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A relação do body horror com a experiência trans

Subgênero apresenta a disforia corporal ao grande público

29/01/2025

Todos sabemos que terror é o gênero que nos permite mergulhar em nossos medos mais profundos e sombrios, despertos de formas que jamais imaginaríamos em nossas vidas cotidianas. Dentro de um enorme espectro, o chamado body horror (ou terror corporal) é um subgênero significativo que vai além dos sustos e dos desvios de olhar.

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Os filmes de body horror — caso do indicado ao Oscar A Substância — geralmente envolvem a mutação, a desfiguração e a configuração perturbadora do corpo. Comumente, estes filmes lidam com o medo primordial da transformação corporal ou de ser perturbado pelo próprio corpo.

Ao abordar estes sentimentos, este tipo de filme pode ser especificamente relevante para a comunidade trans e pessoas que sofrem com disforia de gênero — ou seja, com desconforto ou sofrimento por sua identidade de gênero não corresponder ao sexo com o qual se nasceu. Segundo um artigo de Sophie Collins no Movie Web, esse medo da transformação do corpo muitas vezes vem com a puberdade, criando a sensação de perda de controle sobre si mesmo

the substance

Subestimado em sua importância social, o terror, neste sentido, pode transmitir o que é sentir este tipo de medo por meio de imagens perturbadoramente viscerais. Ao mesmo tempo, abre espaço para narrativas e conversas sobre as lutas das comunidades LGBTQIAP+. Segundo Collins, estes filmes podem iluminar alegoricamente as dificuldades da vida cotidiana de pessoas trans, não binárias e queer, validando suas lutas e sentimentos. Como narrado pela autora, muitas e muitas pessoas trans já relataram como este subgênero é elucidativo dos desafios que enfrentam.

Os horrores do próprio corpo

Os filmes de terror corporal tratam da conexão que se tem com o próprio corpo e com a sociedade. À medida que nossos corpos mudam em vários estágios da vida, todos sempre querem ser percebidos de uma determinada maneira ou outra. Para as pessoas transgênero, isso pode representar uma luta dolorosa, pois muitas vezes elas se sentem fora do controle de seus próprios corpos, que se desenvolvem de forma diferente do que elas veem.

Os corpos dessas pessoas acabam sendo desafiados pelas expectativas da sociedade e pelas noções binárias de gênero. O horror corporal explora justamente isso, mostrando pessoas completamente fora de controle das transformações pelas quais seus corpos estão passando. Esse subgênero oferece uma experiência reveladora das expectativas tradicionais de nossos corpos e gêneros. Ele nos permite questionar a nós mesmos e a nossa sociedade sobre como seria sentir a disforia de gênero e a perda do controle sobre nosso corpo pela qual as pessoas trans passam.

crimes do futuro

Ao assistir a filmes de terror corporal — como, por exemplo, Crimes do Futuro, de 2022, ou o polêmico Titane, de 2021 — pode-se criar um senso de pertencimento e conectividade, além de validar o sentimento de disforia. Ver a maneira como o terror corporal apresenta as transformações corporais abre espaço para explorar pensamentos e incertezas particulares sobre suas próprias transformações.

Não que isso seja fácil. Claro que dá medo e causa horror assistir nas telas essas mudanças representadas 100% das vezes de forma perturbadora. Mas, segundo a autora, para a comunidade transgênero, o maior horror vem de dentro de si. E isso não está relacionado apenas à aparência, mas a quem você é. 

Por exemplo, em Tempo, estrelado por Gael García Bernal, M. Night Shyamalan mostra quão perturbador é sentir seu corpo como um objeto estranho ao explorar tumores, infecções e outras mudanças físicas que podem acontecer conosco. Assim, ele permite que pessoas que lutam contra a disforia corporal avaliem seus sentimentos e preocupações por estarem presas em um corpo que não lhes parece natural, além de transmitir uma mensagem importante para a parte heteronormativa da sociedade. Ao fazer isso, o espectador pode interagir com uma realidade próxima à de um espectador trans. Pergunte a si mesmo: o que você faria se seu corpo não fosse o seu?

tempo

Embora os filmes de terror corporal sejam extremamente perturbadores, eles se tornam incrivelmente importantes por revelarem coisas que talvez não queiramos ver, essencialmente nos forçando a encarar nossa sociedade e nossas expectativas em relação às pessoas, bem como nossas expectativas em relação a nós mesmos. 

Para experiências transgênero e de disforia de gênero, o terror corporal é um tipo essencial de catarse para mudar a relação existente entre mentes e corpos, bem como entre a sociedade e os corpos dessas pessoas — que não dizem respeito a ninguém mais. Se você quiser aprender mais sobre a importância da comunidade transgênero, o terror corporal pode ser a resposta perfeita.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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