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Gein & Dahmer: Os Filhos Distorcidos Do Wisconsin

Dois assassinos, um mesmo solo: as raízes do mal no coração do Wisconsin

17/10/2025

O estado do Wisconsin carrega a duvidosa distinção de ser o lar de dois dos assassinos mais bizarros do século passado — Ed Gein e Jeffrey Dahmer. O faz-tudo de Plainfield e o trabalhador de uma fábrica de chocolates de Milwaukee tornaram-se sinônimos da maldade perversa e descontrolada. Não há nada parecido com o que eles fizeram e é curioso o fato deles terem semeado horrores indescritíveis na mesma região do planeta, espaçados por apenas algumas centenas de quilômetros de distância.

LEIA TAMBÉM: 10 fatos pouco conhecidos sobre o caso Ed Gein

Descendentes de alemães que imigraram para a América, Gein e Dahmer viveram e cometeram seus crimes próximos um do outro, ambos tinham fascínio pelos mortos e guardavam cabeças, membros e vísceras em suas residências. Eles eram confusos em relação à própria sexualidade, cresceram com mães instáveis, fanáticas (Gein) e com problemas mentais (Dahmer) e tiveram irmãos que aparentemente não apreciavam a companhia. No caso Gein, suspeita-se que ele possa ter assassinado o seu.

Alcoólatra recluso e temperamental, Dahmer sonhava em transformar jovens homens em zumbis sexuais por meio da lobotomia. Ele se misturou na marginalizada comunidade gay de Milwaukee para matar e nunca foi notado. Da mesma maneira, Gein operou seu matadouro sem levantar suspeitas. Ele até dizia coisas sem sentido, mas ninguém o levava a sério. Numa época muito antes do termo serial killer ser cunhado, o homem de fala mansa horrorizou a nação com sua obsessão por sexo e comportamentos sem sentido: em sua casa suja e mal cuidada, havia cabeças e o corpo da última vítima, pendurado pelo calcanhar, massacrado como um animal de caça.

Ed Gein
Edward Gein, 51, deixa o Labortário Estadual Criminal em Madison, com o xerife Art Schley do Condado de Waushara e o investigador Leon Murty

Gein esfolou suas vítimas e usou as peles para confeccionar máscaras, abajures e assentos de cadeiras. E por falar em peles, o maior órgão do corpo humano é a ligação mais curiosa e sinistra entre os dois mais famosos assassinos do Wisconsin.

Tirar cuidadosamente as peles das vítimas para confeccionar máscaras faciais e outros itens de “vestuário” foi o que fizeram Gein e, depois, Dahmer. No caso Gein, havia uma coleção de máscaras feitas de peles faciais humanas retiradas da cabeça. Obviamente, os olhos não existiam, somente buracos por onde Ed podia enxergar. Tais máscaras estavam com os escalpos e algumas tinham até batom nos lábios. Era, de fato, uma máscara completa.

Já Dahmer guardou o escalpo de uma vítima chamada Anthony Sears. Ele vestia o escalpo e, como Gein, imergia em suas fantasias macabras e delirantes; Gein se imaginava uma mulher, e Jeff, segundo sua própria confissão, acreditava estar absorvendo seus amantes. Dois anos após escalpelar Sears, o rapaz de Milwaukee retirou completamente a pele de Errol Lindsey e tentou conservá-la. Ele não costurou uma roupa como Gein, mas o objetivo do esfolamento foi o mesmo: vestir a pele da vítima. No caso de Dahmer, o delírio era diferente — ao vestir a pele de Lindsey e a máscara do seu rosto, a vítima e ele seriam uma coisa só.

Julgamento Ed Gein
Tribunal lotado para a audiência de sanidade de Edward Gein. Cada cadeira disponível foi preenchida e mais de cinquenta espectadores permaneceram na sala durante a sessão. A sessão foi conduzida diante do juiz Herbert A. Bunde para determinar se Gein era mentalmente competente para enfrentar julgamento pelo homicídio de Bernice Worden.

Em Jeffrey Dahmer: Canibal Americano, eu tento formular uma explicação para esse comportamento aberrante, apontando, dentre outros, um mecanismo psíquico primitivo chamado fusão simbiótica. A fusão simbiótica é um esforço ilusório no qual o assassino em série se envolve para alcançar uma fusão ou unidade simbiótica com sua vítima. Isso pode ser feito de várias maneiras e uma compartilhada por Gein e Dahmer foi vestir-se com escalpos e peles esfoladas.

Literalmente, ambos os assassinos entraram nas peles das vítimas para conseguir uma fusão com a identidade mais íntima dela. Autores sugerem que este tipo de comportamento tem suas raízes em uma falha na simbiose psíquica entre mãe e filho na primeira infância. Assim, podemos especular que o processo simbiótico infantil de Ed e Jeff com suas mães, de alguma forma, foi corrompido ou interrompido. O pouco que sabemos sobre Augusta e Joyce, e a maneira como elas criaram e lidaram com seus meninos, corrobora essa teoria. Por essa perspectiva, a paranoica busca por companhia de Gein e Dahmer seria um reflexo da falta dela durante a primeira fase de suas vidas. No caso Gein, sua relação edipiana com a mãe fanática e hostil o levou a se distanciar da sociedade; vivendo isolado e sozinho por toda a vida, sem amigos ou namoradas, Ed só se aproximou de mulheres após a morte de Augusta, época em que, pela primeira vez, abordou o sexo oposto. Ele tinha por volta dos 45 anos.

