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Agustina Bazterrica: “Os meus livros servem para refletir sobre as injustiças da realidade”

Entrevista exclusiva da autora de Saboroso Cadáver

15/07/2025

Imaginar uma sociedade em que a carne humana virou alimento e mercadoria certamente alugou um triplex na cabeça de muitos leitores e leitoras. A responsável por isso é Agustina Bazterrica, a autora argentina de Saboroso Cadáver e da coletânea Dezenove Garras e um Pássaro Preto.

LEIA TAMBÉM: Como a realidade alimenta o horror na obra de Agustina Bazterrica

A autora já tem uma relação bem próxima com o Brasil por ter familiares morando aqui, mas essa conexão ficou ainda mais forte em sua passagem pela Bienal do Livro Rio, onde Bazterrica pode, mais uma vez, estar perto dos fãs e compartilhar um pouco de sua visão sobre a sociedade, a literatura e a América Latina. Em uma entrevista exclusiva ao DarkBlog, a autora falou sobre todos esses assuntos e muito mais. Confira:

DarkBlog: Saboroso Cadáver teve um grande impacto internacional e é um best-seller no Brasil. Como nasceu a ideia do livro?

Agustina Bazterrica: A ideia surgiu graças ao meu irmão Gonzalo Bazterrica, que antes da pandemia tinha um restaurante, onde nos reuníamos para jantar e beber vinho. E ele começou a falar sobre o que é a alimentação consciente e, indo nessas conversas, comecei a fazer várias mudanças: uma delas foi deixar de comer carne. Morando na Argentina, eu tive uma espécie de revelação sobre o consumo de carne, e pensei: nós somos animais, somos feitos de carne e poderíamos perfeitamente estar pendurados em um açougue como qualquer outro ser. Tive essa ideia seis meses antes de escrever a primeira palavra. Também quero esclarecer que quando escrevi era vegetariana, e fui vegetariana por dez anos. Hoje não sou mais por questões de saúde, especificamente pela perimenopausa, que é um tema tabu, mas que precisamos falar. No meu caso, tenho uma grande deficiência de ferro pela quantidade de menstruações que tenho, e tenho que conviver com isso. Então, às vezes o corpo só te pede outra coisa, não é mesmo?

agustina bazterrica saboroso cadáver

D: Você prefere escrever romances ou contos? O que te atrai mais em cada formato?

AB: Durante muito tempo preferi escrever contos porque me interessava esse formato no qual você precisa dizer muito em pouco espaço, e você tem que ser muito preciso. Mas na verdade eu acabo utilizando essa técnica nos romances também. Não é como se eu fosse deixar de escrever contos. Agora eu tenho pensado em ideias fortes o suficiente para um romance. Mas também posso voltar a escrever contos, há pouco tempo escrevi um, não vou deixar de fazer isso. Me interessa também a poesia, pois também uso recursos poéticos para tudo o que escrevo.

D: Você possui uma relação bem pessoal com o Brasil. Como isso influencia a sua conexão com o público brasileiro? Você fala ou entende o português (ou portunhol)?

AB: Entendo um pouco, embora o meu cunhado sempre pegue no meu pé porque eu deveria saber mais. Mas acredito que o que nos une seja o espírito latinoamericano, essa ideia de que você pode abraçar um estranho como você abraçaria um irmão, uma irmã, esta questão de solidariedade. Entendemos que estamos no mesmo lugar, de alguma maneira, pois somos de países muito sofridos, que foram conquistados em vários sentidos. Mas ao mesmo tempo temos resiliência de sobra porque saímos das crises e nos reerguemos. Temos essa identidade cultural enorme, sou fascinada.

D: O que significa para você participar da Bienal do Livro do Rio?

AB: É a primeira que participo e é enorme, é incrível, é uma alegria e uma honra. Adoro ter esse contato com os leitores, conhecer outros escritores e escritoras. Tudo o que envolve falar de livros é fascinante, e que isso dure para sempre, demonstrando que as futuras gerações seguirão lendo. 

Agustina

D: As suas histórias misturam terror com crítica social. Você se considera uma autora política?

AB: Creio que todo autor seja político pois somos animais políticos. Não tem como não ser político, ainda que você escreva livros de entretenimento, esse conteúdo é uma posição política. Mesmo que você queira fazer só isso e não se envolva com causas sociais está tudo bem, isso não é uma crítica. Acredito que os livros de entretenimento precisam existir, mas o que sai de mim não é só isso. O que sai de mim é tudo aquilo que me interpela, tudo o que me parece injusto. Eu simplesmente traduzo isso para os meus livros, sem querer fazer sermão ou passar uma mensagem, não é nada disso. Mas sim, para mim os meus livros servem para refletir sobre as injustiças da realidade.

D: Você pode nos contar algo sobre os seus próximos projetos?

AB: Estou escrevendo um romance, também é uma distopia, que se passa em Buenos Aires. Então, a diferença pras minhas outras obras é que essa história é 100% argentina, ou platense, com direito a todos os insultos argentinos, que para mim são os melhores. É sobre todos os insultos e tipos de palavras que surgiram na prisão. Os presos tinham esses códigos com palavras que atualmente usamos no dia a dia na Argentina. Vai ser um romance com bastante diálogo, não vou muito pelo lado do terror, mas sobretudo como uma ode à Argentina.

LEIA TAMBÉM: Cantora de ópera? Veja curiosidades sobre Agustina Bazterrica

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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