Hoje em dia é muito comum associarmos questões de saúde e cura ao ofício da medicina. Mas você sabia que nem sempre foi assim? Ao longo da história, a arte de curar se mostrou algo extremamente diversificado, um campo em que diferentes saberes eram aceitos e encarados como legítimos.
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Na verdade, por mais que a história da medicina possa remontar a civilizações antigas, como a grega e a egípcia, a forma como a encaramos hoje é algo muito mais recente, datando do século XIX. A chamada Era Bacteriológica mudou os paradigmas da cura e o olhar perante as doenças, consolidando saberes científicos e medicinais inteiramente novos. A própria ideia do hospital enquanto um espaço de cura e a concepção do consultório médico são invenções bem recentes na história.
Muito antes então da medicina e de outros ofícios da saúde, como a enfermagem, ganharem os contornos que conhecemos hoje, com especializações e certificações acadêmicas, existiam outras figuras que detinham o conhecimento necessário para ajudar diretamente a população na cura e em outros momentos de dificuldades: os curandeiros e as chamadas bruxas.
Esqueça qualquer imagem da bruxa como um ser demoníaco e maligno. Aqui estamos falando de mulheres reais e não seres imaginários criados por ansiedades religiosas e culturais da Idade Moderna. Ao longo da história, inúmeras mulheres que foram posteriormente consideradas bruxas eram, na verdade, membros fundamentais da comunidade em que viviam. Além de acumular anos de experiência, muitas delas dominavam saberes e práticas de cura extremamente importantes.
Era comum que vizinhos recorressem a estas mulheres em momentos de dificuldade. Afinal de contas, elas possuíam os conhecimentos necessários para lidar com momentos de vida e morte. Conheciam ingredientes e remédios que ajudavam no alívio e cura de doenças, auxiliavam mulheres que desejavam interromper ou evitar gestações e eram chamadas para realizar os partos da vizinhança. Além disso, muitas vezes estas mulheres também conquistavam prestígio por meio de realizações de práticas ditas como mágicas por crenças locais, como adivinhação e encantamentos amorosos.
É importante olharmos para como elas atuavam dentro de suas comunidades, oferecendo alívios e auxílios em um mundo de dificuldades. Desta forma, suas práticas podem ser enxergadas como movimentos de resistência e até mesmo de subversão da ordem social vigente em uma tentativa de sobreviver e moldar sua realidade em situações em que outras formas de cura e alívio não eram possíveis nem acessíveis. É justamente aqui que as bruxas se aproximam e se inserem no mundo dos curandeiros.
A linha que distingue bruxas e curandeiros pode ser bastante tênue. Em algumas culturas, por exemplo, as bruxas exerciam justamente o ofício de curandeiras, utilizando seus conhecimentos em rituais de cura e alívio de dores.
No entanto, pensando de modo mais amplo, os curandeiros possuem um lugar bastante próprio na história, estando associados aos saberes populares, os quais eram passados de geração para geração por meio da oralidade e da tradição. Estas figuras desempenharam papeis vitais na preservação e transmissão de saberes sobre a natureza e a saúde, contribuindo, inclusive, para a formação da medicina moderna. Os curandeiros, assim como os benzedeiros, as parteiras e os sangradores, eram autoridades essenciais em muitos lugares e comunidades onde o conhecimento médico científico e oficial era limitado ou até mesmo inexistente. Além de possuírem conhecimentos tradicionais sobre plantas e remédios, muitos deles auxiliavam em práticas de cura espiritual, fornecendo alívio para diversas pessoas.
Vale lembrar que antigamente elementos como religiosidade, crenças, corpo e cura estavam intrinsecamente unidos, de forma que não eram tão delimitados como são hoje em dia. No Brasil das primeiras décadas do século XIX, por exemplo, existiam curandeiros, geralmente de origem africana, que eram procurados para sangrar o doente em questão com o objetivo de retirar espíritos malignos.
Outro ponto importante é que documentos relatam que curandeiros, parteiras e sangradores não eram apenas solicitados por falta de médicos ou cirurgiões, mas também por terem o respeito e serem mais próximos de suas comunidades. Ao acompanhar o dia a dia de seus pacientes, estes indivíduos eram enxergados como mais eficientes, já que seus procedimentos estavam mais alinhados com as concepções populares. Esses ofícios também permitiam a atuação de sujeitos marginalizados pela sociedade, como mulheres, escravizados e homens negros livres. Desta forma, estabelecia-se uma relação intrínseca entre cura, magia, ancestralidade e religiosidade.
Com o tempo, a hierarquia entre os saberes populares, baseados na tradição e oralidade, e os saberes oficiais da medicina, da religião e da ciência começou a ser cada vez mais rígida. Em um processo de delimitação, muitos curandeiros, parteiras e sangradores tiveram suas práticas deslegitimadas e consideradas como ineficazes e inimigas da razão científica, já que desafiavam a medicina oficial e crenças religiosas dominantes. No Brasil, por exemplo, saberes que eram considerados legítimos até 1828 foram sendo pouco a pouco associados à ignorância e charlatanice, em um processo legal que se estendeu até o século XX e que eventualmente deu o monopólio das artes de curar para a medicina oficial.
Engana-se quem acha que bruxas e curandeiros desapareceram. Eles ainda estão entre nós, marcando suas resistências e subversões. Por mais que tenham sido vítimas de repressão e perseguição, com seus ofícios e saberes desqualificados, essas figuras representam a importância e a resiliência da sabedoria popular, da oralidade e da transmissão de conhecimento entre gerações. Eles também simbolizam movimentos de resistência, autoconhecimento e conexão com o mundo natural, nos inspirando a ter mais contato com a espiritualidade, o conhecimento da natureza e com nós mesmos.
Em Bruxaria Silvestre, Rebecca Beyer se insere nessa tradição ao convidar o leitor a mergulhar na essência mais livre que existe dentro de nós, lembrando que a magia reside na intimidade com o mundo natural. Um guia encantado para viver em harmonia com o ritmo natural da vida, Bruxaria Silvestre nos leva por uma jornada de redescoberta da força e sabedoria que emana da natureza, dialogando com práticas de cura e sabedorias transmitidas por tantos curandeiros e bruxas que vieram antes de nós.
Integrante da marca Magicae da DarkSide® Books, Bruxaria Silvestre é a escolha perfeita para os leitores que se encantaram com títulos como Bruxa Natural e Livro Mágico. Um chamado para a autenticidade e reencontro com natureza, Bruxaria Silvestre é uma porta de entrada para despertar a magia da natureza que habita em todos nós, mostrando que, no fundo, todos fazemos parte do mesmo ciclo.
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