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Como morreu Harry Houdini?

Caso do ilusionista está em Medicina Macabra 4

20/06/2024

Harry Houdini teve uma carreira tão prolífica na arte do ilusionismo que ganhou o apelido de “mestre das escapadas”. Verdade seja dita: ele escapou da morte inúmeras vezes nas armadilhas que ele próprio elaborava.

O mestre escapologista tem seu nome reconhecido até os dias de hoje por, em seus truques, escapar dos planos da Ceifadora. Os números envolviam se prender em uma camisa de força e ser içado pelos pés, se prender em correntes e ser trancado em um caixão lançado ao mar ou se prender algemado em uma máquina industrial cheia de cerveja. Contrariando os temores de seu público, ele sempre saía ileso — até quando foi enterrado vivo.

Com um histórico desses, é de se imaginar que o ilusionista encontrou seu fim quando uma de suas armadilhas deu terrivelmente errado… mas não foi bem isso que aconteceu. O estudo do caso da morte de Harry Houdini é detalhado no livro Medicina Macabra 4, dedicado à história das práticas cirúrgicas ao longo dos séculos.

Corpo fechado (mas nem tanto)

Erik Weisz, que todos conhecemos como Houdini, era malabarista, acrobata e também apresentava números envolvendo força física. Ele até dizia que seus músculos abdominais seriam capazes de aguentar qualquer golpe — e desafiava os presentes a lhe darem socos para comprovar isso. Aquele core de milhões.

Certo dia em 1926, três estudantes canadenses visitaram o ilusionista em seu camarim após uma de suas apresentações em Montreal. Um deles indagou sobre a resistência abdominal de Houdini e perguntou se poderia golpeá-lo. Ele, claro, concordou. Porém, os outros dois jovens perceberam que talvez ele não tenha conseguido tensionar o abdômen a tempo e tenha realmente sentido os golpes do estudante.

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No dia seguinte, Houdini não estava se sentindo bem e decidiu agendar um médico em Detroit, seu próximo destino. Porém, ele não teve tempo para a consulta e foi direto para aquele que seria o último espetáculo de sua vida. É possível que ele tenha apresentado seu famoso número de se libertar debaixo d’água — algo que o obrigava a prender a respiração por vários minutos. Logo após, quando finalmente se consultou, um médico concluiu que Houdini precisava ser operado imediatamente por causa de uma enfermidade que, naquela época, ainda era pouco conhecida: a apendicite.

O perigo de uma apendicite

Você provavelmente já ouviu alguém dizer que apêndice não serve pra nada, só pra incomodar. Embora a reclamação tenha lá sua validade, o que ela não diz é que essa inflamação não é apenas um incômodo, sem o devido tratamento ela pode ser letal.

Em Medicina Macabra 4, Arnold Van de Laar explica que a apendicite foi descrita pela primeira vez no século XVIII pelo anatomista Giovanni Battista Morgagni, que não conseguiu identificar a causa correta de suas consequências letais. Só em 1887 o dr. Thomas Morton realizou a primeira operação bem-sucedida para tratar apendicite, mostrando que a inflamação não precisava terminar com a morte do paciente.

A apendicite é um caso que exige urgência médica no tratamento. No caso de Houdini, ele deveria ter ido ao hospital em Montreal, onde uma operação poderia ter salvado a sua vida. Convencido de sua própria resistência, ele só foi buscar atendimento médico três dias depois, em Detroit. Só que o quadro já havia se agravado para uma peritonite, que se desenvolve quando o apêndice estoura.

Quando descobriu a causa do desconforto que o acompanhava há dias, a cavidade abdominal do ilusionista já estava totalmente infectada com pus. Quatro dias após a cirurgia, seu abdômen precisou ser aberto mais uma vez para que fosse lavado. Sem antibióticos adequados para tratar seu quadro naquela época, o quadro dele não melhorou e ele acabou falecendo.

Diagnosticada em cerca de 8% dos homens e quase 7% das mulheres, a apendicite pode acontecer em qualquer idade e é a causa mais comum para dor abdominal aguda. Mesmo sendo considerada banal e cotidiana, foi o perigo do qual o mestre das escapadas só teria conseguido fugir se tivesse procurado ajuda médica com a mesma rapidez com que se soltava de correntes.

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