Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


ArtigoCrime Scene

O dia em que o Ed Gein chamou Freud de louco

Saiba detalhes desta entrevista única

22/09/2025

Poucos homens no mundo tiveram a oportunidade de conversar com Ed Gein. Um deles foi Errol Morris, que, em 2003, foi listado pelo The Guardian como o sétimo melhor diretor de cinema da história. Diferentemente de outros assassinos em série norte-americanos famosos, Ed Gein, o assassino que inspirou filmes sanguinários — de Psicose a O Massacre da Serra Elétrica e O Silêncio dos Inocentes — não agraciou a mídia com uma entrevista bombástica. Não há filmagem ou palavras ditas para algum jornal, ou revista, nada. Para os pesquisadores, estudiosos e entusiastas do true crime de plantão, isso sempre foi uma ducha de água fria, afinal, quem não gostaria de ouvir uma das mentes mais perturbadas que já existiu? O que ele teria a dizer?

LEIA TAMBÉM: 10 fatos pouco conhecidos sobre o caso Ed Gein

Na outra ponta, a equipe de psiquiatria do Hospital Estadual Central para Criminosos Insanos de Waupun, Wisconsin — local para onde Gein foi mandado após seus crimes — deve ter se deliciado. Em toda história da humanidade, foram poucos os especialistas que tiveram um “espécime” como ele em seu local de trabalho para tratamento, investigação e observação.

Mas eis que, em meados dos anos 1970, um homem teve a oportunidade de se sentar frente a frente com o assassino em série que esfolava corpos para depois costurar suas peles e fabricar peças de vestuário feminino — Gein, um fazendeiro do vilarejo de Plainfield, foi preso em novembro de 1957 e acusado da morte de uma mulher chamada Bernice Worden. Em sua fazenda, a polícia encontrou dezenas de pedaços de corpos; órgãos na cozinha; cabeças pregadas na parede; crânios e ossos servindo de enfeite; roupas e máscaras confeccionadas a partir de pele humana, dentre outras coisas macabras.

ed gein

Pouca gente sabe, mas um dos mais fascinantes projetos do diretor e documentarista Errol Morris foi um filme sobre a vida de Ed Gein. Em uma entrevista dada em 2014 para o jornal inglês The Independent, Morris relembrou o assustador encontro que teve com o bizarro Gein. O diretor o entrevistou três vezes como parte da construção do seu projeto para o filme sobre o homicida tresloucado.

“Ed Gein, até onde sabemos, matou só duas pessoas. Ele ficou famoso como um taxidermista humano, ladrão de túmulos, etc. Ele era absolutamente agradável, um pouco engraçado, perverso”, disse Morris ao The Independent.

Como é sabido, a mais famosa obra de horror cinematográfico, Psicose, foi inspirada no caso Gein. O filme foi construído a partir do livro de mesmo nome de Robert Bloch que, na época dos crimes de Gein, morava há algumas dezenas de quilômetros de Plainfield. Lançado pouco mais de dois anos e meio após Ed ser preso, o filme de Alfred Hitchcock foi um divisor de águas no horror moderno, servindo de inspiração para outras grandes obras do gênero nas décadas seguintes. Teria Gein assistido ao produto máximo de sua própria loucura? “Eu não acho que ele tenha assistido Psicose, não. Ele não via filmes. Ele estava em um hospital mental de segurança máxima para criminosos insanos. Era como uma piada. Quando, pela primeira vez, eu o vi num lugar chamado Waupun, no Wisconsin, havia um aviso na frente, parecido com os que vemos nos filmes de horror, dizendo: ‘Hospital do Estado Central para Criminosos Insanos’”, disse Morris ao jornal.

 Errol Morris

Mas, mais interessante e surpreendente, foi uma discussão que o documentarista teve com Ed a respeito de Sigmund Freud. Parece estranho: um assassino em série insano falando sobre o pai da psicanálise? Nada mais antagônico, não? Segundo Morris, Gein, pausadamente, explicou a ele sobre como o psicanalista era louco: “Ed tinha uma fala mansa, realmente muito doce, simpático. Ele disse, ‘Aquele Freud, sabe, ele é realmente louco. [Por exemplo], Freud poderia estar andando por uma rua forrada com edifícios e varandas. Você e eu estaríamos andando na mesma rua e, ao olharmos para cima, veríamos as varandas. Freud? Ele andaria por lá e você sabe o que ele enxergaria? Ele enxergaria os peitos de uma mulher’.”.

