Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


CuriosidadesFábulas DarkWish

Como os Irmãos Grimm salvaram os contos de fadas

A fascinante história por trás das histórias

17/10/2024

Era uma vez, no distante reino do que hoje conhecemos como Alemanha, dois jovens bibliotecários chamados Jacob e Wilhelm Grimm publicaram uma coleção de contos que se tornaria uma das obras mais influentes da Europa e, por que não, do mundo.

LEIA TAMBÉM: 6 Filmes que são releituras de contos de fadas

Entre os anos 1812 e 1857, sete edições dessas histórias surgiram, cada uma diferente da anterior, até a versão final, a mais conhecida de todas e que mal lembra a primeira. Mais de duzentos anos depois, ainda celebramos e discutimos o legado dos Irmãos Grimm, que encanta adultos e crianças nos mais diferentes formatos e adaptações.

Um resgate da tradição oral

As primeiras histórias coletadas pelos Irmãos Grimm são um tanto brutas, grosseiras, absurdas, cômicas, trágicas e hoje em dia nem chamaríamos de contos de fadas. Duvida? Então vale a pena dar uma olhada em Histórias Secretas dos Irmãos Grimm, uma publicação da Wish que traz contos bem diferentes daqueles que se tornaram animações da Disney.

histórias secretas dos irmãos grimm

A verdade é que os Irmãos Grimm nunca tiveram a intenção de que suas histórias fossem direcionadas ao público infantil. Os contos e suas lições de moral surgiram naturalmente da tradição oral dos povos germânicos, e a intenção dos dois era simplesmente registrá-las para que não se perdessem com o tempo.

Ao reunir esses contos, Jacob e Wilhelm fizeram uma contribuição inestimável para o folclore ocidental, com suas obras sendo reconhecidas pela Unesco no seu livro Memory of the World Registry. O trabalho dos irmãos inspirou estudiosos de toda a Europa a fazerem o mesmo, registrando suas histórias locais e preservando-as como parte de sua herança cultural.

O que os influenciou a reunir essas histórias germânicas foi a crença de que a maioria das formas puras e naturais de uma cultura, aquelas que unem toda uma comunidade, são linguísticas e baseadas na história. Para eles, por mais rica que a literatura moderna seja (ou fosse, já que estamos falando de 200 anos atrás), ela soa um tanto artificial e não é capaz de capturar a essência da cultura popular que emana naturalmente das experiências que unem um povo.

Irmãos Grimm
Créditos: Elisabeth Jerichau-Baumann

No prefácio de sua obra, os Irmãos Grimm explicam seu interesse na cultura das pessoas comuns, do povo mesmo, e sua intenção era registrar tais contos para a posteridade: “Aonde quer que os contos ainda existam, eles continuam vivos de uma maneira que ninguém se questiona se eles são bons ou ruins, poéticos ou brutos. As pessoas os conhecem e os amam porque eles simplesmente as absorveram de uma maneira habitual. Elas gostam das histórias sem precisar de um motivo para isso.”

Salvando relíquias do passado

Assim como arqueólogos descobrem no solo pistas e segredos do passado do planeta, podemos dizer que os irmãos Grimm fizeram o mesmo com as histórias do local onde viviam, uma vez que o seu princípio era o de salvar as relíquias do passado — mesmo que elas contenham palavras em vez de ossos, ouro ou sarcófagos.

A intenção deles era mapear e capturar a essência da evolução cultural e demonstrar como a linguagem natural, aquela que surge da necessidade, dos costumes e dos rituais do dia a dia, cria laços autênticos e ajuda a moldar comunidades civilizadas. 

chapeuzinho vermelho

Esse é um dos motivos pelo qual eles chamavam sua coleção de um manual educativo, já que as histórias assinalavam os valores básicos dos povos germânicos através de narrativas. Os irmãos Grimm queriam transformar as histórias orais em um legado daquelas pessoas, não fazendo ideia de que um dia esses contos alcançariam relevância mundial.

