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The Redeemer: Son of Satan!: Assassinatos, satanismo e um toque de vingança

Um acerto de contas ultraviolento

14/02/2025

Sim, pessoas devotas do technicolor, aqui estamos nós resgatando mais uma pérola das profundezas dos mares VHS.

Já falamos algumas vezes nesse espaço sobre nossos critérios do garimpo. Detalhes como bons atores, bons produtores e diretores, e também levamos em conta a comunicação visual presente nas capas dos filmes — e, não obstante, as sinopses exageradas que encontramos nas fitas. Mas algo que nunca, jamais, em tempo algum poderíamos desprezar, é a primeira informação que obtemos de um novo filme: seu título. Nesse quesito, um complemento singelo como “O Filho de Satan” acaba largando na frente da multidão.

The Redeemer: Son of Satan nasceu pelas mãos hábeis de Constantine S. Gochis, e tem a premissa simples de um justiceiro caçando antigos desafetos de escola. Como podemos imaginar, a coisa termina em um banho de sangue. Então é hora nos sujarmos um pouco.

Começamos essa preciosidade setentista observando um lago tranquilo e plácido que se esconde nas margens de um cânion. Nos primeiros segundos, a trilha sonora contribuiu para a tranquilidade, mas ela logo evolui para uma música estranha e cheia de tensão e conotações religiosas. A música segue em um crescente de ritmo e volume, até que a paisagem escurece e nos sentimos bastante desconfortáveis. Nesse momento, um garoto emerge das águas, de punho estendido, como uma promessa de justiça divina. É um começo à moda antiga, mas sem dúvida um belo começo.

Seguimos com esse garoto enquanto algumas cenas se sobrepõem e ele toma um ônibus. Nesses cortes, conhecemos alguns personagens, ainda muito superficialmente. Também presenciamos um crime à sangue frio, uma execução, e algo um pouco pior no pós-morte do cadáver. O crime acontece em uma escola desativada, o assassino entra se passando por um comprador. Enquanto isso, o garoto que saiu do lago chega a uma igreja, onde irá compor parte do coral junto com outros meninos. Mesmo nesse breve começo, o filme é ótimo em construir tensão, a duração e o ritmo das cenas mais incômodas são de uma precisão que impressiona.

Através das escolhas do assassino misterioso, conhecemos os outros personagens importantes. Vivenciamos um pouco de suas vidas, de suas particularidades, conhecemos suas falhas de caráter e imaginamos que o matador irá pegar um por um, afinal, ele está recortando as fotos dessas pessoas de um antigo álbum de fotografia do colégio, e ele ainda está ao lado do cadáver do primeiro homem assassinado. Essas pessoas escolhidas recebem convites para um encontro de dez anos da formatura (bom, pelo jeito a festa será animada). Entre eles temos atores esnobes, pessoas ricas desprovidas de coração, garotas inconsequentes e homens mentirosos, glutões e sem escrúpulos. No final das contas, temos seis pessoas maravilhosas na mira do misterioso assassino.

Enquanto eles se reúnem e celebram na antiga escola, surge o nome de Stanley Ford em um tom de escárnio. Não sabemos quem ele é ainda, ou se é importante, mas a citação de seu nome parece ser um evento gratuito, apenas para provocar sua memória, da mesma maneira que essas mesmas pessoas agiam dez anos antes, com Stanley e muitos outros. Um fator estranho que eles logo percebem é o de haver apenas seis pessoas na festa, não faz sentido já que a sala de formandos era bem mais numerosa.

De qualquer forma, não demora muito para que o pessoal fique à vontade o suficiente para comer, beber, retomar antigos romances acadêmicos e encontrar cadáveres. Sim! O primeiro corpo é encontrado por uma das mulheres, e se trata do homem assassinado no começo do filme, ele já está acumulando algumas larvas em seu corpo semidecomposto. Depois do choque inicial da jovem, os seis se reúnem para observarem o morto e logo descobrem que estão trancados, aprisionados na escola. Do lado e fora, o assassino apavora outra das mulheres pela janela.

A segunda vítima é o glutão do grupo, ele morre queimado em uma armadilha, então fica explícito que não se trata de uma piada, que o corpo cheio de larvas é real, e que existe uma pessoa também real ansiosa para matar novamente. O grupo discute sobre o passado, sobre o que eles podem ter feito, e sobre quem poderia estar ofendido a ponto de organizar aquele matadouro.

O assassino não é só vingativo, mas um matador esperto e engenhoso. Durante os novos ataques, a inteligência do agressor faz lembrar um pouco o filme Saw (Jogos Mortais), e eu não descartaria a hipótese de que, com as devidas proporções, The Redeemer: Son of Satan possa frequentado parte das inspirações iniciais da franquia — a engenhosidade de Saw e alguns elementos são similares.

Existe um incinerador nos porões da escola, e depois da segunda morte, os sobreviventes decidem fazer fogo alto, para chamar a atenção de alguém à distância (a escola está abandonada há anos e não existe muita civilização por perto). A ideia não vai muito longe, o interior do incinerador está obstruído com uma parede de tijolos.

Os ataques e disfarces seguem cada vez mais elaborados, e embora os convidados para “a festa” tentem encontrar e deter o assassino, ele sempre está um passo à frente. Claro que sim, afinal de contas, ele passou um bom tempo planejando e arquitetando seu plano de vingança (e pode ter tido uma ajudinha nisso).

Com mortes brutais e um gore sob medida, aliado a uma trilha sonora super competente e bons atores, The Redeemer: Son of Satan é uma produção modesta com um grande resultado, principalmente se levarmos em conta que ele foi produzido em 1978! A mão do diretor pesa bastante quando o filme esfria, provendo ritmo, acelerando a trama com algumas sequências ultraviolentas, então recomendamos cuidado a quem desejar se aventurar nesse filme.

Nos momentos finais, The Redeemer releva o assassino, suas motivações, e dá uma guinada de volta ao sobrenatural, provocando reflexões estranhas e até mesmo perturbadoras sobre os caminhos da religiosidade, e sobre como o bem pode operar sob a forma do mal e vice-versa quando tais poderes opostos se misturam para equilibrar uma balança moral que não encontra o centro desde o início dos tempos.