Certo Ed, isso foi uma provocação, a provocação de um louco, sim? Não. O “você e eu” aqui é a chave. Gein considerava-se somente um cara normal, como qualquer outro na face da terra. É interessante sua fala ao chamar Freud de louco. Mesmo que o psicanalista fosse um doido varrido, o ponto é: Quem é Ed Gein para chamar alguém de louco? Isso mostra que ele realmente vivia em um mundo à parte, completamente absorto nas fronteiras de sua mente insana, alimentado por fantasias perversas e macabras tão comuns aos assassinos em série. E por falar em fantasias, Freud, certa vez, disse que a diferença entre os homens normais e os criminosos é que estes últimos colocam em prática seus desejos mais obscuros, enquanto os primeiros somente se limitam a sonhar aquilo.

Freud cunhou o termo “princípio da realidade”, no qual um indivíduo normal entende que, por mais que ele imagine estar fazendo amor com uma atriz ou ator famoso, tal sonho erótico nunca se tornará realidade. Assassinos em série como Ed Gein, por outro lado, têm um vínculo frágil com a realidade. Eles vivem nas próprias cabeças, trancados em um mundo de sonhos bizarros e delirantes. Como bem sabemos, Ed era um homem isolado do convívio social. Morando numa fazenda isolada na pequena comunidade de Plainfield, ele podia executar suas necessidades sórdidas sem se preocupar com olhares e julgamentos alheios. Sem constrangimento por escrúpulos de consciência e dotado de uma personalidade infantil, Gein cruzou a linha que separa a imaginação da realidade, pondo em prática todas suas horrorosas fantasias, as quais ele considerava normais.

Ed Gein

“Ele não entende a cadeia de eventos que o trouxe até aqui. Ele não percebe a magnitude da situação em que esteve envolvido. Ele parece pensar que tudo isso deve ser esquecido para assim poder tomar seu lugar na sociedade. Ele é um homem estranho e parece ter sido um homem estranho por muitos anos”, disse o Dr. Edward Schubert, diretor do hospital psiquiátrico de Waupun, para um jornal em 1975.

Quanto ao projeto Gein, Errol Morris foi obrigado a engavetá-lo quando Schubert o proibiu de continuar visitando o hospital. “Talvez eu tenha feito muitas perguntas horripilantes”, comentou Morris ao The Independent. Na época da entrevista, ele disse existir a possibilidade de, em algum momento, desengavetar o projeto Gein, mas quem sabe um livro ou artigo relatando as conversas com Ed, Morris? Definitivamente, seria um documento único que contribuiria para a compreensão moderna da mente de Ed Gein.

LEIA TAMBÉM: Como a cultura pop se alimentou dos crimes de Ed Gein

Sobre Daniel Cruz

Daniel CruzDaniel Cruz é escritor, tradutor e autor do site OAV. Pela DarkSide® Books publicou Anjos Cruéis e Jeffrey Dahmer: Canibal Americano.

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

Ed Gein + Brinde Exclusivo
R$ 84,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
Anjos Cruéis + Brinde Exclusivo
R$ 109,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
FilmesLivros

Nem bruxas, nem princesas

A Bruxa Má do Oeste é, sem dúvida alguma, uma das antagonistas mais famosas da...

Por DarkSide
Crime SceneCuriosidades

Parasite Eve poderia acontecer de verdade?

Não é exagero afirmar que as mitocôndrias determinam a vida e a morte das nossas...

Por DarkSide
FilmesListas

Protagonistas icônicas do terror

Mulheres sempre estiveram presentes em filmes de terror. Seja trabalhando em frente ou...

Por DarkSide
FilmesMacabra

Os monstros também amam

Monstros são uma parte fundamental do terror. Desde o seu surgimento, o gênero os...

Por Gabriela Müller Larocca
CuriosidadesFilmesListas

10 curiosidades sobre Pânico

Em 1996, um telefonema anônimo mudou para sempre a história dos filmes de terror. A...

Por DarkSide