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Horror que vem do sangue: Conheça Tananarive Due

Descubra como sua jornada familiar impactou no seu processo de escrita

14/04/2025

Com inúmeras honras acompanhando seu nome, Tananarive Due é autora, roteirista e professora universitária, lecionando um curso de Horror Negro e Afrofuturismo chamado O Lugar Submerso: Racismo, Sobrevivência e a Estética do Horror Negro que é focado no filme Corra! de Jordan Peele na Universidade da Califórnia de Los Angeles e contando com uma carreira de três décadas de trabalhos aterrorizantes que lhe renderam o título de “decana do Horror Negro”.

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Antes mesmo de seu primeiro livro ser publicado, a escrita já fazia parte da vida de Tananarive Due. Filha mais velha de uma ativista pelos direitos civis e um advogado de direitos civis, ela estudou jornalismo e literatura, com ênfase em literatura nigeriana, de forma que a sua jornada acadêmica apenas contribuiu para sua escrita. Em conjunto com sua mãe, escreveu o livro Freedom in the Family: A Mother-Daughter Memoir of the Fight for Civil Rights em que juntas, em capítulos alternados, mãe e filha narram um hino ao movimento dos direitos civis, suas dificuldades, os soldados anônimos e as conquistas do movimento, além de uma avaliação sobre o futuro da justiça nos Estados Unidos.

Due é mais do que uma autora de horror, ela é fã de horror e tudo isso remonta à sua mãe ― a primeira fã de horror que ela conheceu. É essa paixão pelo horror que fez com que Due atuasse como produtora executiva no documentário Horror Noire: A História do Horror Negro de 2019, dirigido por Xavier Burgin e que tem como base o livro homônimo de autoria de Robin R. Means Coleman, publicado pela DarkSide® Books. No documentário, Tananarive Due fala sobre como o horror é uma maneira visceral de combater o trauma racial e, em vídeo publicado em suas redes sociais, voltou a afirmar que “Nós usamos o horror para nos curar”, mas acrescentou que “não há cura quando os monstros são reais”.

Horror Noire

Como roteirista, em colaboração com seu marido, Steven Barnes, também escreveu roteiro e prestou consultoria para séries como The Twilight Zone e Lovecraft County, além de ter escrito os episódios “The Lake” e “Fugue State” para a antologia da Shudder, que manteve o nome Horror Noire e conta com seis episódios dos quais dois são adaptações de Tananarive Due escritos por ela e seu marido. De toda forma, é claro que Due se manteve sempre fiel às tramas que vêm para desestabilizar e deixar o público desconfortável com narrativas cheias de horror.

Considerada uma autora de horror e ficção especulativa, Tananarive Due sempre deixou muito claro ― como nessa entrevista ao Los Angeles Times ― que sua mãe em especial sempre a apoiou com a escrita, mas nem todo o apoio do mundo lhe garantiu a certeza de que escrever o gênero horror era algo que seria visto como “literatura de respeito”, já que teve martelado em sua cabeça em todos os workshops de escrita criativa que frequentou que a escrita comercial ou de gênero não traz ao autor nenhum respeito. Mas certo dia decidiu apenas deixar de lado os conselhos indesejados, abandonando qualquer pretensão de tentar ser qualquer outra autora cujos trabalhos eram suas influências: Due decidiu ser ela mesma, escrever sobre assuntos que quisesse. O ponto de virada foi quando, em 1992, ainda trabalhando como jornalista para o Miami Herald, entrevistou Anne Rice, autora que na época era muito criticada por escrever sobre vampiros, mas que defendeu a própria literatura e inspirou Tananarive Due ao dizer que a literatura não é apenas um escape, mas um escape que torna o autor e o leitor em pessoas melhores, emergindo daquelas páginas se sentindo diferente.

Pela DarkSide® Books, é possível sentir o gostinho da escrita arrepiante de Tananarive Due na antologia macabra organizada por Joyce Carol Oates: Em Carne Viva. Seu conto “Dançar” narra a história de uma mulher de 40 anos, muito altruísta, que passou metade de sua vida dedicando-se a cuidar de sua avó enferma. Após a morte da idosa, a mulher sucumbe a um ataque de dança e risadas demoníacas, trazendo o corpo “em guerra consigo mesmo”, já que a carreira de bailarina da avó lhe foi negada em virtude da raça, tornando-se uma maldição que se manifesta de forma frenética e assombrosa na neta.

Em entrevista ao Black Girl Nerds, Tananarive Due explicou que é mais fácil para ela escrever histórias de horror do que finais felizes, muito por causa de sua mãe, Patricia Stephens, que a ensinou a usar o horror e a imersão em monstros fictícios para se curar dos monstros reais e extremamente violentos. O horror lhe dá um rosto para enfrentar.

E então, falando sobre medos reais, Due deixou claro que não sente medo algum de fantasmas: “[…] fantasmas são simples. Eles querem ser reconhecidos, eles querem contar a alguém quem os matou.”. O que realmente assusta a decana do horror negro? Zumbis, porque existe muita realidade nos zumbis, já que são pessoas que se assemelham aos seus entes queridos, embora eles estejam sentindo raiva, dor e o desconhecido ― como se fosse uma pessoa doente. Mas o que realmente atinge Tananarive Due são demônios. Segundo a autora, demônios não podem ser apaziguados, são um quebra-cabeças já que é quase impossível saber o que o fez mal ― às vezes a menor das coisas pode resultar em uma maldição que atravessa gerações.

em carne viva

É nessa esteira que seu livro recém publicado pela Caveirinha chega. Casa Hereditária apresenta Angela, a protagonista da obra visceral e apavorante, que na busca pela salvação de seu casamento em crise acaba enfrentando uma tragédia que espalha traumas irreparáveis. Ao retornar à casa de sua infância, Angela descobre que houve mais ocorrências na pequena cidade de Sacajawea e começa a refletir sobre o quão interligados esses eventos estão e o quanto se relacionam à entidade amedrontadora que sua avó enfrentou em 1929. Uma ameaça ancestral que faz com que Angela precise despertar seus próprios dons para confrontar o mal é o plano de fundo dessa corrida contra o tempo.

Contando com mais de 20 publicações, Tananarive Due já recebeu os prêmios Shirley Jackson, Bram Stoker, Ray Bradbury entre outros, além de ter sido nominada para o Locus em mais de uma categoria, e não tem planos de parar de produzir, sejam artigos, roteiros ou literatura de horror negro, expondo sempre os monstros medonhos que estão perto demais da realidade.

a casa hereditária

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Sobre Dayhara Martins

Avatar photoRedatora e mulher preta, fala de livros na internet há mais de 10 anos, sempre abordando a temática racial e mostrando a importância desses recortes para um olhar mais realista sobre o que nos cerca. A literatura é sempre o seu refúgio, mas também encontra em referências musicais e filmes o que a constitui como pessoa. Você pode sempre encontrá-la com um livro da caveirinha na cabeceira antes de dormir.

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