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David Lynch e sua visão única de contar histórias

Cineasta ficou conhecido por trazer o surrealismo a suas obras

16/01/2025

O cinema perdeu um pouco de sua originalidade, ousadia e talento. O cineasta David Lynch, responsável por obras inesquecíveis como Twin Peaks, Veludo Azul e Cidade dos Sonhos, que radicalizou o cinema com sua visão sinistra e surrealista, faleceu aos 78 anos de idade.

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Lynch revelou no ano passado que tinha sido diagnosticado com enfisema após uma vida de tabagismo, e que provavelmente não poderia mais sair de casa para dirigir filmes. O anúncio de sua morte foi feito pela família em um post na página oficial do diretor no Facebook, que diz “Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas como ele diria, ‘Olhe para o donut, não para o buraco’”.

A série de TV Twin Peaks e filmes como Veludo Azul, Estrada Perdida e Cidade dos Sonhos conseguiam misturar elementos de terror, noir, suspense e o clássico Surrealismo europeu de cineastas como Luis Buñuel, de quem Lynch era considerado uma espécie de sucessor graças à sua lógica única — e por que não, muitas vezes incompreensível.

Uma carreira dedicada à arte em seus aspectos mais íntimos

Após trabalhar por anos como pintor e na produção de curtas de animação e live action, David Lynch ganhou visibilidade com sua estreia nas telonas Eraserhead, uma produção aterrorizante, de humor ácido, que se tornou uma presença perturbadora no circuito de filmes exibidos à meia-noite. Seu estilo excêntrico e intransigente logo chamou a atenção de Hollywood.

Com isso, ele foi contratado pela produtora do comediante Mel Brooks para escrever e dirigir O Homem Elefante, um drama impactante sobre um homem gravemente desfigurado que trabalha em um freak show na Inglaterra vitoriana. O longa, lançado em 1980, conquistou oito indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Direção para Lynch.

Após uma decepção de bilheterias com a adaptação de Duna, de Frank Herbert, em 1984, ele voltou à aclamação com dois filmes que capturavam e melhor definiam seu estilo já mais maduro: Veludo Azul, de 1986, e Coração Selvagem, de 1990, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes.

Também em 1990, Lynch revolucionou o universo das séries de TV com Twin Peaks, uma produção criada em parceria com o escritor Mark Frost. A história se desenvolve a partir da investigação do misterioso assassinato de uma adolescente em uma cidade no interior de Washington. A série fez toda uma geração enxergar o insólito como uma espécie de abrigo e criou uma verdadeira fixação pelo inexplicável nas narrativas modernas da televisão, inspirando o estilo de séries como True Detective.

Após Twin Peaks, Lynch ainda nos presenteou com obras como Estrada Perdida, Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos, com um estilo arrojado e histórias que enfatizavam personalidade duplas, transformações inexplicáveis e atos de violência impactantes.

O diretor era bem relutante em explicar suas obras para o público, e certa vez declarou: “Bem, imagine que você encontre um livro de enigmas, e você possa começar a decifrá-los, mas eles são realmente complicados. Os mistérios se tornam aparentes e te deixariam entusiasmado. Todos nós encontramos esse livro e é o que está rolando. E você pode decifrá-los. O problema é, você os decifra dentro de si, e mesmo se você contasse a alguém, essa pessoa não acreditaria ou entenderia do mesmo jeito que você.” De fato, cada pessoa decifra as obras de Lynch de uma maneira única.