Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


CuriosidadesFilmes

Como Paul Tazewell criou os figurinos de Wicked

Construções narrativas e inspirações clássicas fazem parte do trabalho do ganhador no Oscar

17/03/2025

Paul Tazewell encantou a todos com seus fabulosos figurinos para o filme Wicked, cuja segunda parte será lançada em novembro deste ano. Não à toa, recebeu cinco prêmios por seu trabalho nesta temporada, incluindo o cobiçado Oscar. “É uma honra muito importante: eu sou o primeiro homem negro a receber a estatueta de Figurino, pelo meu trabalho em Wicked. Estou muito orgulhoso! Obrigado a todos no Reino Unido pelo belo trabalho, eu não conseguiria ter feito isso sem vocês.”, afirmou na ocasião. 

LEIA TAMBÉM: O guia de personagens de Wicked

Dos vestidos cor-de-rosa, repletos de detalhes e extravagância, que se contrapõem aos pretos de tramas discretas, engana-se quem pensa que não há uma construção narrativa minuciosa por trás das suas criações. Além de representar o luto pela perda precoce de sua mãe e a busca pelo seu próprio caminho, os trajes de Elphaba (Cynthia Erivo) estão intimamente ligados às texturas encontradas na natureza, em especial nas florestas, como troncos de árvores e cogumelos. Elas fazem alusão à sua defesa aos animais. 

o chapéu, uma icónica referência à Bruxa Má do Oeste e às bruxas em geral, ganha mais personalidade. É claro que antes da versão apresentada no filme houveram outras, cinco ou seis segundo Paul. Texturas diferentes, um redemoinho e até mesmo o clássico formato pontudo com pequenos twists,  entre as opções. Mas o correto, segundo o figurinista, seria aquele que fosse perfeito em escala para Cynthia Erivo. Assim, a versão apresentada no filme ganha uma aba mais larga e não é mais simetricamente pontudo. 

Enquanto isso, Glinda (Ariana Grande) se sobressai em relação a todos os outros personagens com peças na paleta do mesmo rosa usado no filme O Mágico de Oz de 1939, cujos figurinos foram assinados por Adrian Adolfo Greenberg. Tazewell não esconde que é de lá que vem grande parte de sua inspiração para a personagem. Inclusive para o vestido Bubble, que em sua versão foi confeccionado em organza de seda e bordado com lantejoulas, tudo em uma base de crinolina. O look ainda é adornado com coroa de diamantes, idealizada para parecer como se bolhas estivessem flutuando em sua cabeça. 

O glamour de Hollywood  da década de 1930, também foi uma forte inspiração para as roupas da personagem, assim como o musical da Broadway, trazendo babados e formas circulares inclusive para suas roupas de dormir. Tazewell não esconde que Glinda foi a mais divertida de vestir, talvez por ser, em sua opinião, uma mulher que usa a moda e a feminilidade ao seu favor. 

A genialidade nos detalhes

Os outros personagens podem não ganhar tanto destaque nas entrevistas de Paul, mas há alguns detalhes interessantes e até mesmo algumas mensagens subliminares que podem passar despercebidas pelos telespectadores. O Mágico (Jeff Goldblum), por exemplo, usa um olho em espiral em sua gravata Ascot, este mesmo símbolo é utilizado em todos os outros elementos ligados a Oz, como botões e nos guardas-macacos. Se você olhar de perto, nada mais é do que o emblema de Oz sentado em cima de um origami.

Já Melena Thropp (Courtney-Mae Briggs), mãe de Elphaba, na cena em que a vemos convidando seu amante secreto para sua casa, está usando um vestido que é uma papoula virada de cabeça para baixo e uma papoula em sua cintura. A flor inclusive, aparece em outros momentos da trama, em especial no arco de Elphaba, em outra referência ao campo de papoulas do clássico.

