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A Bienal do Livro do RJ tem muita história

E a Caveira te conta tudinho aqui

08/05/2025

O ano era 1983. O presidente da República era o general João Figueiredo e após quase vinte anos sob um regime ditatorial militar, o Brasil dava início a um lento e gradual processo de redemocratização. O país também enfrentava uma crise econômica marcada pela inflação crescente e a desvalorização do cruzeiro, unidade monetária da época. Em 1983, o Brasil se despediu de Garrincha, um dos maiores nomes do futebol, e de Clara Nunes, uma das cantoras mais emblemáticas da música popular brasileira. No mesmo ano, outro acontecimento marcante: em 20 de dezembro a Taça Jules Rimet foi roubada da sede da Confederação Brasileira de Futebol no Rio de Janeiro. Um ano cheio de emoções, 1983 também ficou marcado pelo surgimento de um dos grandes eventos de entretenimento e literatura do país: a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro

LEIA TAMBÉM: Rio de Janeiro é a Capital Mundial do Livro

1983: a primeira edição 

Tudo começou no salão de eventos do hotel Copacabana Palace como uma feira de livros organizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL. Na época, a Bienal se chamava Feira Internacional do Livro do Rio de Janeiro e ninguém imaginava a dimensão que o evento tomaria nos próximos anos. 

bienal rj 1983

A iniciativa veio de Regina Bilac Pinto, que não apenas ocupava o cargo de presidente da SNEL, como também era a primeira mulher à frente do sindicato. Ainda dando seus passos iniciais, a equipe de organização era pequena com algumas pessoas fazendo todo o trabalho e a estrutura era relativamente modesta, composta por estandes e sessões de autógrafos. No entanto, a importância cultural da Feira foi percebida imediatamente tanto pelas editoras e autoridades quanto pelo público, que, em uma época sem redes sociais, encontrou no evento uma forma de interagir com seus autores favoritos. 

Em 3 de novembro de 1983, a Feira Internacional do Livro do Rio de Janeiro foi então oficialmente inaugurada pelo governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e seu vice, Darcy Ribeiro, cobrindo uma área de 1.400 metros quadrados no Copacabana Palace. Entre os dias 3 e 13 de novembro, o evento foi visitado por cerca de 20 mil pessoas e teve a presença de 86 editoras. 

bienal rj 1983

A Feira Internacional do Livro foi marcada por presenças ilustres, eventos marcantes e novidades tecnológicas. No estande da Editora Nobel, um computador chamou a atenção do público, permitindo obter informações sobre 30 mil títulos de livros catalogados. O ex-presidente Jânio Quadros compareceu para o lançamento de seu primeiro livro de ficção, Quinze Contos, enquanto Gilberto Freyre foi homenageado pelos cinquenta anos de Casa Grande e Senzala. O público também participou do primeiro Concurso Nacional de Cartazes contra o Abuso da Reprografia e de seminários como O Livro no País e O Livro na Atualidade Brasileira. Já as crianças puderam assistir à peça A Bela Borboleta do escritor Ziraldo, que se tornaria uma presença constante nas próximas edições da Feira. 

Ao todo, cerca de 50 autores lançaram livros e distribuíram autógrafos na I Feira Internacional do Livro, como Antonio Callado, Orígenes Lessa, Caio Fernando Abreu, João Ubaldo Ribeiro, Ana Maria Machado, Manuel Puig e Artur da Távola. Além disso, todos que compraram livros no evento receberam um “checklivro” no valor de 10% da sua compra, o qual poderia ser resgatado em qualquer livraria do país até maio de 1984. 

bienal rj 1983

Anos 80 e 90: consolidação 

A Feira de 1983 foi um grande sucesso. O evento não apenas teve uma ótima aceitação entre o público, como também foi extremamente benéfico para o SNEL, que atraiu mais associados e aumentou sua circulação de caixa. Rapidamente, a presidente do sindicato, Regina Bilac Pinto, iniciou uma negociação com a Câmara Brasileira do Livro – CBL, que promovia a Bienal do Livro em São Paulo, estabelecendo um acordo que vigora até hoje: a festa literária carioca acontece em anos ímpares, enquanto a paulista em anos pares.

