Darkside • Entrevista

Jessica Roux: “A natureza é uma fonte infinita de inspiração”

Autora de Floriografia fala com o DarkBlog sobre natureza, magia e seu processo artístico

01/07/2025

Para Jessica Roux, a magia está à nossa volta. Basta olharmos com atenção. A autora já se tornou uma das preferidas dos DarkSiders com obras como Floriografia: A Linguagem Secreta das Flores, Ornitografia: A Linguagem Secreta das Aves, Oráculo dos Guardiões da Floresta, além das ilustrações dos livros A Roda do Ano e História Natural das Fadas.

Em sua passagem pelo Brasil durante a Bienal do livro, Jessica conversou ao DarkBlog sobre suas inspirações, a pesquisa para suas obras e, é claro, a natureza que ela reproduz com tanta delicadeza e atenção em suas obras. Confira esta entrevista mágica:

DarkBlog: Essa é a sua primeira vinda ao Brasil. Como está sendo a experiência?

Jessica Roux: Muito divertida. Tudo é muito lindo aqui. Adoro ver o quanto de natureza existe na cidade e ver tantas plantas diferentes, e ver o quão diferente elas são daquelas de onde eu venho. Tem sido muito divertido e empolgante.

D: Além de ser inspirada pela natureza, você traz muita sensibilidade na sua arte, além de história e significado. O que você vê quando olha para uma planta que a maioria das pessoas não percebe?

JR: Eu sempre olho a textura da planta e como ela é sentida ao toque. Eu gosto muito de tocar as plantas. Até em algumas vezes em que eu fui a centros ou jardins botânicos eu me meti em encrenca por tocar nas plantas, mas eu preciso saber como é tocá-las, pois isso me ajuda a perceber os detalhes e captar a textura. Também observo-as bem de perto e tento entender como elas crescem.

D: Mas você sabe que tocar em algumas plantas pode ser perigoso, não é? Você já foi a algum jardim venenoso?

JR: Sim! Mas essas plantas eu não toco (risos).

D: Melhor garantir mesmo. Em Floriografia você revela a linguagem secreta das flores através de ilustrações deslumbrantes. Quais flores você escolheria para representar a sua experiência no Brasil?

JR: Que pergunta legal! A primeira que eu consigo pensar é a flor protea, que simboliza mudança. E eu gosto disso porque você de certo modo se transforma quando vai a um novo lugar. Você precisa estar aberto à mudança e a essa transformação para vivenciar o novo com a mente aberta.

D: Você equilibra elementos reais e fantásticos com uma graciosidade notável. De onde surgiu o seu fascínio por temas como bruxaria, mitologia e o folclore em torno das florestas?

JR: Acho que desde quando eu era pequena. Eu simplesmente lia muitos livros sobre essas coisas, eu as achava tão divertidas e interessantes, e apenas me apaixonei por esses assuntos. Sinto que muito da bruxaria está em se conectar à natureza e realmente conhecer plantas e animais e coisas assim com mais profundidade. Sempre me senti atraída por isso, acho que é algo bem legal.

D: Como o seu processo criativo se desenvolve desde a sua pesquisa botânica até a arte final? Você tem algum ritual pessoal?

JR: Eu sempre começo com a pesquisa, que é uma das minhas partes preferidas do processo. Adoro aprender coisas novas porque existem tantas plantas e animais fascinantes por aí. A natureza é uma fonte infinita de inspiração, então faço muita pesquisa no início. A partir de então, eu escrevo um pouco sobre e começo com alguns rascunhos, que são apenas em preto e branco, bem soltos, sem nenhuma cor ou sombra. A partir daí, mando para a minha editora e normalmente recebo algum feedback se eles querem que algo mude, mas na maioria das vezes é bem tranquilo. É bom quando você não precisa mudar muita coisa. Desenho com lápis de grafite com base no rascunho, e é ali que consigo captar a textura, os detalhes e um pouco do sombreamento. Então, eu trabalho metade no método tradicional e metade digitalmente, ou seja, eu escaneio o desenho e pinto digitalmente por debaixo do lápis no Photoshop. É assim que consigo manter a textura e os detalhes do lápis, mas adicionando todas as cores e mais detalhes de sombreamento, de certo modo.

D: O seu Oráculo dos Guardiões da Floresta representa animais e outros símbolos da natureza com significados bem profundos. Como você escolheu quais seres entrariam para o oráculo e existe alguma carta que possui um significado especial para você?

JR: Escolhi focar nos animais que eu via nas florestas próximas do lugar onde eu cresci, ou seja, raposas e alguns pássaros que eu costumava ver, para incorporar elementos do meu próprio quintal, bem como plantas e coisas que eu cresci vendo. Quanto à carta, eu realmente gosto da carta “O Cão e a Pera”, é uma das minhas favoritas. Acho que a composição do cachorro e das peras em torno dele fluem de uma maneira bem bacana. Também foi uma das minhas peças preferidas quando terminei e pensei “ok, essa está bem legal”.

D: Em Ornitografia você presta uma homenagem à beleza e à simbologia das aves. O que te inspirou a explorar o mundo dos pássaros com tanta profundidade?

JR: Eu quis fazer um livro que funcionasse como uma espécie de série com Floriografia, e pássaros me pareceram uma sequência natural, porque existe tanta história, mitologia e folclore em torno deles. Há tantas culturas diferentes que usaram o simbolismo das aves. Além de ser algo interessante, também foi bem desafiador, porque não existe uma linguagem vitoriana das aves, como existe das flores. Então Ornitografia envolveu muito mais pesquisa e realmente mergulhar nesse universo. Mas ainda assim foi muito divertido montar tudo. Acho que a minha história preferida do livro é a do pelicano, porque é bem estranha e interessante. E eu tenho uma preferência pelos estranhos.

D: Existe um pássaro que você acredita representar o seu espírito?

JR: É tão difícil, porque eu amo todos os pássaros. Mas eu realmente gosto de corujas, embora elas nem sempre tenham os melhores significados. Então talvez a coruja-de-Atena, que está sempre supervisionando e é bem inteligente.

D: Como tem sido a sua ligação com os leitores brasileiros?

JR: Todo mundo tem sido tão gentil, o que é legal porque muitos dos leitores nos Estados Unidos podem ser bem críticos. Por mais que eles estejam empolgados em te ver, às vezes recebo comentários como “por que você não vem pra minha cidade?”. Mas quando eu anunciei que estava vindo para o Brasil todo mundo estava tão empolgado, e deu tanto apoio, e todo mundo tem sido tão positivo. É revigorante ter um pouco menos de críticas e um pouco mais de alegria e empolgação.

D: Você acredita que ainda exista espaço para a magia no mundo moderno? Como conseguimos manter esse senso de encanto vivo no nosso dia a dia?

JR: Sem dúvidas! Você só precisa prestar mais atenção a tudo. Quando você vai a um jardim botânico, ou quando sai para caminhar e vê uma árvore, uma planta ou um animal, apenas olhe com mais atenção, observe, pois existe magia em tudo ao nosso redor, você só precisa prestar atenção. O nosso mundo pode ser muito moderno, e muito corrido, então dar uma desacelerada e tirar um tempo para apenas apreciar já é algo muito especial.