Figurinos como construção narrativa

É possível acompanhar a evolução das personagens principais através de suas roupas. Conforme amadurece e se transforma em uma pessoa pública, Glinda faz uma transição. Primeiro com vestidos mais longos e depois para a alta costura, em especial no segundo filme, adianta Tazewell. Já a transição de Elphaba pode ser observada já na primeira parte, quando ela deixa seu rígido e sóbrio uniforme e passa gradativamente a usar mais fluidez e tecidos orgânicos em seus trajes.

Para criar os mais de mil figurinos utilizados nos dois filmes, Paul contou com o apoio de mais de 70 pessoas de diferentes especialidades, inclusive artesãos, que trabalharam em oito ateliês simultaneamente. Além das roupas, centenas de adereços também foram criados para a produção, entre varinhas, sapatos, vassouras, cetros, coroas e tantos outros. O figurinista contou que fabricar chapéus e joias sempre fez parte de seu trabalho, mas que desta vez contou com a tecnologia como aliada. 

Através de impressoras 3D os itens podiam ser testados, criados e reformulados, até que chegassem ao produto final desejado. Depois, a finalização era feita manualmente com pedrarias e outros materiais que enchem os olhos dos espectadores, como os sapatos de diamantes prateados de Nessarose, cujo salto é um tornado, referência a O Mágico de Oz que o figurinista espera que seja percebida.

Aliás, os DarkSiders que leram o clássico de L. Frank Baum sabe muito bem que os sapatos não são de rubi. “Há a ideia da Cinderela e do sapatinho de cristal, e então é como se fizéssemos dos sapatos um mito e como os introduzimos em nossa narrativa de contos de fadas de fantasia.” desvendou Tazewell. “No livro, eles eram sapatos de prata, e então se tornaram sapatos de cristal e prata.”

Clássicos como fonte de inspiração

Como já comentamos, Paul se inspirou em outras versões para criar seus magníficos figurinos. O musical da Broadway está em cartaz há 22 anos, e o filme que apresentou a terra de Oz estreou em 1939. Mas há também outras produções cinematográficas baseadas no livro, Journey Back to Oz (1974), O Mágico Inesquecível (1978), The Wonderful Wizard of Oz (1982), O Mundo Fantástico de Oz (1985), De Volta ao Mundo de Oz (2007), Oz, Mágico e Poderoso (2013), Emerald City (2017). No entanto, não há nenhuma outra adaptação de Wicked para os cinemas, além da de 2024, o que com certeza dá muito mais crédito para o trabalho do premiado figurinista. 

Além do tom de rosa de Glinda (Billie Burke) da produção de 1939, é possível observar que os bordados e o volume continuam presentes na visão de Tazewell. A modernização dos looks fica por conta dos tecidos, decotes e adereços, que remetem mais à alta costura e menos à fantasias. 

Já a Bruxa Má do Oeste de Margaret Hamilton pode ser facilmente reconhecida pelo chapéu, roupas pretas e, é claro, a maquiagem verde, que inclusive na época era à base de cobre, o que provocou manchas na pele da atriz por meses. No entanto, fica claro que não há profundidade na criação do figurino da personagem que se apresenta como um estereótipo de bruxa de Halloween.

Já na Broadway os figurinos podem, e são, mais exagerados, explorando paetês e cores mais vibrantes, afinal, há uma distância considerável entre o público e o palco. O que também permite que detalhes não sejam executados com perfeição, ponto levantado por Paul inclusive. É preciso considerar também a necessidade de maior mobilidade dos atores e atrizes para realizarem coreografias e a facilidade de troca das peças durante as cenas, em especial do corpo de bailarinos. Ainda assim, é seguro dizer que, mesmo que esteja em cartaz desde 2003, o musical ainda bebe da água do filme de 1939, pelo menos até agora.

Esta não é a primeira vez de Paul em OZ

Paul Tazewell já participou de pelo menos cinco adaptações ligadas ao mundo de Oz, sendo a primeira quando ainda estava no ensino médio. Outra dessas adaptações lhe rendeu o Emmy em 2016 na categoria Melhor Figurino pela série The Wiz Live da NBC. 

