Crime Scene • Curiosidades • Profissionais da Morte

Como funciona o trabalho de limpeza de traumas

Profissão é abordada no livro Nem Tudo que Resta é Lixo

05/02/2025

Existe uma profissão muito específica que é a de “limpador de traumas”. Não sei vocês, mas a princípio, quando ouvi pela primeira vez o nome desta função, logo me remeteu a alguma espécie de coach charlatão. Mas, ao contrário dos coaches charlatães, os limpadores de trauma trabalham colocando a mão na massa. Ou melhor, em cenas de crimes violentos, na casa de acumuladores ou em lixo tóxico.

Aprendi o que faz um limpador de traumas lendo o excelente Nem Tudo Que Resta é Lixo, em que a jornalista e biógrafa Sarah Krasnostein narra a vida e obra de Sandra Pankhurst. Sarah foi uma empresária australiana que viveu e viu de tudo durante seus 68 anos de vida. “Limpadores de traumas” é como é chamada a equipe de limpeza profunda chamada em casos delicados, como suicídios, homicídios, decomposição de material orgânico, acumulação compulsiva e infestação de bactérias, vírus ou fungos.

Este trabalho, claro, só pode ser feito por profissionais certificados, que usam equipamentos de proteção individual, como macacões apropriados, luvas e máscaras, e manuseiam fortes produtos químicos.

Era o caso da empresa de Sandra e de tantas outras que atuam no mercado.

“Um corpo humano em decomposição emite mais de 30 componentes químicos perigosos, por esse motivo, este serviço de limpeza não pode ser efetuado por empresas normais, amadores ou equipes de limpeza em geral que não possuem a experiência e formação adequada para remover manchas de sangue, descarte de materiais perigosos ou remover partes do corpo”, explica a Attuale Brasil, que se intitula a primeira empresa a oferecer este tipo de serviço no país.

“Todo material contaminado com sangue ou outros fluidos corporais deve ser tratado como resíduo infeccioso contaminado de risco biológico”, complementa a Deathclean, empresa portuguesa que cita em seu site oficial que sangue seco, mesmo após sete dias, pode causar infecções e alergias.

Atuando em São Paulo, a Biodecon já pegou casos pesados. Em seu Instagram, os sócios dividem fotos e vídeos de casos e de seus assustadores cenários. “A gente já tirou 15 toneladas de lixo de um apartamento de 60 metros quadrados”, conta Clícia Mulet, em entrevista ao canal de Raul Ferreira Neto no YouTube, Sem Limites.

“A gente levou seis dias, usou entre seis e oito caminhões de lixo”, conta ela. O morador era um idoso com problemas de acumulação, que tropeçou sobre o lixo e ficou preso sob uma estante, que caiu por cima dele. “Ele ficou gritando por socorro por três dias, até que uma vizinha saindo para o trabalho finalmente ouviu”.

Já para casos de contaminação por sangue, como em homicídios e suicídios, Clícia explica que o descarte de panos e de superfícies contaminadas deve ser feito em local apropriado: os panos vão para barricas e os móveis são cortados para serem incinerados.

LEIA TAMBÉM: O que é o transtorno de acumulação