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DarksideEntrevista

Daniel Cruz: “Não gosto de filmes e séries sobre casos reais”

Confira a entrevista do autor de Anjos Cruéis e Jeffrey Dahmer: Canibal Americano

25/07/2025

Com muito cuidado e responsabilidade, Daniel Cruz é hoje uma das principais referências no estudo de true crime no Brasil. Depois de anos dedicados ao site OAV Crime, Daniel migrou do ambiente digital para as páginas do livro, onde encontrou um espaço para aprofundar ainda mais os seus estudos sobre casos que chocaram o mundo.

LEIA TAMBÉM: Anjos Cruéis pelo mundo: Estudos recentes sobre a maldade infantil

Ele é responsável pelo pioneiro Anjos Cruéis, dedicado a estudar casos de crianças criminosas, e pelo lançamento Jeffrey Dahmer: Canibal Americano, a obra mais completa sobre o caso publicada no Brasil — ambos do selo Crime Scene. Em uma conversa ao DarkBlog, Daniel Cruz falou sobre a migração do ambiente digital para os livros, a responsabilidade sobre publicar obras sobre crimes reais e também sobre as adaptações ficcionalizadas de true para filmes e séries. Descubra, inclusive, o que ele achou da série Monstro, de Ryan Murphy:

DarkBlog: Você passou anos estudando casos reais no site OAV Crime. Como foi a transição do digital para os livros?

Daniel Cruz: Foi uma transição natural. Eu comecei e passei muitos anos no digital e acreditava que quando surgiu a internet muita coisa iria mudar. Achei incrível a possibilidade de escrever e ao mesmo tempo publicar mídias, uma coisa que os livros não conseguem. Achei bastante interessante essa nova forma de comunicação, que era mais interativa. Antigamente eu acreditava que a internet iria acabar absorvendo esse mercado, até mesmo o mercado literário. Que os livros iriam meio que cair em desuso. Como muitas pessoas, eu me tornei entusiasta e mergulhei de cabeça. Aprendi bastante sobre paginação eletrônica, hipertexto… Aí vieram os e-books e foi a mesma coisa. Quando comecei não tinha essa visão, achei que a internet tomaria todas essas outras formas de informação e tudo seria digital. E isso não só acabou não acontecendo, como se provou o contrário. Hoje o mercado literário está extremamente aquecido. Hoje me tornei entusiasta dos livros e da literatura. Depois de escrever centenas de textos, cheguei à conclusão de que também tinha capacidade e background para entrar no mercado literário e escrever um livro. Sou bastante rigoroso no meu trabalho, gosto de me aprofundar nos temas que escrevo. E isso só é possível através dos livros.

Daniel Cruz

D: A maldade infantil ainda é um tabu bem grande. O que mais te surpreendeu ao mergulhar neste universo específico na pesquisa de Anjos Cruéis?

DC: O que me surpreendeu foi o fato de que as crianças têm a capacidade de cometer atos tão brutais quanto o pior dos adultos. Costumamos ver as crianças de uma maneira bastante pura. Não temos essa visão de que uma criança pode cometer um ato de maldade. Tudo bem, existem crianças impossíveis de lidar, agressivas, mas isso compreendemos porque são crianças, e crianças são assim mesmo. Elas estão se desenvolvendo, o cérebro só matura depois dos 20 anos, então entendemos bem essa questão. Mas determinados tipos de maldade são diferentes. Até temos uma noção de que crianças podem cometer atos malignos, mas a partir do momento em que eu me aprofundei, vi que havia casos em que a maldade praticada era igual ou até mesmo pior do que alguns casos de adultos. 

D: Além de ser um estudo sobre a maldade infantil, Anjos Cruéis também é, de certa forma, uma crítica sobre a maneira como lidamos com esses casos. O que as crianças do livro têm a nos dizer sobre a sociedade?

