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Phantasm: O funeral está prestes a começar

Um cult acidental de Don Coscarelli

30/06/2023

Nas sessões de horror de videolocadoras (excelentes) como a Firestar, um cinéfilo dedicado encontraria filmes estranhos, sangrentos, oníricos, traumatizantes, divertidos, nojentos e até mesmo surpreendentes. E entres esses, esbarraria em alguns títulos que, mesmo sendo rebobinados muitas e muitas vezes, não forneceriam uma explicação, digamos, digestiva, linear. Esse é o caso de Phantasm, concebido em 1979, que parece ter nascido para se tornar acidentalmente um cult.

Phantasm gera estranhamento no título (que não é nada tão óbvio quanto “Fantasma”, estando bem mais próximo de um assombro, uma ilusão), na concepção da capa, gera estranhamento e incompreensão no começo, meio e no final do filme. Mas afinal de contas, por que gerações em cima de gerações de fãs do horror se encantam conhecendo ou revisitando esse filme? Simples, meninas e meninos, porque assistir e tentar compreender Phantasm é como tentar se lembrar de um sonho, seja ele um sonho bom, ou um pesadelo terrível. Faltam partes, pedaços, mas no fundo, bem lá no fundo, mesmo sem saber explicar, alguma parte nossa entendeu tudo perfeitamente. Ainda difícil? Sim… imagino que sim. Mas nada é fácil quando se trata de Phantasm.

Começamos nossa viagem onírica acompanhados por uma trilha sonora ressonante, bastante peculiar, que parece interagir com o nosso subconsciente. Então avistamos uma casa luxuosa, muito bonita, imersa em uma paisagem noturna. E somos arremessados em um cemitério, entre as lápides, onde um casal faz sexo e a dama, enfim satisfeita, enfia um punhal no mancebo ainda delirante de prazer. Parece promissor, não é mesmo? Também achei. Mas espera aí, a moça na verdade não era uma moça, mas um homem alto, sim! Um agente funerário! E a casa bonita no final das contas é uma espécie de mausoléu labiríntico rechegado de esferas de aço inoxidável matadoras e anões assassinos!

Esse é um bom começo para poupar muitos spoilers, o que, convenhamos, não significa muito se tratando desse filme. Mas nós podemos dar um plot basicão apenas para situar os leitores.

O filme nos faz acompanhar Mike Pearson, um adolescente que ficou órfão há dois anos. Com a morte dos pais, Mike acabou a encargo de seu irmão mais velho, Jody, que, além de boa pinta, toca guitarra e tem um carrão envenenado. Mas Jody aparentemente quer cair fora e continuar com sua vida, o que deixa Mike transtornado a ponto de persegui-lo em todos os cantos com sua moto. Depois que um amigo de Jody chamado Toby morre (dizem ter sido suicídio, mas Toby era o felizardo que estava tento momentos quentes no cemitério até ser assassinado pela parceira), os caminhos fúnebres levam os Pearson até o “Cemitério Morningside” e seu ilustre tanatopraxista e coveiro Jebediah Morningside, “The Tall Man”, interpretado pela lenda Angus Scrimm. Igualmente icônico, conhecemos também o sorveteiro Reggie, melhor amigo dos órfãos Mike e Jody e um cara legal pra caramba que consegue ser careca e cabeludo ao mesmo tempo.

O problema todo é que nada é o que parece nos campos de morte de Morningside, e de repente os corpos dos falecidos estão sendo reaproveitados para um propósito obscuro que você só descobrirá assistindo ao filme. Nos corredores do mausoléu se escondem segredos e criaturas, passagens interdimensionais e profanação de corpos humanos (entre outras coisinhas…).

Para quem procura um filme retilíneo e facilmente compreensível, Phantasm é bem contraindicado, mas para aqueles fãs do gênero que procuram grandes momentos, uma mescla improvável com Sci-Fi, personagens icônicos e um verdadeiro passeio pelo mundo dos pesadelos irracionais, esse filme sempre será um prato cheio. Inclusive o personagem Tall Man merece um lugar no hall da fama do terror ao lado de Pennywise e Freddy Krueger, e digo mais: merece estar logo após, na linha de sucessão, de Pinhead, o renascido do inferno número um.

Outro detalhe que faz Phantasm ser tão especial é sua aproximação direta com a morte, com nosso ato final que não raramente acontece em uma agência funerária. No filme conseguimos ter vislumbres desse lugar de não retorno e de nossa própria vulnerabilidade como seres humanos. A morte é um grande medo coletivo, mas não é o único explorado no longa. Também temos o medo de sermos assassinados, ou mesmo de sermos contaminados por “algo” depois de sermos seduzidos. Não muito distante, o medo da perda nos acompanha em cada passagem do filme, seja a perda de um irmão ainda vivo, dos pais que já faleceram ou mesmo dos grandes amigos e dias que não voltam mais (representados brilhantemente por Reggie, o vendedor de sorvetes calvo-cabeludo). Esse é outro ponto de destaque do filme, as pessoas comuns, como eu e você, pessoas que transitam entre a vida e a morte sem se dar conta de quão curto pode ser esse caminho.

Assista a esse filme em um momento especial, ou o revisite como quem redescobre um sabor há muito esquecido da infância. Você vai ficar um pouco confuso aqui e ali, mas nas melhores memórias e sonhos, é exatamente assim que deve ser.

Agora só me resta dizer: Aperte o play, o funeral está prestes a começar!

Boyyyyyyyyyyy!

1 Comentário

Osvaldo Mesquita

1 de julho de 2023 às 08:37

Osvaldo Mesquita

1 de julho de 2023 às 08:37

Pelo descrito, o filme não me parece estranho, mas não tenho certeza se já assisti. Mas com certeza, depois dessa leitura fiquei bem empolgado e na primeira oportunidade irei conferir! 😀

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