Sobre o convite para trabalhar na produção de 2024, ele contou à Teen Vogue que “foi uma oportunidade única na vida de pegar isso e torná-lo nosso. Quando você está abordando um musical para o palco, você o vê como uma pintura. Para isso, estávamos fazendo uma visão de 360 ​​graus do que esse mundo seria”.

Seu amor pelo teatro o levou a trabalhar na Broadway. Lá, recebeu o Tony de Melhor Figurino de Musical por Hamilton (2016), de Lin-Manuel Miranda. Seus outros trabalhos indicados ao Tony incluem The Color Purple (2006), In the Heights (2008), Memphis (2010), A Streetcar Named Desire (2012), Ain’t Too Proud (2019), MJ (2022) e Suffs (2024).

No cinema, atuou em West Side Story (2021), de Steven Spielberg , pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar, tornando-se o primeiro figurinista afro-americano a ser indicado na categoria que posteriormente viria a ganhar.

Para os jovens amantes da moda e aspirantes a figurinistas, Paul aconselha: “Mantenha sua paixão. Se você é uma pessoa apaixonada por roupas, performance, teatro ou filme, ou televisão, e você descobre que tem habilidades que são adjacentes a isso, há um grande presente em ser capaz de dar e apoiar performances e produções. O que eu trago para a narrativa é realmente importante para o público e como eles vivenciam um filme ou peça de teatro”.

Das páginas para os palcos e telas

Em 1995, o autor Gregory Maguire decidiu reimaginar e expandir o universo criado por L. Frank Baum trazendo uma nova perspectiva sobre a Bruxa Má do Oeste e sua verdadeira natureza. Uma pergunta, ao mesmo tempo simples e profunda, é o fio condutor de sua narrativa: nascemos ou nos tornamos maus?

Assim surgiu Elphaba, uma personagem complexa cuja história é contada no novo clássico da literatura Wicked. É preciso ressaltar que o musical é levemente baseado nos livros, enquanto o filme é fortemente influenciado pelo musical. Já a obra literária primeiramente é recomendada para adultos, focando em questões éticas, sociais e filosóficas. 

wicked

Uma leitura obrigatória para os fãs do filme e do musical, mas que devem se preparar para a profundidade e o tom mais sombrio da obra. Afinal, o livro explora temas maduros e difíceis, como abuso sexual, conflitos políticos, infidelidade, racismo e o impacto da religião na sociedade.

Mas em sua essência, Wicked trata de temas universais, tão contemporâneo quanto quando foi escrito, por se tratar de uma jornada envolvente que explora amizade, aceitação e os desafios do preconceito.

LEIA TAMBÉM: Wicked + 13 musicais que são a cara da Caveira

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

Website

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

Wicked + Brindes Exclusivos
R$ 89,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
O Príncipe e a Costureira + Brinde Exclusivo
R$ 89,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
FilmesListas

As mortes mais ridículas de Premonição

Desde que o primeiro filme foi lançado em março de 2000 (sim, já se passaram 25...

Por DarkSide
Crime Scene FictionLançamentoLivros

Lançamento: Tudo em Família, por John Marrs

Imagine uma casa dos seus sonhos. Um refúgio abandonado, marcado pelo tempo, mas...

Por DarkSide
Crime Scene FictionLançamentoLivros

Lançamento: A Casa da Escuridão Eterna, por Riley Sager

Prepare-se para visitar essa casa com um passado sinistro, que vai fazer seu coração...

Por DarkSide
NovidadesSéries

Crystal Lake: Linda Cardellini entra para a série

Parece que a tão esperada série Crystal Lake — prólogo de Sexta-Feira 13 —...

Por DarkSide
FilmesNovidades

Jogos Mortais XI é cancelado: será o fim da franquia?

Xiii… parece que Jogos Mortais XI teria sido cancelado depois da produção ter sido...

Por DarkSide