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O mistério real que inspirou Árvore de Ossos

Quem colocou Bella dentro do olmo?

12/03/2025

Leitoras e leitores do selo Crime Scene já estão cansados de saber o quanto a realidade pode ser tão impressionante quanto a mais criativa das ficções. Não é à toa que ela vive servindo de inspiração para thrillers de tirar o fôlego, como é o caso de Árvore de Ossos, de Tana French.

LEIA TAMBÉM: O que Árvore de Ossos tem a nos dizer sobre privilégio

O lançamento da coleção especial E.L.A.S — Especialistas Literárias na Arte do Suspense, do selo Crime Scene Fiction, segue Toby, um jovem que sempre teve uma vida privilegiada, até ser atacado violentamente em sua própria casa. Recuperando-se em meio ao caos físico e mental, ele se muda para a casa de sua família, onde um crânio humano é encontrado sob um olmo antigo, forçando-o a confrontar seu passado e a verdade que talvez preferisse esquecer.

Uma das principais motivações da autora para escrever Árvore de Ossos era explorar a relação de um indivíduo com privilégio, sorte e a sua capacidade de sentir empatia por outros. Porém, a parte que envolve a descoberta de um crânio sob uma árvore foi inspirada numa história real para lá de misteriosa.

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Um mistério que tem mais de 80 anos

Em abril de 1943, quatro adolescentes invadiram o terreno de um aristocrata na região de Birmingham, na Inglaterra. Os garotos entraram na propriedade de Hagley em Worcestershire para caçar pássaros e roubar seus ninhos e levar os ovos como alimento — vale lembrar que os britânicos estavam lidando com as dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial nesta época. 

Quando Bob Farmer escalou os galhos assustadores de um olmo, ele percebeu que o que julgava ser um ovo era na verdade a cabeça de uma mulher. Assustados e com medo de alguma retaliação pela invasão e a possibilidade de terem descoberto um possível crime, os jovens fizeram um pacto de silêncio sobre o ocorrido. Mas o mais jovem deles não conseguiu manter o segredo por muito tempo e contou ao seu pai sobre o que eles descobriram em Hagley Woods. 

A polícia foi ao local e encontrou, no tronco oco de uma grande árvore, um esqueleto de mulher que estava escondido ali. Não havia muitas pistas para que as autoridades pudessem prosseguir com as investigações, a não ser por alguns retalhos da roupa da mulher e um anel de noivado de ouro falso.

Crédito: Birmingham Daily Gazette

Porém, o mistério ganhou contornos estranhos quando uma frase foi escrita em um muro de Birmingham no meio da noite, dizendo “quem colocou Bella no olmo?”. Desta maneira, o caso se tornou um dos principais episódios sem solução da Grã-Bretanha — com mensagens parecidas surgindo em diversos pontos de Birmingham até hoje.

Alguns habitantes acreditam que a morte esteja ligada a algum ritual de bruxaria, enquanto outros insistem que a mulher era uma espiã alemã que foi assassinada quando sua missão foi descoberta. As teorias alimentam o que já virou uma espécie de lenda local, mas a pergunta permanece: afinal, quem era Bella e quem a matou?

O mistério da mulher encontrada na árvore

O biólogo forense que examinou o corpo da mulher em 1943 permaneceu assombrado pelo mistério pelo resto de sua vida. Em 2014, aos 101 anos de idade, o dr. John Lund deu uma entrevista à BBC e falou sobre as escassas pistas deixadas pelo assassino: “Era um lugar perfeito para esconder um corpo”, disse sobre a árvore localizada em uma propriedade isolada.

Crédito: Wikimedia Commons

Em virtude do estado dos restos mortais, as autoridades concluíram que a mulher provavelmente havia morrido cerca de dezoito meses antes de ser descoberta. O dr. Lund disse que ele e seus colegas acreditam que ela tenha sido colocada dentro da árvore logo depois da morte, porque o rigor mortis teria impossibilitado que ela fosse encaixada em um local tão improvável.