Nos anos seguintes, a Feira Internacional do Livro começou a se consolidar no calendário literário. Em 1985, o evento aconteceu no terceiro andar do shopping Fashion Mall, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Contudo, foi somente na terceira edição, em 1987, que o evento passou a ser chamado de Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, sugestão do presidente da SNEL na época, Alfredo Machado. Foi também nessa edição que a Bienal passou a ser realizada no Riocentro, o segundo maior centro de convenções da América Latina, localizado na Zona Oeste com pavilhões que somam 100 mil metros quadrados. 

bienal RJ 2 edição

A edição de 1987 consagrou a Bienal do Livro como um dos maiores eventos do calendário cultural da cidade, ficando atrás somente de grandes comemorações como o Carnaval e o Réveillon de Copacabana. Neste ano, a Bienal já contava com 123 estandes e, além das editoras e livrarias, também teve a presença de 11 gravadoras, que participavam do I Salão Nacional do Disco. O local também trouxe novas experiências para o público, com salas de vídeo que exibiam documentários, videoclipes e novelas. 

A cada edição que passava, a Bienal acompanhou diferentes momentos do nosso país. Foram muitas fases diferentes até que o evento assumisse os contornos que possui atualmente. Segundo o editor, Eduardo Salomão, as edições de 1983, 1985 e 1987 fazem parte da “fase romântica” do evento. Tratava-se de algo experimental e relativamente pequeno, caracterizado como uma feira de livros onde o volume de oferta era muito maior do que o das livrarias. 

Paulo Coelho e Jorge Amado

A partir de 1989, iniciou-se um movimento de consolidação da Bienal como um evento internacional. Em 1995, o evento contou com 385 estandes e um investimento de 15 milhões de dólares, além de uma festa de abertura no Copacabana Palace, a qual contou com a presença do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Esta sétima edição também ficou marcada por um encontro memorável entre os escritores Jorge Amado e Paulo Coelho. 

Já em 1999, marcando sua “transformação em evento cultural”, a IX Bienal foi a primeira a ter um país homenageado e um Café Literário, espaço dedicado para debates e encontros com a participação de autores nacionais e estrangeiros. O evento também teve a ilustre presença do autor português José Saramago, o qual um ano antes havia recebido o prêmio Nobel da Literatura. 

José Saramago

Anos 2000 e além: um evento cultural

Com a entrada no novo milênio, a Bienal continuou se reinventando, transformando-se em um evento cultural cada vez mais completo. Deixando de ser uma feira de livros, passou a focar na conexão entre o público leitor e autores, editoras e livrarias, no que a organização chama de “relação de afetos e experiências”. Com um maior número de atrações, estandes e interações a Bienal foi crescendo de forma exponencial. 

Em 2005, por exemplo, o escritor norte-americano Tom Wolfe veio pela primeira vez ao Brasil para fazer a conferência de abertura da XII Bienal. Em 2011, foi a vez de outro momento marcante: Ziraldo e Mauricio de Sousa se reuniram para lançar seu primeiro livro juntos. No mesmo ano, um dos principais temas discutidos foi o surgimento dos e-books, os livros digitais. 

Ziraldo e Mauricio de Sousa

Com o rejuvenescimento do perfil do leitor médio e um público cada vez mais jovem, a partir de 2007, a organização criou atrações voltadas para essa faixa etária. Um dos resultados foi a Arena Jovem, a qual atraiu multidões ao longo dos anos com a presença de autoras como Meg Cabot e Thalita Rebouças, além de youtubers e jovens atores. Outro incentivo de leitura para o público mais jovem acontece com o projeto de visitação escolar, em vigor desde 1997, que garante a entrada livre na Bienal para alunos da Secretaria Municipal de Educação do Rio e um voucher para a compra de livros. 

Em 2019, a Bienal sofreu uma tentativa de censura a uma HQ com temática LGBTQIAPN+ quando a prefeitura do Rio de Janeiro ordenou que os exemplares fossem recolhidos. A organização do evento foi categórica, afirmando que não iria retirar os livros e que a Bienal era um lugar que fornecia voz a todos os públicos. Entre tentativas de censura, com fiscais da prefeitura indo ao evento para lacrar livros “impróprios” e decisões judiciais, a XIX Bienal internacional do Livro ficou marcada pelas manifestações contra a censura e a reação contra a homofobia, como o “beijaço” feito pelo público e o manifesto assinado por autores e editores. O evento foi um sucesso e atraiu mais de 600 mil visitantes, 300 convidados e proporcionou mais de 1300 atividades culturais. 

