Darkside • Entrevista

Francisca Libertad: “O livro deixa de ser o que eu escrevi e passa a ser o que os outros leem”

Confira a entrevista da autora de Se Acaso Numa Curva ao DarkBlog

11/09/2025

O Rio de Janeiro é a base de Se Acaso Numa Curva. Mais do que um cenário, é ele que molda as personalidades de seus personagens, influenciando suas escolhas e atitudes a cada página. E foi lá, mais especificamente na Bienal do Livro Rio, que o DarkBlog conversou com a autora Francisca Libertad.

Com os direitos do livro recém vendidos para uma produção audiovisual e continuações no radar, a escritora falou sobre a repercussão da obra com os leitores, as diferenças do Rio de Janeiro dos anos 1990 para os dias atuais e, claro, quem ela gostaria de ver no elenco da adaptação. A entrevista você confere a seguir:

DarkBlog: Desde que você viveu os eventos que inspiraram Se Acaso Numa Curva muito mudou no Rio de Janeiro. De que maneira você retrataria a cidade em 2025?

Francisca Libertad: Eu estou retratando-o um pouco em outras obras que eu tenho, inclusive o terceiro livro da trilogia retrata o Rio de 2017. É uma cidade que tem menos acesso, a gente tem menos liberdade, menos segurança, por incrível que pareça. Sempre foi violenta, mas agora está mais violenta, mais complexa de se viver, e ainda assim é a cidade em que eu quero viver, primariamente, para sempre.

D: Como tem sido para você observar a recepção do livro pelos leitores desde o lançamento de Se Acaso Numa Curva?

FL: O mais emocionante é a diferença nas leituras do que eu escrevi. Eu escrevi certas coisas e as pessoas chegam pra mim com alguns feedbacks que eu falo “nossa, não me identifico com nada”. Acho incrível que você consiga organizar o que recebe, o que lê, em qualquer cultura, absorver de certa maneira e relacionar a quem a gente é. Então, o livro deixa de ser o que eu escrevi e passa a ser o que os outros leem, que nem sempre tem a ver com o que eu esperava.

D: Essa é a sua primeira Bienal como autora publicada pela DarkSide® Books. Como tem sido essa experiência de retornar à sua cidade para um evento desta magnitude?

FL: Muito emocionante, é quase surreal. É estranho quando você vai conquistando os sonhos e de repente eles se dão. Estou aqui hoje profundamente emocionada e honrada de poder estar junto com a DarkSide nesse processo.

D: O Rio de Janeiro é, de certa maneira, um personagem do seu livro. Qual o papel dele ali: vilão, aliado, coadjuvante…?

FL: O Rio é quase a base da massa. Os outros componentes seriam as pessoas, incluindo eu mesma. O Rio é o cenário-base para essa menina virar quem ela é. Se fosse em outra cidade, ela não seria a Dora, ela não estaria de frente ao tráfico, ela não teria subido a boca, ela não teria se apaixonado por um assassino. O Rio é a base para criar essa vitamina muito louca que ela virou.

D: Falando na Dora, o que você acredita que os leitores levarão consigo da personagem após ler Se Acaso Numa Curva?

FL: Isso é algo muito particular e subjetivo. Mas eu espero que eles levem coragem, que é o que ela mais tem.

D: Sabemos que o livro está em vias de ser adaptado para o audiovisual. Quem estaria no seu elenco dos sonhos?FL: É muito difícil. Eu venho discutindo isso porque ele já está com os direitos vendidos. Queremos um elenco novo porque a maioria dos personagens são adolescentes. Agora, para os mais velhos, seriam os meus amigos. Eu queria Marcos Palmeira, Camila Morgado, Karine Teles… eu queria os meus amigos, com quem eu gosto tanto de trabalhar e que admiro profundamente o trabalho deles. Porque o sonho é trabalhar com o que a gente ama, né? Então eu gostaria que fossem eles. Já os jovens, não. Os jovens seriam gente que a gente descubra agora e lance.