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Monkey Shines: Um filme que irá testar seus instintos

Uma aventura controversa de George A. Romero

09/02/2024

Para um fã de horror, o nome de George A. Romero sempre estará associado aos mortos-vivos. Não é por acaso que George é conhecido como o pai dos zumbis modernos, mas existe muito mais nesse cineasta e grande mestre do terror do que julga nossa vã filosofia. Dono de uma envergadura criativa rara, George também deu seus pulos em outros gêneros, inclusive na ficção científica.

monkey shines

O filme de hoje é um exemplo desse fato, e depois de um bom garimpo na Firestar encontramos esse “experimento” de George Romero que não se manteve tão popular ao longo dos anos (não exatamente por culpa de Romero, mas por imposições do estúdio que acabaram comprometendo o resultado final). Falamos de Monkey Shines, que chegou ao mundo em 1988 e acabou rebatizado por aqui de Instinto Fatal nos cinemas, e re-rebatizado de Comando Assassino pela Globo Vídeo.

LEIA TAMBÉM: MENTE MACABRA: A OBRA DE GEORGE ROMERO

Começamos nossa aventura controversa com o desenho do rosto de um macaco, então já sacamos logo de cara que o nome original Monkey Shines não é mero trocadilho. Da cara do macaco, vamos para uma bela casa do nosso querido protagonista dedicado ao atletismo, Allan Mann, que ainda não sabe, mas terá uma manhã muito, muito desagradável. Allan termina sua corrida matinal sendo atropelado por um caminhão, e, apesar dos esforços dos médicos, ele se torna tetraplégico.

monkey shines

Mesmo nesse breve início, notamos características que acompanham todos os filmes com envolvimento de George Romero, principalmente seu humor sombrio e suas críticas sociais discretas, mas igualmente contundentes. São piadas na hora errada, olhares indiscretos, sorrisos maliciosos. George era tão bom nisso quanto em retirar cadáveres da tumba, acredite.

Voltando à trama do filme, Allan está de volta depois de alguns meses de recuperação intensiva, então seus amigos e familiares organizam uma festa de boas-vindas. Allan chega à sua nova casa adaptada e recebe os olhares animados dessas pessoas, mesmo que o seu olhar, compreensivelmente, não seja assim tão cheio de felicidade. Allan também recebe a expressão de piedade de alguns conhecidos, e frequentemente isso é bem pior que uma agressão direta para alguém em condições especiais.

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Um pouco depois da festa ter terminado, também conhecemos Geoffrey Fisher, grande amigo de Allan e também um cientista que conduz uma pesquisa para tornar macacos mais inteligentes. Sua relação com Allan é verdadeira, assim como o drama vivido por Allan em sua reinserção na sociedade. Geoffrey também tem seus próprios problemas, e um deles é ser pressionado pelo chefe do departamento de ciências da universidade para que ele apresente resultados e avanços em suas pesquisas de estímulo de inteligência antes de perderem os investidores.

Allan não se ajusta à sua nova realidade, e sua enfermeira grossa como uma lixa e seu periquito maldito não ajudam nisso. Tampouco sua mãe superprotetora. Deprimido, Allan tenta tirar a própria vida. Para tudo ficar ainda pior, sua ex-noiva está o deixando aos poucos (porque a moçoila começou um caso com o cirurgião de Allan, enquanto Allan era reabilitado em sua nova condição).

Depois de atentar contra a própria vida, o médico galanteador sugere outra adequação, que seria a mãe de Allan voltar para Illinois, porque sua presença na casa pode estar sensibilizando ainda mais as reações emocionais de Allan. A fim de animá-lo um pouco, seu bom amigo Geoffrey encontra um centro de treinamento de macacos, que são preparados pela especialista Melanie Parker para auxiliarem portadores de necessidade especiais como Allan. E assim, Allan conhece sua nova melhor amiga: a macaquinha-prego super inteligente “Número 6”, que vem recebendo upgrades sorológicos de Geoffrey. Número 6 também recebe um novo nome agora que é uma integrante da casa: Ella.

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Com a ajuda de Ella, Allan se adapta depressa, está mais feliz, mas a tensão em sua casa começa a crescer com a enfermeira, que não gosta muito a presença de Ella — e a macaquinha por sua vez, também faz o que pode para provocá-la. Ella está cada vez mais inteligente, e muito mais próxima aos comportamentos humanos do que se poderia imaginar. Se isso é um problema? Se consideramos algumas características humanas como ciúme, possessividade, sentimento de vingança, crueldade e violência, é bem possível.

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Ella acaba tomando as dores de Allan em uma situação “familiar” (que não contarei qual é) e a consequência é um pedido de demissão de sua enfermeira. Para a completa desgraça mental de Allan, ele está novamente refém dos cuidados de sua mãe, que despenca de Illinois para compensar a falta da enfermeira. E as boas notícias não param por aí, porque sua mãe o informa que está se mudando permanentemente para a casa de Allan

Nesse ponto da trama, temos um estranho entrelaçamento entre Alan e Ella, onde Allan parece compartilhar sensações de sua macaquinha, uma ligação telepática. A princípio, existe muita sutileza no lado B dessa interação, mudanças de humor em Allan, expressões faciais, detalhes que só percebemos com o acompanhamento atencioso do filme.

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Os desfechos evoluem de uma ficção de horror para coisas bem piores, mas essa parte vou deixar em aberto, porque esse é um bom filme para ser assistido sem muitos spoilers. Monkey Shines tem alguns momentos de lentidão até engatar em sua proposta principal, mas a carga dramática exige certo nível de detalhamento para soar razoável. Também podem parecer um pouco exageradas certas interações mentais entre homem e animal, mas se acompanharmos as possibilidades de uma Inteligência Artificial, por exemplo, extrapolada em algumas dezenas de anos até chegarmos ao que chamamos de transcendência, nos daremos conta de quão visionário esse filme pode ser considerado. Monkey Shines também toca pontos sensíveis como sexualidade em situações especiais, narcisismo materno, e algumas vezes coloca em xeque nossas próprias noções de moralidade. Também é possível sentir uma certa influência de Clive Barker e sua história curta “A Idade do Desejo”, do quarto volume de Livros de Sangue no que se refere à dinâmica cientistas versus cobaias, o que para mim jogou muito a favor nesse filme.

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Monkey Shines tem suas falhas, algumas cenas de ação são bem esquisitas, talvez por serem verossímeis demais. Ainda assim, outra qualidade inegável dessa produção é ser um filme de ideias estranhas, mesmo para a década em que foi produzido, reconhecidamente uma das mais criativamente prolíficas e transgressoras para o terror. Se você, assim como a maioria de nós, se interessa em explorar o que há de mais perigoso na natureza humana e seus instintos primordiais, com certeza vai passar bons momentos assistindo esse filme. Além disso, é um George Romero…

O que mais precisamos dizer para você apertar esse play?

O Trailer você confere aqui:

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Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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