Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


DarksideEntrevista

Julie Berry: “O amor deve ser aquilo que nos aproxima”

Confira a entrevista da autora de Guerra, Adorável Guerra ao DarkBlog

29/07/2025

Mesmo em tempos desafiadores de conflitos, guerras e polarizações, Julie Berry ainda acredita no amor e na força de histórias com esse tema. Em sua passagem pelo Brasil na última Bienal do Livro, a autora de Guerra, Adorável Guerra conversou com o DarkBlog em uma entrevista apaixonante.

LEIA TAMBÉM: As várias facetas de Julie Berry

Dos desafios de misturar mitologia com conflitos históricos até o cotidiano de manter uma livraria própria, Julie fala com muita responsabilidade e carinho pelo universo dos livros e da escrita. Ela ainda nos contou o que mais a surpreendeu sobre o Brasil e até ventilou a possibilidade de escrever algo ambientado no nosso país. Vem entender melhor essa história:

DarkBlog: Julie, o que te inspirou a misturar mitologia grega com um romance ambientado em uma Guerra Mundial?

Julie Berry: Eu queria escrever uma história de amor ambientada na Primeira Guerra Mundial e tentei diferentes começos, mas nenhum deles funcionou para mim. Então, me dei conta de que o problema estava no ponto de vista. Eu queria que a história tivesse a perspectiva mais ampla da história — quando você pensa em filmes de guerra, a câmera está afastada e você consegue ver o campo de batalha com milhões de soldados. Mas quando você pensa numa história de amor, a câmera é posicionada mais próxima. Você consegue ver a pele do casal, a respiração deles, porque essa é a perspectiva que queremos para uma história de amor, próxima e íntima. E eu me dei conta de que eu não tinha um ponto de vista que me permitiria fazer os dois, então precisei de um narrador fora do convencional, precisava de um jeito inusitado de contar a história porque os meios tradicionais não iriam funcionar. Então pensei “e se a personificação do amor fosse a minha narradora?”, achei que aquilo seria interessante. Mas então percebi que não era essa a voz que você gostaria que narrasse uma cena de guerra, daí pensei “talvez eu precise que o amor e a guerra sejam os meus narradores”. Assim que pensei nisso, me dei conta de que já temos a personificação do amor e da guerra, e que eles já são amantes secretos. E foi assim que comecei a escrever a primeira cena.

Julie Berry

D: O que torna Guerra, Adorável Guerra relevante nos dias atuais, em um mundo ainda tão marcado por conflitos?

JB: Eu gostaria que fosse menos relevante. Sinceramente, eu gostaria que nós tivéssemos encontrado um jeito, com todos os nossos outros avanços do último século, de deixar as guerras para trás. Mas não encontramos. Mas acredito que o que torna o livro ainda mais relevante é que, embora o mundo esteja cheio de calamidades e problemas, corações jovens ainda se apaixonam. Eu escrevi esse livro em parte porque os meus avós foram jovens que se apaixonaram durante a Primeira Guerra. Quando conheci as minhas avós elas estavam na casa dos 80 anos, então, para uma criança, elas eram senhoras idosas. Mas conforme cresci, me dei conta de que elas eram jovens e que se apaixonaram naquela época, e me perguntei como seria estar no lugar delas e como seria se apaixonar em um tempo quando você não sabia se o seu namorado soldado iria voltar para casa. Foi assim que escrevi. 

D: Você acredita que somos algum tipo de objeto com o qual os deuses brincam?

JB: Não, não acredito nisso. Não acredito que somos objetos no sentido de que os deuses não se importam conosco, ou nos manipulam por diversão própria. Acredito que se importam e cuidam de nós, mas também acredito que isso inclua muito sofrimento, que talvez aconteça para o nosso próprio aprendizado ou que sirva para que possamos praticar a compaixão uns com os outros.

D: Qual dos seus livros mais te desafiou até hoje e por quê?

JB: Eu quero que o processo de escrever um livro me desafie. Eu quero que ele me leve ao limite. É desse jeito que eu sei que escrevi algo que as pessoas podem se beneficiar daquilo. Guerra, Adorável Guerra sem dúvida foi desafiador porque a proporção da guerra é tão grande e isso envolve tantas mortes, e eu tive dificuldade em saber se era bom ou correto eu escrever um livro em que todos os quatro jovens retornaram para casa, uma vez que muitas pessoas não retornaram. Mas eu queria que os quatro personagens sobrevivessem. Então, Guerra, Adorável Guerra realmente me desafiou neste sentido. Eu escrevi um novo livro chamado If Looks Could Kill, novamente com mitologia e história. Aqui temos Medusa versus Jack, o Estripador, o serial killer da Londres de 1888. Misturar um monstro mitológico com um monstro humano bem real foi uma jornada interessante, mas foi bem difícil confrontar a violência real causada por Jack, o Estripador, a brutalidade real provocada por ele. Me questionei se seria ok colocar isso em uma história, considerando que a verdade é tão horrível. Mas senti que precisamos falar sobre essas coisas horríveis e fiquei bem satisfeita com o resultado. Mas foi bem difícil de escrever.

