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DarksideEntrevista

Jess Lourey: “Silêncio significa perigo”

Autora de Garotas na Escuridão conversou com o DarkBlog

23/07/2025

“Por que não acreditamos em mulheres?” Essa é uma das perguntas que Jess Lourey faz no seu livro Garotas na Escuridão e que permanece tão atual mesmo décadas depois da época em que a história é ambientada. Para ela, por mais que tenhamos avançado ao ouvir as vítimas, o sistema patriarcal no qual vivemos continua permitindo a ação de perpetradores e o sofrimento das pessoas — homens inlcusos.

LEIA TAMBÉM: Jess Lourey e o processo sombrio por trás de Garotas na Escuridão

A autora do projeto especial E.L.A.S passou pelo Brasil recentemente durante a Bienal do Livro Rio e conversou com o DarkBlog sobre os crimes reais que inspiraram a obra, seu processo criativo e a importância de histórias deste tipo escritas por mulheres. Confira a entrevista:

DarkBlog: Garotas na Escuridão começa com um voto de segredo entre amigas em uma cidade repleta de segredos e ameaças. O que silêncio significa para você?

Jess Lourey: Eu escrevi esse livro porque eu realmente cresci nessa cidade, onde havia três assassinos em série em atividade, e silêncio significava perigo, porque não estávamos falando do perigo, então ninguém realmente sabia o quão perigoso era ou quão forte nós éramos. Para mim, silêncio significa perigo. Nós precisamos falar quando estamos nos sentindo ameaçados, precisamos ajudar outras pessoas quando elas dizem que se sentem ameaçadas. Ficar em silêncio só ajuda o vilão, essa é a única pessoa que se beneficia disso. 

Jess Lourey

D: A história se passa nos anos 1970, mas os medos, a pressão social e a violência de gênero ainda são incrivelmente relevantes atualmente. No seu ponto de vista, o que mudou e o que continua igual àquela época?

JL: O sistema continua o mesmo. O patriarcado que fere a todos, inclusive homens, continua o mesmo. Mas eu acho que mais pessoas estão falando sobre isso, mais pessoas estão se dando conta que não são elas que precisam ficar envergonhadas com o que foi feito a elas, ou com o que elas viram. A culpa não é delas, é do perpetrador, e isso está mudando. Também acho que quanto mais mulheres escritoras puderem contar essas histórias e normalizar os perigos de ser uma mulher, mais seguras estaremos.

D: A cidade no livro quase se torna um personagem por si só. Como você conseguiu construir uma atmosfera tão vívida? 

JL: Sim, é baseada numa cidade real que fica bem no centro de Minnesota, que fica bem no centro dos Estados Unidos. Então o lugar é meio que uma soma de tudo o que há de bom e de ruim no centro-oeste do país. É uma cidade muito católica e que esconde muitos segredos. Se você ler o livro, saiba que os túneis também são reais, há mesmo túneis subterrâneos que, enquanto eu fazia a pesquisa pro livro, ninguém queria falar sobre. As pessoas só me diziam “não sei, não sei”, até mesmo quando fui ao museu da cidade. Foi só quando eu lancei o meu livro em 2022 que as pessoas vinham para as sessões de autógrafo e me diziam que elas tinham uma causa com uma porta que ligava aos túneis. Uma delas até me convidou para ir à casa dela e ver o túnel, mas fiquei com muito medo e acabei não indo. Mas é uma metáfora perfeita para toda a escuridão enterrada, enquanto na superfície todo mundo vai pra igreja e finge ser uma pessoa boa. Então sim, é totalmente inspirada em Saint Cloud.

D: Garotas na Escuridão é inspirado por crimes reais. Como foi o processo de transformar verdades tão sombrias em ficção?

JL: Tanto na ficção como na realidade, quando encontramos a nossa comunidade podemos sobreviver a qualquer coisa. Fiz toda a pesquisa, e foi uma pesquisa bem tenebrosa porque envolve crianças, o que já é bem difícil para qualquer um, mas como mãe, acho que é um pouco mais difícil ler sobre crianças em perigo, mas eu sempre achei que era uma história importante para ser contada, ela é importante. Nunca pegaram o assassino das primeiras duas meninas em Saint Cloud, então é importante que essa história permaneça viva. Eu fiz toda a pesquisa e, em vez de focar a história no criminoso, eu foco nas garotas e acompanho a história delas conforme acontece. Mas assim que o livro é lançado e você encontra os seus leitores na sua comunidade, você recebe todo o apoio de que precisa.

Jess Lourey

D: A música tem um papel sutil, porém importante no livro. Conta pra gente  quais foram algumas das suas referências musicais enquanto estava escrevendo.

JL: É engraçado, porque quando eu escrevo eu só ouço musicistas mulheres. Tenho muitos homens maravilhosos na minha vida, mas quando estou no modo criativo, seja ouvindo música, escrevendo ou lendo, eu ouço mulheres. Também ouço bastante jazz quando estou escrevendo. É curioso, quando eu estava lendo a edição em português do livro havia várias notas de rodapé, com várias explicações sobre programas de TV e músicas daquela época. É curioso, não é só porque a história se passa nos EUA, são também os anos 1970, que muitas pessoas não conhecem. Achei muito legal essa pesquisa.

D: Se os leitores pudessem terminar Garotas na Escuridão atormentadas por apenas uma pergunta. Qual pergunta você gostaria que fosse?

JL: “Por que não acreditamos nas mulheres?” Só isso.

D: Essa é a sua primeira visita ao Brasil. Como está sendo a experiência?

JL: Eu amo viajar e essa é a minha primeira vez na América do Sul. Quando saí do avião, deixei minha mala no hotel e um motorista veio me buscar para rodar pela cidade por sete horas. Foi maravilhoso, me explicaram a comida e o máximo que você consegue aprender em sete horas. As pessoas foram todas maravilhosas. Eu não tinha nenhuma ideia pré-concebida sobre o Rio de Janeiro a não ser pelo carnaval que eu já tinha alguma familiaridade. Eu vou voltar, é lindo.

LEIA TAMBÉM: A versatilidade literária de Jess Lourey

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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