Meg Cabot

Em 2021, uma mudança: com o mundo impactado pela pandemia da COVID-19, a XX Bienal foi realizada de forma híbrida, ou seja, presencial e virtual entre os dias 3 e 12 de dezembro. Com as restrições sanitárias e seguindo os protocolos de segurança, o Riocentro contou com 250 mil visitantes e alguns momentos marcantes, como o discurso de abertura da ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, a qual foi homenageada pelo SNEL e realizou uma fala em defesa da democracia do país. Além disso, o evento foi marcado por presenças ilustres como Julia Quinn, Valter Hugo Mãe, Conceição Evaristo e um velho conhecido dos DarkSiders, Junji Ito

Em 2023, no seu aniversário de 40 anos, a XXI Bienal contou com estandes gigantescos e eventos grandiosos, tornando-se a maior Bienal de todos os tempos. Promovido a Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Rio de Janeiro, o evento ocupou 90 mil metros quadrados e recebeu mais de 380 autores, contando com uma aventura imersiva para crianças, as quais eram recebidas pelo Chapeleiro Maluco de Alice no País das Maravilhas, um Baile de Máscaras inspirado no universo de Os Bridgertons, e um fórum voltado para discussões sobre as transformações tecnológicas, como o uso de inteligência artificial e a preservação do direito autoral. Cada vez mais conectada com o mundo digital e virtual, o evento foi cunhado como “o Rock in Rio dos Bookstan”.

Junji Ito na Bienal 2021

42 anos de muita história e contando!

Desde seu surgimento em 1983, a Bienal se mostrou conectada com os momentos históricos, culturais e políticos do Brasil. O evento, que começou de forma modesta no Copacabana Palace, acompanhou transformações importantes, como o fim do governo militar em 1985, o processo de redemocratização e as eleições diretas para presidente, os planos econômicos e as trocas de moedas, a febre dos telefones celulares, as novas formas de fazer e vender livros, o surgimento dos e-books, a explosão das redes sociais e mais recentemente, a pandemia da COVID-19. 

Seguindo firme e forte, a XXII Bienal do Livro acontece esse ano entre 13 e 22 de junho de 2025. Com a cidade do Rio de Janeiro sendo escolhida pela Unesco como a Capital Mundial do Livro, as expectativas para o evento são altas. Com o conceito de Book Park, o evento vai ser transformado em um verdadeiro parque de diversões literário com o objetivo de trazer uma experiência única para o público. 

Bienal RJ 2025

Com o objetivo de promover uma conexão ainda maior com o público, a Bienal de 2025 promete narrativas imersivas e atraentes para mostrar que os livros são cultura, educação, diversão, entretenimento e lazer. Entre algumas das atrações confirmadas estão uma roda-gigante, batizada de “leitura nas alturas” com personagens e trechos de livros narrados em áudio; a festa de 60 anos da Mônica; o baile de máscara da realeza com a autora Julia Quinn; um escape room baseado na obra de Agatha Christie e um espaço, no estilo de Ágora da Grécia antiga, voltado para encontros e dinâmicas com autores na área externa do Riocentro.

O objetivo aqui é levar o público a uma viagem no tempo em uma época em que a oralidade era essencial para que certas histórias fossem conhecidas e divulgadas. A Bienal também vai contar com o Palco Apoteose, voltado para pré-adolescentes; o tradicional Café Literário e um Espaço Infantil. Algumas das presenças confirmadas são Chimamanda Ngozi Adichie, G. T. Karber, Cara Hunter, Mario Sergio Cortella e Raphael Montes. Sabe quem mais vai estar por lá também? A Caveira! Venha dar um oi e conferir de perto o que preparamos para você. Estamos te esperando.

bienal 2025

LEIA TAMBÉM: Bienal do Livro Rio terá escape room em homenagem a Agatha Christie

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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