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Parasite Eve poderia acontecer de verdade?

A ciência por trás do clássico de Hideaki Sena

18/09/2025

Não é exagero afirmar que as mitocôndrias determinam a vida e a morte das nossas células. Com a principal função de fornecer energia e considerando que a falta desta energia abra a porta para doenças, o funcionamento das mitocôndrias é essencial para o nosso organismo. Mas o que aconteceria se elas “se rebelassem” e decidissem se tornar autônomas?

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Essa é a premissa de Parasite Eve, clássico de Hideaki Sena que ganhou os cinemas e virou um fenômeno mundial com a adaptação para o videogame. Publicado originalmente em 1995, o livro se baseia em descobertas científicas sobre a origem das mitocôndrias.

Esses estudos sugerem que um dia elas foram parasitas independentes que, ao longo de bilhões de anos de evolução, estabeleceram uma relação simbiótica com as nossas células. Parasite Eve atua na ideia dessas estruturas “decidirem” retomar sua autonomia.

A história acompanha o pesquisador de biologia molecular Toshiaki Nagashima, que perde a esposa de maneira trágica. Desolado pela perda, ele decide cultivar as células do fígado dela em laboratório. Sem saber, ele dá início a uma cultura celular que não apenas sobrevive, mas se desenvolve de maneira inesperada, manipulando acontecimentos ao seu redor com o propósito de transcender o que temos de humano.

A ciência de Parasite Eve

As mitocôndrias foram descobertas em 1890 e já se passaram mais de três décadas que o seu DNA também foi descoberto. A origem dessas estruturas gerou debate por um longo período, mas é quase certo que elas sejam resquícios de um ser que estava em relação simbiótica com nossas células.

Como já mencionamos, a principal função das mitocôndrias é fornecer energia. A falta desta energia causa doenças, e parte delas é provocada por problemas na herança nos genes mitocondriais.

Pesquisas recentes ainda constataram que as mitocôndrias não apenas fornecem energia, elas também emitem substâncias do seu interior para a célula que são fundamentais para o seu funcionamento. Elas atuam, por exemplo, na formação do sistema imunológico.

O que nem todo mundo sabe é que Hideaki Sena é um pesquisador atuante, e é por isso que a representação da mitocôndria construída por ele em Parasite Eve é bem precisa no que diz respeito às propriedades das mitocôndrias. Além das suposições do autor serem consideradas adequadas pela comunidade científica.

Sena chegou até a ser profético em alguns momentos, como ao sugerir o “suicídio” de células quando essas deixam de ser necessárias. No livro, isso é retratado como a morte programada das células. Em 1996, um ano após o lançamento de Parasite Eve, foi revelado que esse sinal que determina a morte da célula é enviado de dentro das mitocôndrias. Com esse sinal, o DNA nucleico é rompido, causando a morte celular. Então, sim, podemos afirmar que as mitocôndrias determinam a vida e a morte das células.

Mutações reais, hostilidade fictícia

Por possuírem um DNA próprio (mtDNA), separado do DNA nuclear das nossas células, esse código está, sim, sujeito às suas próprias mutações, que podem levar a várias doenças nessas estruturas. Tais mutações podem afetar a produção de energia, desencadeando problemas de saúde, principalmente em tecidos com alta demanda de energia, como é o caso dos músculos e do sistema nervoso.

As mutações mitocondriais podem ocorrer principalmente por herança genética materna, pois é o óvulo da mãe que fornece as mitocôndrias ao embrião. Ou seja, se a mãe carregar uma mutação, ela poderá ser transmitida aos seus filhos.

Uma curiosidade é que nem todas as mitocôndrias de uma pessoa precisam ter a mesma mutação. É possível ter uma mistura de mitocôndrias saudáveis e mutantes, o que é chamado de heteroplasmia. É por isso que algumas pessoas podem ter sintomas bem leves e outras quadros mais graves de uma doença originada nas mitocôndrias.

Porém, é claro que uma obra de ficção teria suas licenças poéticas para conduzir o efeito dramático da história. A principal delas é a consciência das mitocôndrias em Parasite Eve. Tanto no livro como no jogo elas são retratadas como seres conscientes e com uma “agenda própria”. Na vida real, mitocôndrias são organelas, meras partes de uma célula. Elas não possuem qualquer possibilidade de pensar, possuir memória ou vontade própria.

Mas e as mutações? No mundo real, quando o mtDNA sofre mutações, isso não dá qualquer tipo de poder às mitocôndrias. Pelo contrário, isso normalmente resulta nessas estruturas produzirem menos energia, o que prejudica o corpo em vez de fortalecê-lo.

Resumindo, por mais que as mitocôndrias possam passar por mutações e “decretarem” sua própria morte, elas não fazem isso de maneira consciente e muito menos com qualquer tipo de intenção. Mas a ideia de que o seu próprio corpo possa se voltar contra você continua sendo um dos nossos maiores medos.