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Braindead: A definição perfeita entre o gore e o deboche

Um filme neozelandês de comédia e terror-zumbi, dirigido por Peter Jackson

05/12/2025

Pode parecer mentira, mas a verdade é que a censura (direta ou velada) não é, nunca foi, e nunca será um privilégio dos tempos modernos. Talvez a censura seja algo inerente ao ser humano, um vício comportamental, até mesmo uma necessidade obscura que nasceu da covardia ou da vontade de eternizar um mundo minimamente reconhecível. Gêneros musicais mais “quentes”, humoristas ácidos, peças teatrais e shows com excesso de sexo, drogas e rock and roll, tudo entra na lista da milícia. Oh sim, a censura está presente até mesmo quando evitamos que os palavrões emerjam das bocas limpíssimas de nossos filhos. E se ninguém está à salvo dentro da própria casa, imaginem o que acontece quando o alvo é o gênero horror, subgênero gore, motivação “sem limites”.

LEIA TAMBÉM: The Kindred: Uma pérola submersa do horror corporal

Braindead

O filme de hoje foi duramente criticado, sabotado, amputado, recortado, reimplantado, humilhado, cultuado e exaltado, e mesmo que ainda exista uma pequena legião de censores e disseminadores de depreciação, Braindead viveu o suficiente para ecoar até os dias de hoje. Se você ainda não sabe do que estamos falando, o filme se tornou lendário aqui no Brasil sob o título de Fome Animal, no Ciiiinnneeee Trashhhhh, o terror das tarrrrrdes!, com apresentação do nosso padrinho eterno, Zé do Caixão. Dirigido por Peter Jackson — aquele mesmo, o homem que dirigiu a saga Senhor dos Anéis —, Braindead é um filme neozelandês de comédia e terror-zumbi (e, segundo alguns, de extremo mau gosto) de 1992, lançado nos Estados Unidos como Dead Alive.

Braindead
Braindead

Começamos nossa aventura gastronômica com uma homenagem controversa à Rainha Elizabeth, que não está comendo nada, mas cavalga um belíssimo alazão. Logo depois, somos lançados em uma expedição Neozelandesa em Skull Island (“Ilha da Caveira”, peculiar, não?), um território da Sumatra, em 1957. A ilha não está desabitada, e os povos originais perseguem nossos zoólogos expedicionários com lanças e flechas. Pelo que entendemos, o macaco que a expedição pretende abduzir, chamado de Macaco Rato, possui algum tipo de maldição, ou uma doença. Nesse primeiro corte, já presenciamos um belo cerimonial de amputação emergencial, quando o Macaco Rato morde um dos exploradores.

Braindead
Braindead

Enquanto o macaco raivoso vai para o zoo, conhecemos Paquita Maria Sánchez, herdeira de um mercadinho, e Lionel Cosgrove, seu pretendente que mora com a mãe dominadora, Vera Cosgrove. A fim de tirar Lionel da casa e passar algum tempo com ele, Paquita o convence a um passeio ao zoológico.

Infelizmente para o casal, Vera, mãe de Lionel, decide espioná-los, e infelizmente para Vera, ela acaba atacada pelo nosso odioso Macaco Rato da Sumatra. Infelizmente para nosso odioso Macaco Rato da Sumatra, Vera pisa na cabeça do animal até acabar com ele, e depois usa todo seu narcisismo para convencer Lionel a deixar Paquita sozinha e levar mamãe para casa. Creio que seja desnecessário preveni-los, mas vamos dizer que o gore desse filme é quase o dia a dia de um matadouro — e bem mais nojento.

Vera piora rapidamente, seu braço está praticamente podre, mas ela insiste em receber um casal de socialites para um almoço. O desespero e inconsequência da mãe de Lionel é puro deleite, uma pintura de quão longe essas senhoras podem chegar quando se empenham em manter o status. Vera está praticamente apodrecendo, pulsando gosmas pelos ferimentos, ela mal consegue falar, mas nada disso interrompe a reunião. Existe claramente um tom de exagero cômico em Braindead, mas suas críticas sociais são algumas das mais ousadas e diretas já praticadas em um filme de terror. Até em seu nome original Braindead, o filme acusa a sociedade de ter morte cerebral.

