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O legado de Dungeons & Dragons

50 anos moldando a cultura pop

23/09/2025

Você não precisa ser um especialista em RPG para conhecer Dungeons & Dragons. Criado por Gary Gygax e Dave Arneson em 1974, ao longo dos anos o jogo se consolidou como um fenômeno cultural, transcendendo as fronteiras dos tabuleiros e mudando para sempre o mundo do entretenimento. Desde o seu lançamento, mais de 50 anos atrás, Dungeons & Dragons não apenas consolidou o conceito de RPG de mesa, como também moldou a forma pela qual interagimos com histórias, jogos e com a própria cultura pop.

Tudo começou nos Estados Unidos, em uma época em que os wargames, tradicionais jogos de guerra, faziam sucesso entre os players entusiasmados por estratégia militar. Utilizando miniaturas detalhadas, tabuleiros e dados, os jogadores simulavam batalhas históricas ou hipotéticas, controlando exércitos e colocando em prática todo um sistema de estratégia e tática. Em meio a isso, Gygax e Arneson, dois apaixonados por wargames, decidiram criar algo um pouco diferente: um jogo que permitisse a cada jogador criar e controlar seu próprio personagem ao invés de comandar um exército inteiro. Nascia assim Dungeons & Dragons, o qual transformava os jogadores em heróis individuais, ressaltando que o poder da imaginação, criatividade e narrativa colaborativa eram muito mais importantes do que vencer.

Publicado em 1974 pela TSR, empresa criada pelo próprio Gygax, D&D era diferente de qualquer outro jogo da época. Não possuía um tabuleiro fixo, não visava a competição e promovia uma experiência coletiva, na qual um Mestre do Jogo (DM) conduzia a aventura enquanto os jogadores tomavam decisões e interagiam em um mundo aberto. Embora as primeiras versões tenham sido bastante simples, Dungeons & Dragons rapidamente se espalhou entre clubes de jogadores, eventos, faculdades e rapidamente conquistou a comunidade nerd.

Incentivando a liberdade e a criatividade de seus jogadores, D&D mostrou que existia um mundo de infinitas possibilidades e aventuras, tudo que bastava era utilizar a imaginação. Era o início de uma nova era nos jogos: a dos RPG de mesa. Cinco décadas depois, Dungeons & Dragons continua extremamente relevante na cultura pop, influenciando gerações de jogadores e inúmeras outras obras em diferentes formatos midiáticos. Para celebrar esse marco, a Caveira te leva por uma recapitulação da importância de Dungeons & Dragons nos últimos 50 anos. Role os dados e embarque nessa aventura!

O impacto nos RPGs e na televisão

Após o sucesso inicial, D&D continuou a crescer na década de 1980, passando por transformações que tornaram o jogo mais acessível a jogadores iniciantes. Isso não apenas popularizou os RPGs de mesa, como abriu caminho para inúmeros outros jogos com mecânicas parecidas, como RuneQuest, Traveller RPG e Call of Cthulhu. Nesse sentido, quase todos os títulos que vieram depois devem sua existência à Dungeons & Dragons, que consagrou mecânicas, conceitos e estilos que são utilizados até hoje, como os personagens com atributos e as narrativas colaborativas conduzidas por um Mestre do Jogo.

Ainda na década de 1980, cimentando seu status de ícone nerd, a franquia começou sua expansão para outras mídias. Entre livros e histórias quadrinhos, o maior impacto de D&D provavelmente ocorreu na televisão, por meio da famosa série de animação Caverna do Dragão. Transmitida entre 1983 e 1985, a série foi responsável por apresentar Dungeons & Dragons para um público que não estava acostumado com RPGs, sendo comentada até os dias atuais por seu final em aberto e pela história que marcou uma geração de espectadores.

Inspirando videogames, filmes e a fantasia moderna

Com o passar dos anos, D&D foi recebendo atualizações e novas publicações. Em 1997, a TSR foi adquirida pela Wizards of the Coast, editora responsável por outro fenômeno da cultura pop, Magic: The Gathering. Na mesma época, os RPGs eletrônicos estavam cada vez mais em alta, muitos dos quais tiveram sua existência possibilitada graças ao pioneirismo de Dungeons & Dragons.

Embora contenham diferenças nítidas e seus próprios sistemas e histórias, clássicos como Diablo e Final Fantasy VII, por exemplo, utilizaram derivações do sistema original criado por Gygax e Arneson. Indo além, atualmente é praticamente impossível pensarmos em RPGs digitais sem pensar em D&D, já que muitos utilizam as mecânicas do jogo e a sua própria essência, como a construção e classes de personagens, pontos de experiência e níveis, enredos ramificados e árvores de habilidades. Nesse cenário de novas possibilidades criadas por Dungeons & Dragons, muitos títulos, inclusive, se inspiraram diretamente no jogo, como a famosa franquia Baldur’s Gate, que continua atraindo milhares de fãs e mostra como o espírito de D&D continua mais vivo do que nunca. Além disso, se não fosse por ele, possivelmente nunca teríamos jogos como The Elder Scrolls e Dragon Age.

Fora do mundo dos videogames, Dungeons & Dragons também deixou sua marca em outros formatos midiáticos. Entre diversos livros e histórias em quadrinhos oficiais baseados no jogo, o RPG também proporcionou um novo olhar para a fantasia enquanto um gênero de ficção, valorizando narrativas épicas e aventuras coletivas. Além da sua própria franquia de adaptações cinematográficas, com o filme mais recente, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, sendo lançado em 2023, o jogo fez inúmeras participações especiais em longas e séries de televisão. Por exemplo, no clássico E.T – O Extraterrestre de Steven Spielberg, o personagem principal Elliot aparece junto com seu irmão mais velho e um grupo de amigos jogando D&D. O RPG também apareceu em séries famosas, como Buffy – A Caça Vampiros e The Big Bang Theory.

