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EntrevistaPrêmio Machado

Isa e Pétala: “Representatividade é capaz de confrontar sujeitos e ressignificar imaginários”

Vencedoras do Prêmio Machado abordam a importância da representatividade na ficção literária.

30/11/2020

Pétala Souza e Isa Souza são irmãs e ativistas literárias em busca de representatividade, inclusão e proporcionalidade através da escrita. As duas são as vencedoras do 1º Prêmio Machado DarkSide de Literatura na categoria Desenvolvimento de Projetos. A obra inscrita é Imaginários Pluriversais: Narrativas Representativas na Ficção, que tem tudo a ver com as causas defendidas por elas.

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Autodeclaradas discípulas de Octavia Butler, as irmãs se descrevem como “afrofuturistas, periféricas e pluriversais”. Em seu Instagram @afrofuturas, as duas produzem conteúdo pautadas na decolonialidade e em contextos de raça, gênero, classe e representatividade. Isa e Pétala são envolvidas e precursoras de diversas iniciativas pautadas nestes princípios, com destaque para a hashtag #LeiaRepresentatividade.

Em Imaginários Pluriversais, as autoras pretendem expandir seu estudo, trazendo um panorama teórico para organizar e amadurecer os significados dos aspectos da representatividade na criação literária, construindo diálogos socialmente transformadores através da literatura.

LEIA TAMBÉM: A REPRESENTATIVIDADE NA LITERATURA

Isa e Pétala conversaram com o Darkblog e compartilharam um pouco de sua visão quanto à representatividade e o quão importante ela é na literatura de ficção. Confira: 

DarkSide: De onde surgiu a inspiração para escrever a obra inscrita no Prêmio Machado?

Isa e Pétala: O livro Imaginários Pluriversais surgiu da necessidade de ampliar os debates que iniciamos com o projeto #LeiaRepresentatividade. Durante todos esses anos de projeto, temos lido, pesquisado e escrito muito para organizar nossa compreensão do que são, do que podem ser e da relevância das narrativas ditas representativas dentro das produções de ficção literária. A dimensão imagética das representações é imensa, precisávamos de muito mais do que posts no Instagram para conseguir compartilhar nossas possíveis contribuições para esse debate, então começamos a escrever o livro.

D: Quando teve início o projeto #LeiaRepresentatividade e qual o propósito dessa iniciativa?

IP: Lançamos o #LeiaRepresentatividade em junho de 2018. Pretendíamos criar um movimento de leitores dispostos a quebrar barreiras normativas do imaginário, que diz o que é hegemônico e que padroniza, ao mesmo tempo em que inviabiliza existências. A ação consistia em encorajar leitores a ir além do que chega mais fácil nas nossas mãos, do que tem mais espaço e visibilidade no mercado editorial, para buscar ler narrativas de grupos socialmente minorizados e marginalizados. Indo contra a falta de espaço dessas publicações, incentivamos os leitores a postarem essas leituras em suas redes com a #LeiaRepresentatividade. A ideia era criar com a hashtag um grande painel colaborativo de livros de diversas representatividades, de forma dinâmica e coletivizada. Hoje a hashtag tem milhares de indicações de leituras.

D: Qual a importância da representatividade na literatura de ficção para moldar o imaginário dos leitores?

IP: Essa é uma das perguntas que queremos que o livro responda! (risos). O imaginário, de várias formas, também constrói imagens que nos orientam em nossas relações, na forma como atuamos em sociedade, e opera como demarcador dos sujeitos e lugares nas relações sociais. Um livro de ficção com representatividade é capaz de confrontar sujeitos, ressignificar imaginários e de situar esses sujeitos no mundo com possibilidades crescentes de transformações para equidade e proporcionalidade social, à medida em que a ficção transcender as páginas e estabelecer diálogos com a pluriversalidade da realidade.

D: Além do projeto Imaginários Pluriversais receber mentoria da DarkSide, ele será escrito a quatro mãos. Como funciona esse processo de escrita em dupla para vocês?

IP: Esse processo já é natural para nós duas. Trabalhamos toda nossa produção de conteúdo no @afrofuturas assim, tudo passa pelas duas. Como autoras de ficção afrofuturista também escrevemos dessa forma. É bem mais desafiador, mas tem dado certo. O processo de escrita de não-ficção em dupla é mais tranquilo porque consegue ser mais objetivo em tudo. A gente pesquisa, passa horas conversando sobre um tema, faz anotações, escreve, conversa mais… Nossas discussões dos temas são a parte mais essencial de todo o processo, são os momentos em que conseguimos produzir e organizar ideias após as leituras.

D: Quais autores inspiraram vocês no processo de escrita da obra?

IP: Como estamos escrevendo buscando diálogos capazes de decolonizar imaginários, além do referencial teórico que será apresentado no livro, as próprias narrativas representativas de ficção nos inspiram quando nos mostram como a desconstrução do imaginário hegemônico pode funcionar. Nesse sentido, nossas autoras preferidas, Octavia Butler, N.K. Jemisin, Ursula K. Le Guin, Conceição Evaristo e Jarid Arraes, têm sido essenciais para conseguirmos dimensionar as potencialidades de narrativas que constroem imaginários pluriversais.

D: Como foi para vocês o momento em que descobriram que tinham sido vencedoras do Prêmio? 

IP: Incrível é a palavra que, literalmente, melhor se aproxima de descrever isso. Recebemos a notícia no grupo do coletivo literário do qual fazemos parte, o @cladaspretas. Vimos o monte de mensagens e deu pra perceber que elas estavam comemorando algo, quando vimos o que era, paralisamos. Depois entramos num estado de alegria incrédula. Ligamos para nossa outra irmã para ler a notícia todas juntas e ela chorou e nos deixou ainda mais emocionadas. E aí passamos o dia recebendo mensagens de pessoas queridas e fomos aos poucos conseguindo absorver a ideia de que, sim, nosso projeto poderia vencer esse prêmio e que isso realmente aconteceu.

D: Qual a importância desse tipo de projeto como o Prêmio Machado para o incentivo à literatura brasileira?

IP: Um projeto como esse, oferecendo aos escritores iniciantes uma oportunidade de publicar em uma editora de grande alcance como a DarkSide, abre possibilidades no mercado editorial e essas possibilidades podem proporcionar renovações necessárias no mercado literário brasileiro. Estamos orgulhosas de integrar esse grupo de projetos contemplados que mostram, cada um a sua maneira, que ainda há muito mais possibilidades de vida e vivências no mercado literário.

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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3 Comentários

  • Lucas Vieira

    12 de dezembro de 2020 às 13:36

    Que história maravilhosa, parabéns meninas. Fiquei muito feliz com a vitória de vocês, sucesso! <3

    • Avatar photo

      DarkSide

      14 de dezembro de 2020 às 12:06

      Uma obra incrível e que estou ansiosa para mostrar para vocês!

  • L.F. d'Oliveira

    18 de dezembro de 2020 às 12:11

    Parabéns, Meninas! Boa sorte nessa jornada!

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  • Árvore de Ossos

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