Histórias em constante atualização

Sim, as histórias que conhecemos hoje em suas versões infantis são bem diferentes das que os Irmãos Grimm nos deixaram. Mas elas sofreram alterações nas mãos dos próprios bibliotecários, adequando-se a novas versões conhecidas por eles e até mesmo às vontades da Igreja.

Desde a primeira edição, publicada entre 1812 e 1815, até a versão final de 1857, eles receberam incontáveis versões de contos que já existiam na coleção, além de novas lendas, de desconhecidos, amigos e colegas. Com isso, eles acabaram atualizando suas próprias versões, excluindo alguns contos ou incluindo variações em notas de rodapé.

branca de neve

Quando comparadas à versão final, as histórias da primeira edição acabam soando mais curtas e escassas. A agenda cristã também acabou interferindo nos contos, deixando-os mais “família”, se é que podemos dizer isso. Por exemplo, na primeira edição do conto de Rapunzel ela tem relações com o príncipe e engravida dele. Enquanto isso, a primeira versão de “Branca de Neve” traz uma mãe com inveja da beleza da filha e encomendando seu assassinato, papel que mais tarde foi assumido por uma madrasta. 

Todas as histórias da primeira edição carregam as características de seus diferentes narradores, que acreditavam em mágica, superstições e transformações milagrosas. Hoje com o advento do método científico essas histórias soam bem fictícias e impossíveis, mas para aqueles povos muitas eram vistas como parte de sua realidade.

De onde surgiram as histórias?

Os contos da primeira edição foram coletados não de camponeses, como muitos acreditam, mas de estudiosos que os Grimm conheciam muito bem — essas pessoas, sim, souberam das histórias por pessoas sem estudo ou informantes anônimos. 

irmãos grimm

Mesmo sem conhecer pessoalmente seus informantes, os Grimm confiaram em quase todo mundo que contribuiu para sua coleção. Essa confiança mútua, tão presente nos próprios contos de fadas, é o que as torna tão especiais, conferindo a elas um tanto de humanidade, chamada pelos alemães de Menschilchkeit. Foi essa colaboração e confiança que marcou a era de ouro das histórias populares e os contos de fadas.

Por mais cruas que sejam as histórias publicadas no início do século XIX, suas lições ainda reverberam na nossa realidade, mais de dois séculos depois, porque elas apontam como podemos nos transformar e às condições em que vivemos para habitar um mundo melhor. Os Irmãos Grimm fizeram esse trabalho com a intenção de que tais contos beneficiariam as pessoas de maneiras inimagináveis. No fim das contas, é esse tipo de esperança que ainda conseguimos sentir toda vez que lemos ou assistimos a um conto de fadas.

LEIA TAMBÉN: 7 Contos pouco conhecidos dos Irmãos Grimm

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

Website

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

Princesas Dark + Brinde Exclusivo
R$ 69,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
Princesas Quase Esquecidas + Brindes Exclusivos
R$ 79,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
DarkloveLivros

Frases poderosas de Vozes Negras: A Arte e o Ofício da Escrita

Ninguém pode promover o bem-estar literário da escritora negra melhor do que ela...

Por DarkSide
DarksideFilmes

O guia de personagens de Wicked

Dorothy, Espantalho, Homem de Lata, Leão, Bruxa Má do Oeste e, claro, o próprio...

Por DarkSide
Crime SceneCuriosidades

O que é parricídio?

Vivemos um período em que estamos sendo constantemente bombardeados por histórias de...

Por DarkSide
Crime SceneCuriosidades

Quem foi Assunta “Pupetta” Maresca

O imaginário popular está cheio de figuras mafiosas famosas. Don Vito e Michael...

Por DarkSide
ArtigoCrime Scene FictionSéries

O Tony Soprano que vive em cada um de nós

ATENÇÃO: O POST CONTÉM SPOILERS DE FAMÍLIA SOPRANO Família Soprano não é uma...

Por Mateus Campos