amigos adentram as florestas para a colheita, utilizando os mais diversos tipos de fungos na culinária. Além da atividade, outra prática comum nestes países é o micoturismo, atividade que vem ganhando espaço no Brasil nos últimos anos.

Projeto Micotrilhas atua no turismo de observação dos fungos na Bahia

O mundo dos funghi pode ser ao mesmo tempo encantador ou aterrorizante, como nos contos sombrios e fascinantes de Natureza Macabra: Fungos, e para entendê-los, é preciso apurar o olhar e os sentidos, para que seja possível compreender a grandiosidade e a função vital e essencial dos fungos na vida terrestre.

Essa é a ideia do Projeto Micotrilhas, desenvolvido no estado da Bahia e que tem como principal destino a Chapada Diamantina e a Serra do Conduru o segundo, onde estão localizados os fungos bioluminescentes.

Com o desenvolvimento do ecoturismo, lugares que já possuem destaque pela natureza exuberante, passam a ganhar visibilidade pelas trilhas turísticas para observar o universo paralelo dos cogumelos. Para isso, pesquisadores e professores coletaram, organizaram, fotografaram e catalogaram 266 espécies de macrofungos na Serra e na Chapada Diamantina.

As trilhas podem variar de 1,1km até 4,6km, com os mais variados tipos de cogumelos podendo ser encontrados, desde os mais comuns, aos mais coloridos e exóticos. Entre eles estão o cogumelo orelha-de-pau, com mais de 50cm de comprimento, e o fungo zumbi, que atuam como parasitas em insetos.

Ao expandir a pesquisa e compartilhá-la em forma de um tour guiado, o projeto educa os visitantes sobre o papel ecológico e a importância dos fungos na natureza e atua na consciência da preservação do meio ambiente. Além disso, entre as atividades propostas estão a busca, identificação e fotografia dos cogumelos, a apreciação consciente e sustentável dos fungos, e o conhecimento sobre as diferentes espécies, seus usos e habitats.

Essenciais na reciclagem e na manutenção da vida na terra, os reino dos fungos ainda possui muitos campos a serem desvendados, já que podem ser fortes aliados em questões como a redução do lixo, seja através da decomposição de restos orgânicos, ou até mesmo na produção de objetos ou materiais provenientes dos micélios, por exemplo.

Estar na natureza por si só já traz enormes benefícios para a saúde física e mental do ser humano. Quando nos encontramos em um ambiente que proporciona desde o ar mais puro, com rica flora e fauna ao nosso redor e ritmo desacelerado, tendemos a nos conectar com a essência da vida, de forma que o micoturismo proporciona benefícios como o bem-estar emocional e espiritual.

grupo micotrilhas Bahia — Foto: Micotrilhas/Divulgação

Fungos bioluminescentes também são encontrados na Amazônia e na Mata Atlântica

Além dos dois destinos baianos, é possível também fazer um tour de observação dos fungos tanto na Amazônia quanto na Mata Atlântica. A Fazenda Bacuri, localizada no Pará, realiza uma trilha que tem cerca de quarenta minutos, com a proposta de “olhar a floresta de baixo para baixo”.

Já na Reserva Betary, um instituto de pesquisa científica localizada em Iporanga, no Vale do Ribeira, estado de São Paulo, é possível fazer visitas guiadas com duração de três horas, sendo diurnas ou noturnas (para a observação de fungos bioluminescentes), ou até mesmo combinadas, com duração de cinco horas.

Cerca de 100 espécies de fungos bioluminescentes foram identificados no mundo e, destes, 27 estão no Instituto de Pesquisas da Biodiversidade (IPBio), na reserva. Foi lá que o professor associado da USP e responsável pelas visitas da reserva, Cassius Stevani descobriu em 2015 que entre as funções dos cogumelos brilhantes estava atrair insetos e aranhas que ajudam a polinizar os esporos pela floresta.

Com o crescimento e popularização do ecoturismo e o micoturismo, os cidadãos se tornam mais conscientes sobre a importância da preservação da natureza. Seja para aprender com os fungos bioluminescentes, ou com o ecossistema que nos cerca, que possamos buscar novas formas de observar e aprender o que a natureza tem a nos ensinar, antes que seja tarde demais.