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Tudo que você precisa saber sobre Sandman na Netflix

Série baseada em quadrinhos de Neil Gaiman estreia em Agosto

14/06/2022

Lançados no final dos anos 80 pela editora estadunidense DC Comics, os quadrinhos de Sandman são um marco inquestionável do gênero. A obra seguia a tendência da década nas HQs norte-americanas de apresentar quadrinhos com roteiro denso que vão muito além dos heróis mascarados perseguindo vilões fantasiados. Aquela foi a década de Watchmen, V de Vingança e Batman: O Cavaleiro das Trevas. A criação do escritor britânico Neil Gaiman, porém, foi mais longe: ajudou a abrir os olhos do mercado para mais outras fatias de leitores: um público que, além de mais maduro, tinha forte presença feminina e LGBTQIA+. A publicação foi uma das bases para a criação do selo Vertigo, que foi umas das referências em quadrinhos na década seguinte e serviu de celeiro de outras criações fora da curva, como Hellblazer, Fábulas e Transmetropolitan.

Créditos: DC

Lorde Morpheus, o Sandman

Sandman mostra as histórias e desventuras de uma entidade conhecida por muitos nomes: Morpheus, Oneiros, Sonho, Lorde Moldador… Vai depender da cultura ou do Universo de onde você vem. Curiosamente quase ninguém o chama de Sandman — uma de suas representações que no folclore brasileiro é chamado de João Pestana —, o ser mitológico que faz todos dormirem soprando areia mística em seus olhos.  Morpheus é responsável pelo Sonhar, o reino dimensional para onde, ao dormir, vão todos aqueles que têm capacidade de ter sentimentos e sensações. Ele é um dos Perpétuos ou Sem Fim: seis irmãos, mais velhos que os deuses, que estão por aí desde o surgimento do Universo, cada um administrando seu próprio reino e sua própria faceta da psicologia dos seres sencientes — os outro são: Desejo, Destino, Delírio (que já foi Deleite), Desespero e Morte (a queridinha do público). Existe ainda um sétimo irmão Perpétuo, mas este abdicou de suas funções e partiu para destino ignorado (o mistério que o envolve quem ele é e as suas decisões é um dos elementos recorrentes mais interessantes da série).

Capa do vol. 1 | Créditos: DC

Os Perpétuos  

Os cenários das histórias, o denso background delas calcado nas mitologias e religiões do passado e da atualidade, as certeiras referências históricas, literárias e culturais… Tudo isso contribuiu para o sucesso da revista de crítica e público. Mas o destaque está na construção de seus personagens e no domínio narrativo de seu autor em contar histórias. Neil Gaiman, principal criador do conceito e único roteirista de toda a série, se tornou conhecido fora do nicho dos fãs de quadrinhos com este trabalho, que o catapultou para a lista dos maiores nomes da literatura da atualidade. 

Créditos: DC

Neil Gaiman é Pop

Hoje, Gaiman é uma celebridade da cultura pop. Escritor de sucesso de romances, contos e roteiros para cinema e TV, ele se tornou referência de qualidade e inspiração para leitores e criadores. E toda essa qualidade já está lá em Sandman. Os encadernados da série entraram na lista dos livros mais vendidos do New York Times, ganhou diversos prêmios Eisner (o Oscar dos quadrinhos) e sempre é classificada entre as melhores HQs de todos os tempos. 

Gaiman decidiu encerrar a série na edição 75 em 1996, antes que fosse acometido de cansaço criativo, e estabeleceu uma exceção que passou a marcar obras de seu gênero lançadas pelo selo Vertigo e encerrar certos títulos considerados autorais, quando seus criadores decidem parar de fazê-los. Foi o caso de Preacher, de Garth Ennis, e Sweet Tooth, de Jeff Lemire. A norma até então era de passar a responsabilidade do título para outro, se seu criador não prosseguisse e a obra estivesse fazendo sucesso — afinal, os direitos dos personagens, na maioria, das vezes pertencem à editora. 

Mas o fim do título não significou o final daquele universo ficcional. Criados por outros autores, diversos spin-ofs foram (e continuam sendo) lançados, alguns deles alcançando também grande sucesso, como Lúcifer, de Mike Carey, que foi adaptado para seriado de TV. Aliás, todas as obras citadas no parágrafo anterior já foram adaptadas para série de TV e/ou streaming. Os fãs sempre questionavam quando Sandman também ganharia a sua adaptação para audiovisual. E agora, após o que pareceu quase um século de tentativas frustradas, o Mestre dos Sonhos finalmente vai atravessar as brumas do Sonhar e ganhar a esperada versão em carne e osso.

Lúcifer (Tom Ellis), um dos personagens mais marcantes de Sandman, ganhou título próprio e série de TV.

A adaptação das HQs


Mais difícil que executar feitiços para capturar um Perpétuo, a longa jornada da adaptação para audiovisual passou por muitas mãos, revezes, dramas de bastidores e conflitos criativos. O desejo de ver o mundo dos Perpétuos materializado fora do papel, para desespero dos fãs, parecia destinado a morrer, outro sonho destruído pelos delírios de Hollywood. Desde 1991, roteiristas e produtores tentavam encontrar uma forma de traduzir aquele universo para o cinema. Mas o próprio Gaiman defendeu por anos que uma série de TV acomodaria melhor a vocação grandiloquente da sua criação mais famosa. 

Três décadas e muitas ideias bizarras depois (em algum ponto Morpheus seria o vilão e meio irmão do demônio Lúcifer), Gaiman ganharia experiência produzindo algumas versões de suas criações para o cinema (Coraline, Stardust) e TV (Deuses Americanos e Belas Maldições), com níveis variados de sucesso. No entanto, lhe escapava a joia mais poderosa na sua algibeira: Sandman, que afinal se liberta da maldição para tentar conquistar um novo público pela Netflix. 