Julie Berry

D: Além de escrever você também tem sua própria livraria, a Author’s Note. Como é a experiência de ter sua própria loja?

JB: Eu amo a minha livraria. Amo a Author’s Note. Sem dúvida dá bastante trabalho, mais do que eu esperava. Acho que as pessoas têm uma visão bem romantizada do que seria ter sua própria livraria, elas veem filmes onde tudo parece muito legal, e charmoso, e romântico, e aconchegante… e não se dão conta de todo o trabalho de transportar, estocar, receber, catalogar e tudo mais. Mas eu realmente amo criar esse espaço em que as pessoas se reúnem por causa dos livros, também temos clubes de leitura. É simplesmente uma felicidade ver as pessoas lendo mais e se conectando mais com outros leitores por causa da minha loja. Gostaria de poder abrir mais vinte livrarias como ela. 

D: Como você se sentiu quando soube que Guerra, Adorável Guerra seria publicado no Brasil?

JB: Ah, fiquei emocionada. Fiquei realmente encantada, mas acho que ainda não fazia ideia do que isso significava em termos da repercussão que ele teria no Brasil. Eu me apaixonei pelo Brasil e pelo carinho e bondade que senti aqui com as pessoas e com os fãs da DarkSide Books. Essa viagem me abriu os olhos das melhores maneiras possíveis, e quero muito que a gente possa continuar compartilhando livros juntos.

D: Mesmo tendo diferenças culturais, o seu livro é um sucesso no Brasil, como você acabou de mencionar. Quais aspectos de Guerra, Adorável Guerra o tornam uma obra universal?

JB: Acho que o amor. O amor deve ser aquilo que nos aproxima. Acredito que agora, mais do que nunca, quando vivemos em um mundo tão dividido, com tantos conflitos, tanta raiva, tanta violência, devemos nos agarrar ao amor. Devemos nos agarrar a cada relação amorosa que temos, seja com as nossas famílias, nossos amigos, nossos trabalhos, nossas igrejas, nossas vizinhanças, nossas comunidades. Tem tantas forças que querem nos dividir, e precisamos nos agarrar com mais força ao amor que nos aproxima. Porque é esse amor que vai, de alguma maneira, fazer as pessoas dizerem que precisamos ser melhores do que continuar essa violência. Então acredito que o amor seja o tema universal, e também se apoiar uns nos outros, e perseverar diante de tempos. Acho que isso é o que o livro oferece, mesmo em um lugar que seja diferente de onde eu cresci, mas ainda assim nem é tão diferente na verdade.

Julie Berry

D: O que mais chamou a sua atenção durante a visita ao Brasil?

JB: Vimos o Cristo Redentor, é claro. Sei que todo muito que vem para o Rio vai visitá-lo e é uma grande atração turística, mas para mim ele significou muito mais. Eu amei estar lá, amei o que ele representa e amei o sentimento de acolhimento que ele representa. Eu não sabia muito sobre o Rio, não sabia que era uma cidade tão linda com uma paisagem tão espetacular. Eu sabia um pouco sobre a cultura brasileira, mas acho que não teria como saber de verdade até vir aqui e ver como o país é carinhoso, vibrante e colorido. Estou impressionada com a Bienal e ver tanto entusiasmo por livros. A impressão que eu tenho é de que o Brasil tem uma cultura que abraça o seu entusiasmo com todo o coração, e isso é lindo.

D: Falando em Brasil: depois da sua experiência por aqui, você cogita ambientar alguma história no Brasil algum dia?

JB: Eu penso nisso toda vez que conheço algum lugar novo. Eu precisaria aprender mais sobre o idioma, a história e a cultura. Adoraria ter essa oportunidade, seria fascinante. Sempre sinto que, se eu vou retratar uma cultura, quero fazer isso da maneira mais responsável e atenciosa possível. Não quero simplesmente procurar no Google ou me apoiar em estereótipos ou em desinformação. Levaria algum tempo para eu aprender tudo isso, mas eu adoraria ter essa experiência. Minha cabeça está a mil.

LEIA TAMBÉM: As camadas da guerra em livros da DarkSide

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

Website

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

Guerra, Adorável Guerra + Brinde Exclusivo
R$ 84,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
FilmesNovidades

Veja o novo teaser de Bambi: O Acerto de Contas

O clássico personagem infantil da floresta está prestes a ganhar uma versão...

Por DarkSide
CuriosidadesFilmes

Pânico: Suas referências e seu impacto

Pânico é um filme que celebra o cinema ao discutir a essência do horror. Desde sua...

Por Rodrigo Kurtz
CuriosidadesFilmesMacabra

A Hora do Espanto comemora 40 anos

A adolescência pode ser um período bastante desafiador na vida de qualquer jovem. Mas...

Por DarkSide
Crime SceneFilmes

O que sabemos sobre a adaptação de A Casa da Escuridão Eterna

Publicado no primeiro semestre de 2025 pela DarkSide® Books, A Casa da Escuridão...

Por DarkSide
EventosGraphic Novel

Charles Burns vence o Eisner Awards 2025 na categoria Melhor Roteirista e Artista

O consagrado quadrinista Charles Burns venceu o Eisner Awards 2025, na categoria Melhor...

Por DarkSide