Um pedaço de tafetá cor pêssego rasgado de sua saia foi encontrado na boca de Bella, sugerindo que ela tenha sufocado. Isso alimentou a teoria de que ela tenha sido assassinada, mas há algum debate sobre esta conclusão: os quatro adolescentes que descobriram o corpo disseram que tinham amarrado pano em um graveto e encaixaram dentro da boca dela quando colocaram o crânio de volta ao lugar.

Nem ao menos a arcada dentária da mulher ajudou a identificar a identidade de Bella. Os recursos para a investigação estavam escassos por causa da guerra, e os métodos forenses disponíveis para os policiais eram bem rudimentares. Por mais que a descrição do corpo da vítima fosse compatível com milhares de pessoas desaparecidas na região, a polícia não conseguiu encontrar uma equivalência.

Testes de DNA, que evoluíram muito desde aquela época, não são mais uma opção para investigar quem era Bella, segundo o próprio dr. Lund: “Entregamos o corpo para a universidade e os ossos sumiram misteriosamente”. A polícia também confirmou que não tem mais o corpo e nenhum documento que possa indicar onde o corpo foi parar.

Pistas falsas e mensagens ameaçadoras

Apesar das circunstâncias estranhas que cercam a morte de Bella, o caso logo foi esquecido pela comunidade de Hagley, que estava muito mais preocupada com a Guerra. Mas alguém queria que a história não fosse esquecida: seis meses após a descoberta do corpo, uma mensagem perguntando quem teria colocado Bella no olmo apareceu em um prédio abandonado perto da propriedade onde ela foi encontrada.

Crédito: Polícia de West Mercia disponível nos arquivos de Worcestershire

Na verdade, ali estava a primeira e uma das únicas pistas sobre o caso: o nome da mulher era Bella. Rumores se espalharam sobre a autoria da mensagem, levantando a possibilidade de ter sido um ex-amante ou até mesmo seu assassino. Porém, a coisa não avançou muito a partir daí.

Dez anos depois, o jornalista local Wilfred Byford-Jones escreveu, sob o pseudônimo de Quaestor, uma série de artigos sensacionalistas sobre a tragédia na floresta. Com a Guerra no passado, o interesse em torno do caso se reacendeu e ganhou uma nova pista.

Uma mulher chamada Anna enviou ao jornal local uma carta sugerindo que “a única pessoa que poderia dar a resposta estava agora além da jurisdição das cortes terrenas”. Ela acrescentou que a única pista que poderia dar era que a pessoa responsável pelo crime havia morrido em 1942 e que a vítima era uma holandesa que havia chegado ilegalmente na Inglaterra em 1941. Embora ela tenha encerrado a carta dizendo que não queria mais relembrar o episódio, o documento foi encaminhado para as autoridades locais, que encorajaram Anna a se manifestar e discutir o caso.

Polícia de West Mercia, disponível nos arquivos de Worcestershire.

Byford-Jones disse que tinha jurado manter segredo sobre o encontro que aconteceu entre ele, a polícia e Anna. Porém, cinco anos depois ele escreveu sobre o que aconteceu, em um artigo que mencionava artistas de trapézio, espionagem, fábricas de munição e aeronaves e a busca incansável de Anna entre as garotas em uma pousada — mas não se sabe o quanto disso é verdade.

Por outro lado, a polícia realmente conseguiu o depoimento de uma mulher chamada Una Hainsworth, que tinha algumas semelhanças marcantes com a história do jornalista. Ela disse aos policiais que era a Anna da carta e citou seu marido, Jack Mossop, voltando para casa “pálido e agitado” certa noite entre março e abril de 1971.

Ele disse à esposa que estava em um pub com um homem chamado Van Ralt e “uma holandesa” — possivelmente Bella —, que desmaiou no carro a caminho de casa. Van Ralt teria dito ao marido de Una para dirigir para a floresta e os dois teriam colocado a mulher dentro do tronco da árvore acreditando que ela recuperaria os sentidos na manhã seguinte.

