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Qual a relação entre Invasores de Corpos e teorias conspiratórias sobre vacinas?

Paranoia de seres humanos sendo controlados é um dos temas do livro de Jack Finney.

25/01/2021

Um homem percebe que seu tio não é mais o mesmo. Ele está se comportando de forma estranha, meio que no automático, menos espontâneo. Não demora muito e o vizinho deste homem começa a se comportar da mesma forma. Logo, seus amigos também parecem estar mais apáticos, menos humanos e aparentemente sendo controlados por uma ameaça invisível.

Poderíamos estar nos referindo ao plot de Invasores de Corpos, livro de terror e ficção científica de Jack Finney. No entanto, este cenário se encaixa perfeitamente em teorias conspiratórias de que chineses estariam implantando chips com tecnologia 5G nas pessoas através de uma vacina. Tudo isso para controlá-las, claro.

Entre as pessoas pod¹ de Finney e conspiradores de correntes de aplicativos de mensagens do século 21 podem até ter se passado quase sete décadas, mas há algo que une estas duas narrativas: a histeria coletiva provocada pelo medo de sermos controlados por entidades malignas. Desta vez, o bode expiatório para os conspiradores surge na forma de vacinas.

Desde seu lançamento, Invasores de Corpos tem levantado alguns debates sobre suas conotações políticas. Publicado poucos anos após a Segunda Guerra Mundial e revisitado ao longo da Guerra Fria, o livro tem sido associado tanto à paranoia de uma dominação comunista quanto à caça às bruxas dentro dos Estados Unidos, que flertava com regimes autoritários.

LEIA TAMBÉM: POLÍTICA E PARANOIA: O QUE TORNA INVASORES DE CORPOS UMA OBRA TÃO GRANDE?

Mais de meio século se passou e o medo da perda de direitos, liberdades e até mesmo da espontaneidade humana permanece na sociedade. Desta vez, a “ameaça comunista” não vem mais da já dissoluta União Soviética, mas da China. A teoria mais recente é a de que eles pretendem controlar populações que tomassem vacinas produzidas lá. Daria um ótimo roteiro de cinema, mas algumas pessoas realmente acreditam nisso.

Estas teorias conspiratórias ganham força nos dias de hoje pois unem um complicado histórico da sociedade com as vacinas, que já vinha ganhando força nos últimos anos, com o medo da tecnologia. Tudo isso pulverizado de forma descentralizada em redes sociais e aplicativos de mensagens ganha proporções assustadoras e desafia a ciência a não apenas se fazer ouvir, mas a se fazer compreender – não por acaso, vários filmes de desastres começam com pessoas ignorando os alertas de cientistas. 

LEIA TAMBÉM: NÃO DURMA! INVASORES DE CORPOS CHEGOU À DARKSIDE®

Por que algumas pessoas desconfiam de vacinas?

Apesar de prevenirem mais de 3 milhões de mortes infantis todos os anos, as vacinas ainda são desacreditadas ou demonizadas pelas mais variadas razões. Algumas envolvem crenças religiosas, outras têm relação com o fato de alguns indivíduos acreditarem que certas doenças não são mais uma ameaça e outras são alimentadas por teorias conspiratórias de que esta tecnologia seria capaz de provocar autismo ou ainda controlar seres humanos com microchips. 

O problema é que a imunização por meio de vacinas depende de uma ampla cobertura para ter o efeito desejado. Ou seja, quanto menos pessoas tomarem, menos a população geral estará protegida das doenças que elas querem prevenir. Este é o desafio que cientistas encaram há séculos e, com fake news disseminadas on-line, tem se tornado cada vez mais desafiador.

Um caso bem conhecido no Brasil é a Revolta das Vacinas. Apesar de ser obrigatória desde o século 19, a vacinação contra a varíola no país ainda não era muito expressiva, até porque a produção do fármaco era bem limitada até o final daquele século. Porém, em 1904 uma lei reinstaurou a obrigatoriedade da imunização, o que gerou revolta de camadas mais populares da população que não queriam se ver forçadas a tomar a injeção. Infladas por correntes políticas, elas ouviam e disseminavam teorias de que quem tomasse a vacina poderia ficar com feições bovinas. Isso tudo muito antes da internet.

O conflito em si não ajudou a conscientizar as pessoas sobre a vacina e, mesmo após os ânimos terem se acalmado, a busca pelo imunizante não foi imediata. Somente em 1908, quando o Rio de Janeiro passou pela mais violenta epidemia de varíola da história é que as pessoas foram espontaneamente buscar a vacinação. Resultado: os casos de varíola baixaram e ninguém ficou com cara de boi.