Contudo, sua aparição mais impactante foi no fenômeno Stranger Things, que faz inúmeras referências ao jogo e o homenageia constantemente com seus personagens sendo grandes fãs. A série da Netflix abraçou a essência do RPG – valorizando dinâmicas de amizade, coletividade e superação de desafios – e utilizou o jogo para estruturar sua própria narrativa, como a ideia de “Mundo Invertido” onde os personagens enfrentam um mundo alternativo de fantasia. Além disso, Stranger Things traz criaturas, termos e conceitos de Dungeons & Dragons, como o Demogorgon, o Mind Flayer e o Vecna. Como se não bastasse, em sua quarta temporada a série retratou o pânico satânico que explodiu em torno do jogo em meados dos anos 1980. Ao representar D&D como uma parte essencial da cultura da década, Stranger Things mostrou que o jogo continua mais atual do que nunca, abrindo as portas para novas gerações de fãs.

Criando comunidades e conectando pessoas

Indo além do entretenimento, Dungeons & Dragons é uma ferramenta educacional e terapêutica, incentivando a criatividade, a imaginação e a colaboração, trazendo benefícios para a saúde mental. Ao longo de cinquenta anos, o jogo também criou uma comunidade de jogadores que se mantém unida por gerações, muitas vezes com jogadores da mesma família passando o legado de D&D adiante para filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, irmãos e irmãs. Criado como um lugar de pertencimento e expressão, D&D também possibilitou que pessoas se conectassem e construíssem amizades duradouras, criando laços e memórias, funcionando como uma ponte entre indivíduos das mais diferentes origens, idades e nacionalidades.

Uma das formas mais influentes de entretenimento, Dungeons & Dragons deixou marcas na vida de todos os seus jogadores. O RPG não apenas influenciou gostos pessoais e a formação de identidade de milhares de indivíduos, como também ajudou a formar uma geração inteira de criadores de histórias, programadores, artistas, escritores e streamers. Com seu universo mágico, cheio de possibilidades, D&D nos mostrou continuamente que tudo é possível e que podemos ser tudo aquilo que desejamos.

O criador de conteúdo, Nick BGG, por exemplo, mencionou que “foi jogando D&D que descobri que as melhores histórias são escritas no coletivo. Nos dados encontramos a sorte, mas é nos amigos que encontramos força.” Já o narrador de League of Legends e streamer, Gruntar da GruntarTV, comentou que D&D se tornou a grande aventura da sua vida: “são mais de 30 anos de RPG, rolando dados, forjando amizades e, acima de tudo, tecendo histórias que estarão marcadas pra sempre em minhas memórias.”

Dungeons & Dragons também deixou um impacto na vida do criador de conteúdo, Mike Sant’Anna, sendo que seu primeiro contato com o RPG aconteceu há mais de 30 anos atrás. Segundo Mike, “Ele abriu uma porta para uma infinidade de histórias e personagens que estavam presos dentro da minha cabeça e não tinham pra onde ir. E mais de 30 anos depois, eu posso garantir que essa porta nunca mais se fechou.” Para o gamer e apresentador, Gianzetta, D&D “é a base para a criação de universos que não só me divertem, mas me transformam e me moldam a cada campanha.”

A aventura está apenas começando

50 anos se passaram desde que Gary Gygax e Dave Arneson criaram um pequeno e nichado RPG nos Estados Unidos. Nesse tempo, Dungeons & Dragons transcendeu seu papel como apenas um jogo de tabuleiro e se transformou em uma marco cultural. D&D não apenas criou e popularizou os RPGs de mesa, como também influenciou videogames, livros, filmes, séries de televisão e as infinitas possibilidades de narrativas colaborativas.

No entanto, mais do que isso, Dungeons & Dragons promoveu valores como o trabalho em equipe, a empatia e a amizade, trazendo complexidade humana e autodeterminação para o mundo dos jogos e unindo milhões de jogadores ao redor do mundo para uma aventura inesquecível que continua mais viva do que nunca. Com suas constantes atualizações e melhorias, as quais respondem às necessidades de sua própria comunidade, o jogo se mantém relevante e cada vez mais inclusivo e diverso. Longe de permanecer parado no tempo, D&D continua em constante evolução e crescimento, se consolidando como uma poderosa ferramenta de expressão e conexão humana.

Em grande parte, isso acontece justamente por seus jogadores, os quais mostraram que um “simples jogo” poderia abrir universos de possibilidades, amizades e memórias. Seja em mesas tradicionais, servidores online, grupos de discussão ou transmissões ao vivo, a comunidade de D&D é a prova viva de que Gygax e Arneson criaram uma pequena joia que transcendeu todas as fronteiras do tempo e espaço.

Em 50 anos de existência, Dungeons & Dragons não apenas sobreviveu, mas cresceu e inspirou gerações com sua magia. Um dos maiores símbolos da cultura participativa contemporânea, D&D é um legado da imaginação, aventura e amizade, há cinco décadas nos inspirando a sermos heróis e heroínas que escrevem suas próprias histórias. Afinal, todos podemos ser os mestres das nossas próprias masmorras.

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