Apesar das tentativas, Vera acaba perdendo para a doença, e depois de comer o cachorro de Paquita e atacar Lionel, ela morre caindo da escada. Lionel ainda está sofrendo o momento da perda, então Vera ressuscita e se torna uma espécie de zumbi irracional que ataca o que estiver à sua frente. Uma dessas vítimas é sua enfermeira, que é semi-decapitada por Vera em outra belíssima composição gore. Meu caro cinéfilo do horror, mesmo que você esteja habituado, mantenha um remedinho para náuseas por perto, sim?

Vera insiste em continuar andando por aí depois de morta, mas ela morre de novo ao ser atropelada por um ônibus, e depois finalizada por Lionel com uma seringa e agulha. Mas não tão finalizada, afinal, Vera levanta no meio do embalsamamento que precede seu velório e começa a atacar as pessoas de novo. Mais uma vez, Lionel a coloca para dormir e os coveiros conseguem enterrá-la. E Vera sai de sua sepultura e ataca um grupo de jovens delinquentes que gosta de beber no cemitério. Lionel também está no cemitério, ele sabe que Vera não está tão morta quanto parece.

Tudo parece perdido quando Vera converte três rapazes à zumbis, mas o Padre aparece e se mostra um exímio lutador de caratê, com golpes tão poderosos que são capazes de decapitar e desmembrar zumbis. A luta no cemitério é épica, e como boa parte desse filme, desafia qualquer traço de racionalidade. Apesar dos esforços caratecas do Padre, o único a escapar com vida é Lionel, que sempre sai de casa com algumas seringas e um vidro de anestésico, que ele contrabandeou de um exilado nazista veterinário e toxicômano.

Lionel sempre foi um bom rapaz, e sendo assim, ele leva todos os zumbis precariamente funcionais para sua casa, a fim de alimentá-los e… dificilmente alguém compreenderia os motivos racionais de Lionel, mas é o que ele faz. A cena da refeição é de uma podridão ímpar, e com o bônus de um pequeno affair amoroso entre a versão zumbi do padre e a enfermeira semi-decapitada de Vera.

Embora não exista um estudo clínico sobre a maternidade dos zumbis, o affair momentâneo entre o padre e a enfermeira frutifica uma pequena aberração, então, se você acha que já chegamos ao fundo abissal desse filme, saiba que está redondamente enganado. Sempre solícito, depois de conter a coisinha parida, Lionel decide adotar o bebê, e isso inclui toda rotina de um bebê, até mesmo passeios no parque, com as outras criancinhas.

Se você chegou até aqui, é possível que esteja se questionando se essa pérola vermelho-sangue vale sua atenção, e é justamente nesse ponto que precisamos defender esse filme. Embora Braindead seja um filme muito específico para um tipo ainda mais especifico de audiência, é inegável o quão longe os diretores e atores concordaram em chegar, até a subida dos créditos. Mesmo que tudo já pareça pesado demais, os litros de sangue sintético aumentam à níveis alarmantes enquanto Braindead avança para as últimas cenas.

Para finalizar, precisamos concluir que parte do sucesso de Braindead (que custou 3 milhões de dólares e arrecadou 242 milhões em bilheteria) está na ousadia, no excesso, na coragem de ir mais longe e chamar a sociedade de acéfala quando muitos outros produtores e diretores tomavam o caminho da contenção e da desaceleração. E mesmo que a vontade de continuar escrevendo sobre esse filme seja enorme, vamos deixar o resto com vocês — só não esqueçam de manter um antiácido por perto…

Trailer bem aqui:

LEIA TAMBÉM: The Evil: O elo perdido entre as casas amaldiçoadas e o inferno

Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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