O que algumas correntes de cientistas defendem hoje em dia para que as vacinas voltem a ser mais aceitas é a informação e o esclarecimento do que estes imunizantes representam para o corpo humano e para a sociedade. Simplesmente obrigar as pessoas a se vacinarem não é suficiente, como o próprio episódio da Revolta da Vacina comprova.

Por décadas as principais informações confiáveis e acessíveis sobre vacinas têm sido centralizadas em núcleos científicos e hospitalares. Não há um esforço muito grande em levar tais dados de forma compreensiva ao grande público. No entanto, uma pesquisa realizada com operadoras de saúde dos Estados Unidos em 2009 indicou que o nível de desconfiança dos pais quanto à vacinação de seus filhos despencou de 43% para 28% após um processo de cinco anos em que campanhas informativas de vacinação foram conduzidas.

De volta a 2021, o medo de imunizantes contra o novo coronavírus (covid-19) encontra outras bases. Trata-se de uma doença conhecida há relativamente pouco tempo, até mesmo pela comunidade científica, e de vacinas que tiveram seu processo de pesquisa acelerado devido à gravidade da pandemia. Além das pessoas não terem sido devidamente informadas sobre os imunizantes, elas não compreendem e desconfiam da velocidade do processo, unindo a apreensão a um outro medo: a tecnofobia.

Tecnofobia: O medo da tecnologia

Vacinas são uma tecnologia. Já eram desde o momento em que foram concebidas e, com o passar dos séculos, empregam cada vez mais tecnologia em seu processo de pesquisa e formulação. Há anos cientistas trabalham no desenvolvimento de uma vacina X, que seria adaptável a diferentes mutações do vírus Influenza, responsável pela gripe, simplificando e agilizando o processo de novos fármacos.

Porém, a mesma tecnologia que salva vidas e torna estes processos cada vez mais rápidos, seguros e eficientes, pode causar apreensão e incredulidade em pessoas com tecnofobia, que é o medo ou aversão a tecnologia, em especial a que envolve computadores.

Surpreendentemente é um medo bem comum, e alguns especialistas afirmam que ele pode existir em níveis bem menores em praticamente toda a população. A aversão a novas tecnologias é progressivamente maior conforme a idade das pessoas avança – basta ver as diferentes reações de uma criança e de uma pessoa de mais de 80 anos ao manusear um smartphone pela primeira vez.

Isso acontece porque, quanto mais usamos uma tecnologia, mais nos acostumamos a ela e menos medo temos dela. Como pessoas da geração X ou mais velhas não cresceram com algumas das modernidades com as quais contamos hoje em dia, é normal haver certo receio. Já as crianças da era digital se acostumaram desde pequenas a novidades.

Uma das situações mais alarmantes envolvendo a tecnofobia está relacionada a cenários apocalípticos. E isso pode ir de robôs que se rebelam contra humanos, armas de destruição em massa, chegando em vacinas com microchips que controlariam a população, como os alienígenas fizeram na obra de Jack Finney. Filmes e livros estão repletos de histórias em que a tecnologia levou a desfechos terríveis e, com a apreensão de um futuro incerto, as pessoas começam a preencher algumas lacunas com suas fobias.

Assim como no caso das vacinas, boa parte do medo se dá justamente pela falta de compreensão de como estas tecnologias funcionam. Isso já levou a teorias de que aparelhos de micro-ondas causam câncer, torres de celulares cancerígenas e até de termômetros infravermelhos que causariam danos ao cérebro.

Tanto no caso das vacinas como no de Invasores de Corpos, tudo se resume ao medo do desconhecido, à falta de acesso ou à escolha de ignorar achados científicos. Informação e conhecimento são as principais armas para não sermos manipulados e nos tornarmos pessoas pod criadas por Finney.

LEIA TAMBÉM: A CIÊNCIA E AS IMPLICAÇÕES SOCIAIS POR TRÁS DE INVASORES DE CORPOS

¹ O termo em inglês “pod” significa vagem, e é transformado no filme Vampiros de Almas em um tipo de criatura, extrapolando assim a tradução literal do termo. O pod é uma criatura com características próprias: alguém que teve o corpo substituído por uma cópia desprovida de emoções e sentimentos humanos. O termo foi consagrado dentro do universo das criaturas fantásticas no terror e na ficção científica para me referir aos pseudohumanos vegetais.

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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