DC: Vivemos em uma sociedade que tem como uma de suas características principais a indiferença. Infelizmente somos indiferentes uns com os outros e isso acaba sendo projetado na forma como lidamos com as crianças, de não levar a sério, de não se preocupar da maneira certa com determinados comportamentos. Se tivermos um foco maior nesse tipo de empatia e humanidade, podemos começar a identificar determinados comportamentos dessas crianças e podemos tornar o mundo melhor. Pode ser a pior criança que existe, se tivermos cuidado, empatia e cuidarmos melhor dessa criança, ela pode ter um futuro diferente. 

crianças psicopatas

D: Como é a sua bússola ética ao narrar essas histórias? Quais cuidados específicos você adota?

DC: Casos criminais podem ser bem impactantes, então é preciso ter alguns cuidados em determinadas situações. Primeiramente, eu preciso ter certeza do que estou escrevendo para não passar nenhuma informação errada ou que possa ser fragmentada, ou até mesmo impactar de maneira negativa a vida dos envolvidos com o caso. No caso de crianças é ainda mais perigoso porque você está lidando com um indivíduo que não podemos condenar, porque é uma criança que tem todo um desenvolvimento pela frente. Se a gente não pode fazer isso nem com adultos, precisamos ter uma visão mais empática com tudo o que envolve crianças. Há muito estigma em torno delas. Quando taxamos uma criança desde cedo como “cruel” ou “perversa” isso vai ter um impacto muito grande na mente imatura dela, da família e pode, em vez de resolver, gerar ainda mais problemas. É preciso ter essa sensibilidade.

D: Você também escreveu o recém-lançado Jeffrey Dahmer: Canibal Americano. O caso voltou a ser comentado recentemente por causa da série Monstros, de Ryan Murphy. Na sua opinião, de quem estudou exaustivamente o caso, no que a série acertou e no que ela errou ao abordar o tema?

DC: Eu particularmente não gosto de filmes e séries sobre casos reais, porque a ficção é entretenimento. Quando os roteiristas pegam um caso real para retratar, não estão muito interessados na realidade. Por mais que a história tenha acontecido, seja um personagem real, o Dahmer existiu, a vizinha dele existiu, o pai existiu, mas muito do que é retratado nessa série é ficção, não existiu na realidade. Às vezes temos personagens inventados ou trocados. A vizinha do Dahmer, por exemplo, dizia que escutava barulhos pelo duto de ar-condicionado, isso nunca aconteceu. Ela nunca escutou barulhos. É até um caso recorrente quando falamos de assassinos em série que todo mundo fica surpreso. Ninguém nunca desconfiou de nada, ninguém nunca escutou nada. A única coisa que realmente tinha no caso do Dahmer era o mau cheiro no prédio por causa das pessoas que ele matava no apartamento, mas ninguém suspeitava que fosse isso. Normalmente essas séries tomam essas liberdades poéticas, sem muito compromisso com a realidade. Sendo bem honesto, eu não gostei da série. Pro meu gosto particular, quando algo real vai ser retratado na ficção, ele precisa ser o mais próximo da realidade, até para não causar falsas ideias. Pois as pessoas começam a tomar aquilo como se fosse verdade. É uma série legal se você for pela questão do entretenimento, mas se a pessoa quiser entender de fato o que aconteceu na história, não aconselho. Recomendo buscar outros caminhos.

arquivo monstros reais Jeffrey Dahmer

D: Levando isso em consideração, tem alguma série ou filme sobre um caso real que você considere que conseguiu ser razoavelmente fiel aos fatos?

DC: Tem vários. Tem um filme específico que, embora não seja 100% fiel, eu gosto bastante, ele se chama Cidadão X, que é um filme feito para a TV que retrata o caso de um assassino em série soviético chamado Andrei Chikatilo. É um caso bastante conhecido, bem brutal e horrível. E acho que o filme, de modo geral, acerta bastante. Mas de modo geral esses filmes têm muita exposição desnecessária de determinadas situações e acabo assistindo apenas pelo entretenimento, e não como uma ferramenta de aprendizagem. Principalmente filmes sobre assassinos psicopatas acabam retratando-os de uma maneira muito mitificada, como é o caso do Hannibal Lecter, que é retratado como um erudito. Mas isso não existe na realidade.

LEIA TAMBÉM: 10 Fatos sobre Jeffrey Dahmer que você provavelmente não conhecia

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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