Jeff, também, viveu um vazio solitário que o perturbou profundamente, mas o que essas duas almas distorcidas nunca poderiam imaginar é que seus crimes hediondos e horrorosos os fariam verdadeiras celebridades. De perfis sorrateiros e dissimulados, vivendo nas sombras, invisíveis, como se estivessem em uma dimensão paralela, eles foram alçados ao escrutínio público e consequente estrelato no momento em que suas vidas secretas finalmente foram expostas. Suas histórias causaram repulsa, mas não em todo mundo. Na verdade, e isso é uma particularidade muito estranha de nós, humanos, Gein e Dahmer foram celebrados e idolatrados.

Leilão fazenda Ed Gein
Vista geral dos espectadores no leilão da fazenda de Ed Gein.

A advogada de Jeff, Wendy Patrickus, ficou chocada com a quantidade de mulheres interessadas em conhecer o canibal. Dahmer chegou a comentar com o detetive Patrick Kennedy, que registrou a sua confissão, sobre como era embaraçoso para ele o número de pessoas querendo contatá-lo para uma amizade ou, quem sabe, um relacionamento amoroso. Um policial do Departamento de Polícia de Milwaukee até pediu que Dahmer autografasse um jornal em que foi capa. Ele era, de fato, uma celebridade.

Mais de trinta anos antes, na mesma Wisconsin, o tribunal de Wisconsin Rapids ficou lotado para as audiências do caso Gein, com a plateia ansiosa por um vislumbre do homem apelidado de “carniçal”. Meses depois, quando sua fazenda foi a leilão, mais de duas mil pessoas, de todo o país, compareceram. A maioria, entretanto, não estava interessada em adquirir a propriedade, maquinário ou itens diversos, mas apenas perambular e bisbilhotar o lugar onde o mais famoso assassino do país havia morado e executado sua carnificina.

Décadas depois, o Washington Post publicou uma matéria sobre o início do julgamento de Jeffrey Dahmer. Uma entrevistada, Angela Zettel, de 28 anos, chegou de madrugada para garantir o seu lugar. Com enorme entusiasmo, a mulher soltou: “Estou fascinada por tudo isso. Não há nada parecido por aqui desde Ed Gein”. Angela não era nascida quando Gein foi processado e enviado para uma instituição psiquiátrica e se sentiu presenteada pelo destino por ser contemporânea de outra raridade homicida. Sua fala tem um ar de deslumbre — ela não poderia de jeito nenhum perder o espetáculo midiático em torno de Jeff e se acotovelou com uma multidão, incluindo adolescentes que mataram aulas, para garantir uma das trinta e nove cadeiras reservadas ao público geral no julgamento.

Fazenda Ed Gein
Várias pessoas cuidosamente observaram o largo galpão na fazenda de Gein durante o leilão de sua fazenda. Pessoas dirigiram até quatrocentos quilômetros para ver a propriedade de Gein.

E os filhos distorcidos do Wisconsin jamais foram esquecidos; não pelos criminologistas e especialistas em comportamento humano, muito menos pelo sensacionalismo midiático da indústria do entretenimento, por empreendedores ansiosos em capitalizar na depravação ou pessoas comuns — Gein e Dahmer estamparam camisetas, cartões, foram transformados em bonecos e ganharam fãs-clubes. A sociedade decidiu transformá-los de civis desconhecidos a assassinos monstruosos e, depois, a personagens históricos.

jugamento Dahmer
Angela Zettel, 28, e duas adolescentes de 16 anos aguardam do lado de fora do tribunal o início do julgamento de Jeffrey Dahmer. Em suas mãos, Zettel segura o livro “The Milwaukee Murders” de Don Davis. As adolescentes Becky Ewing e Amy DiFrancesco dirigiram cem quilômetros de Beloit para ver e, quem sabe, pegar o autógrafo de Dahmer.

O fascínio em torno do caso Gein mudou os rumos do cinema de horror e, como consequência, da própria indústria cinematográfica. Dahmer veio depois e serviu como pó de fermento na massa do bolo cultural que mitifica pessoas como ele. Ele foi o homem mais famoso da América no segundo semestre de 1991 e até teve o seu julgamento televisionado, levando o colunista Claude Lewis, do Philadelphia Inquirer, a escrever que Jeff era a “última evidência do gosto sórdido que existe na sociedade americana [pela] celebração do comportamento lunático […] Deus sabe que já tivemos o suficiente disso”. Quem dera se Lewis soubesse que o ápice lascivo por assassinos em série ainda não havia sido atingido. Imagino o que ele terá pensado ao saber que, mais de trinta anos depois, uma série sobre o canibal de Milwaukee teve uma das maiores audiências da história do audiovisual. No fim das contas, não era a sociedade americana que tinha um gosto “sórdido” por violência extrema e tétrica, mas o mundo inteiro.

Camisetas Gein e Dahmer
Em 1993, Curt Christensen, de Green Bay, Wisconsin, proprietário da Surfin’ Bird Skateboard Shop, vendeu camisetas com as fotos de Ed Gein e Jeffrey Dahmer por doze dólares.

Os filhos distorcidos do Wisconsin continuam a assombrar, como atesta a nova temporada da série Monsters, da Netflix. E eles continuarão assombrando ou fascinando por muito mais tempo.

Quem apostar o contrário vai perder.

LEIA TAMBÉM: O controverso papel da mídia no caso Jeffrey Dahmer

Sobre Daniel Cruz

Daniel CruzDaniel Cruz é escritor, tradutor e autor do site OAV. Pela DarkSide® Books publicou Anjos Cruéis e Jeffrey Dahmer: Canibal Americano.

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