Mas Bella nunca despertou e Hainsworth enlouqueceu, assombrado pela imagem da mulher deixada no olmo. Ele morreu em um hospital psiquiátrico em 1942, um ano antes do corpo de Bella ter sido descoberto.

Crédito: Birmingham Daily Post 1949 arquivado em The British Library Board

Espionagem de guerra ou ritual ocultista?

A ideia de que a mulher pudesse ter sido uma espiã é outro desdobramento curioso do episódio. A teoria alega que Bella estaria ligada a um círculo de espiões alemães atuando em Birmingham. Naquela época, havia fábricas de munição na região e a localização delas era uma informação valiosa para os inimigos dos ingleses no conflito.

O que talvez tenha começado o rumor local sobre espionagem seria o suposto encontro de Byford-Jones com Anna em 1953. O jornalista alegou que Anna tinha lhe contado que a mulher era parte de um grupo de conspiradores favoráveis à Alemanha que estavam trabalhando com o marido dela em busca de informações sobre armas e munições aéreas na região.

O mistério ficou ainda mais sério anos depois, quando o MI5 divulgou seus arquivos de guerra sobre um agente inimigo chamado Josef Jakobs, que aterrissou de paraquedas no condado de Cambridge em 1941. Ele foi descoberto por fazendeiros e entregue à polícia — em seu bolso foi encontrada a foto de uma mulher, mais tarde identificada como a cantora e atriz Clara Bauerle.

Créditos: Arquivos Nacionais do Reino Unido.

A teoria defende que Clara trabalhava como espiã e que teria aterrissado de paraquedas na área de Hagley durante a guerra, e foi assim que ela teria parado na árvore. No entanto, nenhum paraquedas foi encontrado na cena do crime, derrubando a especulação.

Já a teoria mais sobrenatural alega que a árvore onde Bella teria sido deixada estaria conectada a bruxaria desde a Idade Média. A especulação também usa como argumento os ossos espalhados próximo ao corpo da mulher — o que a polícia sugeriu ser o resultado da ação de animais selvagens.

Há teorias não confirmadas de que a mão de Bella estaria desmembrada de seu corpo, mas próxima a ele, convencendo a arqueóloga e antropóloga Margaret Murray que o caso tem traços de bruxaria. O argumento seria de que o corpo de Bella teria sido sacrificado em um ritual ao ser colocado dentro do olmo oco.

Mensagens e mistério após 80 anos

Um dos principais motivos que sustenta o interesse no mistério é a constante pichação de frases perguntando por Bella na região de Birmingham até os dias de hoje, o que as autoridades atribuem a imitadores das primeiras mensagens deixadas, ainda na década de 1940.

Crédito: Polícia de West Mercia disponível nos arquivos de Worcestershire.

Em 2014, a BBC pediu que um grupo de pesquisadores da Queen Mary University de Londres calculasse estatísticas que pudessem ajudar a solucionar o mistério de quem colocou Bella na árvore. Utilizando o modelo da Rede Bayesiana, o grupo apontou que há 99% de chances que a causa da morte tenha sido criminosa, e 97% de chances que Bella não tenha sido britânica.

Os pesquisadores listaram uma série de ressalvas quanto ao método — e à escassez de pistas —, mas relataram que há 33% de chance de que Jack Mossop estivesse envolvido na morte de Bella, e apenas 7% indicando que isso estivesse ligado a algum serviço de inteligência. O estudo levantou uma possibilidade de 25% de ela ser uma espiã, e 16% de ser uma prostituta. 

Nem mesmo esforços de tentar reconstruir o rosto da mulher em 2018 ajudaram a elucidar a questão, e desde 2005 a polícia dá o caso como não resolvido. A busca por explicações sobre a morte de Bella continua.

LEIA TAMBÉM: Por que livros de mistério são tão satisfatórios

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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