Sandman (Tom Sturridge) e o corvo Matthew | Créditos: Netflix

Acompanhando de antecipação, a legião de fanáticos do Sonhar treme de receio que a versão para streaming se revele uma mera sombra da genialidade contida em narrativas como “Prelúdios e Noturnos” e “Casa de Bonecas”, arcos da revista de Sandman que serão a base da primeira temporada. Além do pai dos Perpétuos, o time criativo conta com David S. Goyer e Allan Heinberg. Goyer é um veterano que trabalhou nos filmes do Batman e Superman, e passou anos tentando levar o Lorde dos Sonhos para o cinema, enquanto Heinberg é um dos roteiristas do primeiro filme da Mulher Maravilha. E ambos também são roteiristas de quadrinhos.

O Choro é Livre

Muito antes de estrear, a produção atraiu controvérsia em torno do elenco que alterou gênero e etnias de alguns personagens, em especial a Morte, a irmã mais querida e mais velha dos perpétuos, interpretada por Kirby Howell-Baptiste (da série The Good Place). Outra escalação que causou barulho nas redes foi a escolha de Gwendoline Christie, a Brienne de Game of Thrones, aqui vivendo o anjo caído e atual proprietário do inferno, numa versão bem diferente da interpretada por Tom Ellis na série em que o personagem era protagonista — mas, aparentemente mais próxima da obra original. 

Créditos: Netflix

Os criadores defendem as mudanças como resultado natural de revisitar velhas ideias. Novas possibilidades se abrem, trazendo a oportunidade de abordá-las com um outro olhar.  A série apresenta mudanças voltadas a atualizar a história para os tempos modernos, começando por se passar em 2021, com Morpheus agora preso por 105 anos, em vez de 75 anos. Afinal, mais de 30 anos se passaram desde quando foi lançada a primeira edição da revista de Sandman. “Se estivéssemos criando esse personagem agora, qual seria o gênero? Quem eles seriam? O que eles estariam fazendo?” Indagou Gaiman, em entrevista ao Digitalspy.

Créditos: Netflix

Em contrapartida, o pouco conhecido Tom Sturridge, que interpreta o papel título, pode agradar fãs apegados ao visual original criado por Sam Kieth e Mike Dringenberg. Ao lado dele estão Jenna Coleman (Johanna Constantine), Boyd Holbrook (o Coríntio), David Thewlis (John Dee), Patton Oswalt  (Matthew, o Corvo), Charles Dance (Roderick Burgess), Stephen Fry (Gilbert), entre muitos outros.

O recente trailer divulgado revelou a data de estreia: 5 de agosto, e um aperitivo com muitas imagens promissoras.

Quem teve contato com o material original (além de diversas minisséries e edições especiais), sabe do imenso potencial da série para se tornar um novo marco na cultura pop, do tamanho de Game of Thrones. Se a produção conseguir capturar um naco da elegância dessa mitologia, teremos anos de magia, divindades, demônios, assassinos em série, terror, mortalidade e claro, sonhos pela frente. Enquanto a série não estreia, nos resta esperar com bons sonhos… Ou não.

O Dicionário dos Sonhos

A matéria-prima da obra de Gaiman é um elemento chave do lançamento O Dicionário dos Sonhos, novo livro da marca Magicae.

A obra clássica de  Gustavus Hindman Miller é uma referência para quem tenta decifrar os significados dos mundos que visitamos ao dormir há quase 100 anos. O trabalho do autor, que se dedicou a decodificar mais de 10 mil sonhos, ganhou uma versão atualizada pelas mãos da dupla Linda Shields e Lenore Skomal que revisitou o clássico de Hindman e incluiu cerca de 2 mil entradas sob uma perspectiva contemporânea. 

Seres Mágicos & Histórias Sombrias 

Os fãs de Gaiman também podem conferir a sensibilidade do autor na antologia Seres Mágicos & Histórias Sombrias, onde ele participa com um conto, além da seleção do material, ao lado do escritor de terror e ficção científica Al Sarrantonio. Estão reunidos contos de Joyce Carol Oates, Joe R. Lansdale, Jodi Picoult, Peter Straub, Chuck Palahniuk, Jeffery Deaver, Joe Hill e outros nomes.

No texto de abertura, Neil Gaiman define que a magia da ficção é pegar as palavras e utilizá-las para construir novos mundos. O livro é um verdadeiro compêndio com contos para todos os gostos e autores queridos para conhecer e revisitar. Para tornar a edição da DarkSide®️ Books ainda mais especial, o artista norte-americano Jason Limon emprestou seu singular talento para conectar a delicadeza e magia das palavras do livro em uma imagem poderosa. O resultado é uma edição única no mundo, feita de fã para fã, com capa dura e detalhes extraordinários.

Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash

O único outro artista que esteve presente em todas as 75 edições de Sandman, além de se envolver em vários de seus spin-ofs, foi Dave McKean. O ilustrador, designer gráfico e artista plástico foi o responsável pelas icônicas capas da revista, que compunham uma unidade de estilo, apesar de utilizar das mais variadas técnicas, e serviu de referência para as capas dos outros títulos do selo Vertigo.

A DarkSide® Books lançou uma Graphic Novel de McKean que demonstra todo o talento do artista. Black Dog narra a história real de Paul Nash, o pintor inglês surrealista que combateu na 1ª Guerra Mundial e que traduziu toda a vivência e a dor, sua e de seus companheiros, em obras repletas de sonhos, pesadelos e percepções alteradas da realidade. Pensada em cada detalhe, esta graphic novel arrebatadora nos concede um pequeno vislumbre da experiência aterrorizante que foi a guerra para Paul Nash.

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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