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Wise Guy é mais que um documentário sobre David Chase, é um tratado sobre a história da TV

Dividido em duas partes, filme avalia o impacto de Família Soprano

24/09/2024

Como parte das comemorações pelos 25 anos da estreia de Família Soprano na HBO, o canal lançou recentemente Wise Guy (ou Um dos Nossos, como o título ficou em português). Dividido em dois capítulos, o documentário do vencedor do Oscar® Alex Gibney se propõe a contar a história de David Chase, o roteirista ítalo-americano que criou uma das séries mais importantes da TV mundial: Sopranos (ou Família Soprano, como ficou conhecida aqui na época).

No podcast Cinemático, do qual participo vez ou outra, Carlos Merigo, Beatriz Fiorotto e eu nos propusemos a discorrer sobre a obra, exibida entre 1999 e 2007, e trago alguns dos comentários aqui, nesta espécie de resenha. Além disso, tive a oportunidade de entrevistar o diretor, Alex Gibney, que deu bons detalhes sobre a produção. “A HBO me convidou para fazer um documentário sobre Sopranos, mas eu não estava muito interessado. Fui almoçar com David Chase e conheci um cara muito engraçado, fascinante, brilhante e que tinha uma história para contar: a de como Sopranos foi feita e como tudo aquilo foi muito pessoal para ele no começo”. Sim, porque Sopranos é diretamente inspirado na relação de David com a mãe, uma megera.

Mas, como disse no Cinemático, antes de mais nada, é bom deixar claro que, apesar de ser da vontade do diretor e ter sido vendido assim pelo canal, este não é um documentário sobre David Chase. Simplesmente porque ele não quis: o roteirista não se acha maior ou mais importante que a obra dele, e desdenha e diminui seu papel como a personagem Livia Soprano (Nancy Marchand) fazia na série. Wise Guy — um ótimo trocadilho sobre a genialidade do criador da série combinado com a gíria norte-americana para “mafioso” — acaba virando um documentário sobre Sopranos, mas não tem o que lamentar. É um baita documentário.

Porque não é só fã-apaixonado de Sopranos que vai gostar de Wise Guy. “Ele funciona para quem nunca viu a série em um aspecto: você ama muito a história da televisão, não assistiu a Sopranos, mas quer entender o fenômeno? Este é um documentário para você. É muito expositivo, tem muita ilustração de cenas [da série]…”, disse Beatriz Fiorotto no bate-papo.

A produtora prossegue em sua análise certeira. “Amei a postura do David Chase e como o Gibney tentou domá-lo, mas o Chase sabe todos os truques. Essas pessoas se conhecem, elas conhecem o jogo, um está careca de saber como o outro trabalha, então rola uma conversa muito íntima e uma dinâmica muito interessante. É tudo profundamente genuíno.“

Bia destaca ainda as atuações e a riqueza dos testes de vários atores para os papéis que aprendemos a amar e a odiar, na ambiguidade moral que a série trouxe pela primeira vez para a TV e tornou praticamente regra no mundo das séries. “Essa relação que os atores de Sopranos criaram com os personagens é muito pessoal e especial, e ali fica claro que nunca mais vai acontecer isso. Sopranos é um fenômeno de sua época.”

Grande fã de Gibney, vencedor do Oscar® por Um Táxi para a Escuridão, de 2008, e indicado por Enron: Os Mais Espertos da Sala, de 2006, Carlos Merigo, idealizador e apresentador do Cinemático enfatiza: “Diretor para participar de documentário tem que ser assim, esse é o jeito!”. O jeito, no caso, é mais do que especial. Gibney recriou o consultório da Dra. Melfi, psiquiatra de Tony Soprano, e coloca David Chase no divã, onde ele faz o papel de psicanalista. A troca entre os dois é, de fato, riquíssima. “A ligação que o Alex faz entre David Chase e a série, o criador e a criatura, para mostrar que aquilo era um trabalho de autor é genial.”

Por último, mas não menos importante, nós três destacamos o impacto de James Gandolfini (1961-2013), que deu vida a Tony Soprano, em tudo isso. “Se não fosse ele, o ator, talvez a gente não estivesse aqui falando dessa série”, finaliza Merigo.

Wise Guy está disponível na Max no Brasil.