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The Rocky Horror Picture Show: 50 anos de Transgressão

Entenda o sucesso do filme que nunca saiu de cartaz

22/08/2025

O ano era 1975. Com fantasias fabulosas, músicas extravagantes e uma atitude abertamente camp, chegava aos cinemas aquele que se tornaria o filme há mais tempo em cartaz na história: The Rocky Horror Picture Show. Uma adaptação do musical criado por Richard O’Brien poucos anos antes, o filme conta a história de um jovem casal que durante uma noite chuvosa sofre um contratempo com seu carro. Procurando por ajuda, eles entram em um castelo sinistro onde finalmente conhecem o Dr. Frank-N-Furter, um cientista travesti alienígena do planeta Transsexual, que decide mostrar aos visitantes sua nova criação, um homem chamado Rocky. 

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Embora a recepção inicial tenha sido negativa, The Rocky Horror Picture Show logo se tornou um sucesso nas sessões da meia-noite. Vestido como um deus do glam rock e determinado a seduzir todos os seu redor, Frank-N-Furter conquistou o público, incitando uma participação nunca vista antes na história do cinema. À medida que a popularidade do filme cresceu, os espectadores começaram a ter um papel ativo em suas exibições, vestindo-se como os personagens, dançando e imitando suas ações de forma sincronizada com o que era exibido nas telas. 

Para além de sua paródia aos filmes de ficção científica e filmes de terror B, The Rocky Horror Picture Show também se tornou um espaço seguro para a comunidade LGBTQIA+, transformando-se em uma celebração da diferença, libertação sexual, fluidez de gênero e de uma vida queer. Em essência, The Rocky Horror Picture Show se tornou um ode à todos aqueles que já se sentiram deslocados e excluídos ao longo da vida. Eles não estavam sozinhos e finalmente haviam encontrado um lugar para chamar de seu. 

The Rocky Horror Picture Show

50 anos depois de sua estreia, o filme continua mais atual do que nunca. Com suas músicas icônicas e personagens cativantes, a produção não apenas inspirou inúmeras outras, como também cavou seus saltos brilhantes na cultura pop e nunca mais saiu do nosso imaginário, conquistando novos fãs com o passar do tempo. 

Tudo começou com um ator desempregado em Londres

Antes de se tornar um filme cultuado, The Rocky Horror Picture Show foi um musical, fruto da imaginação do ator Richard O’Brien, que no início dos anos 1970 estava vivendo em Londres. Desempregado, ele escreveu parte do roteiro durante o inverno, visando apenas passar o tempo. Fã de ficção científica e filmes de terror B, O’Brien desejava combinar em seu musical o humor involuntário de tais produções com os diálogos marcantes do terror trash, os músculos dos filmes protagonizados pelo ator e fisiculturista Steve Reeves e o rock ‘n’roll dos anos 1950. Aliado a tudo isso, a peça ainda foi influenciada pela cena do glam rock que se popularizou na cultura britânica da época. 

Com o roteiro ainda inacabado, ele mostrou a história para o diretor australiano Jim Sharman, um velho conhecido, que decidiu produzir o musical no Royal Court Theatre, um pequeno teatro voltado para projetos experimentais no distrito de Chelsea em Londres. Quando a peça começou a ser ensaiada, o título original, They Came from Denton High, foi alterado, por sugestão de Sharman, para The Rocky Horror Picture Show. 

The Rocky Horror Picture Show

Rapidamente o Royal Court Theatre, com seus 60 assentos, tornou-se pequeno demais para a produção, que foi transferida para outros lugares, até encontrar, em novembro de 1973, aquela que seria sua casa por muito tempo: o King’s Road Theatre. Com 500 assentos, o teatro foi palco de The Rocky Horror Picture Show por seis anos. Um ano depois, o musical fez sua estreia em Los Angeles, sendo posteriormente encenado em outras cidades, como Nova York. Era só uma questão de tempo até Frank-N-Furter dominar as telas dos cinemas. 

The Rocky Horror Picture Show vai para as telonas

Em 1974, Richard O’Brien decidiu adaptar o musical para os cinemas, trabalhando novamente com Jim Sharman. Tudo começou quando o ator foi abordado pela equipe de ninguém mais, ninguém menos do que Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, que queria comprar os direitos de The Rocky Horror Picture Show para interpretar Frank-N-Furter. Quando O’Brien mencionou a Sharman a proposta, o diretor rapidamente disse ao colega para não a aceitar, já que isso significaria que a dupla nunca seria capaz de fazer sua própria adaptação. A partir disso, os dois decidiram colocar em prática seu projeto, indo para Los Angeles e conversando com o produtor Lou Adler, que abriu as portas para a negociação com a 20th Century Fox. 

O estúdio deu então a O’Brien e Sharman duas opções para o projeto: contar com um orçamento razoável e a presença de estrelas do rock ou com um orçamento reduzido, mas mantendo a equipe e o elenco originais da produção de Londres. Sharman e O’Brien não pensaram duas vezes e mantiveram grande parte de seus conhecidos e amigos. A única exceção se deu por intervenção do estúdio, que insistiu que o casal principal, Brad e Janet, deveriam ser substituídos por atores estadunidenses, Barry Bostwick e Susan Sarandon. 

The Rocky Horror Picture Show

A produção começou oficialmente em outubro de 1974 com um orçamento de 1,4 milhões de dólares. As filmagens se estenderam por quase dois meses, acontecendo em Bray Studios, um set de filmagens, e Oakley Court, uma casa de campo construída no século XIX. Ambas as locações eram localizadas em Berkshire, na Inglaterra, e foram previamente utilizadas pela Hammer Film Productions como cenários de seus icônicos filmes de terror. Isso possibilitou que The Rocky Horror Picture Show reutilizasse muitos adereços de antigas produções da Hammer. O tanque e o boneco usados durante o nascimento de Rocky, por exemplo, apareceram originalmente no clássico A Vingança de Frankenstein de 1958.

Apesar disso, as filmagens não foram tranquilas e exigiram bastante da equipe, que não possuía tempo para descansar ou socializar. Devido ao orçamento contado, muitas decisões criativas se mostraram pouco práticas e para piorar, as condições climáticas estavam longe de serem perfeitas, já que a produção ocorreu durante o outono. As temperaturas frias e o uso constante de água gelada, fizeram com que grande parte do elenco ficasse resfriado, com Susan Sarandon chegando a desenvolver um quadro de pneumonia.

Entre tantos talentos, há um que se destacou aos olhos de todos: o ator Tim Curry, membro da produção original, que fez sua estreia no cinema como o memorável Dr. Frank-N-Furter. Responsável por dar vida ao personagem que encantou os fãs ao longo dos anos, Curry chamou a atenção por suas habilidades de atuação e por construir nas telas um personagem glamuroso, sedutor e sombrio. Não é à toa que após The Rocky Horror Picture Show, Curry construiu uma carreira marcada por personagens inesquecíveis, como o Lord das Trevas em A Lenda (1985) e Pennywise em It – Uma Obra Prima do Medo (1990).

The Rocky Horror Picture Show

A icônica cena de abertura

Desde a sua primeira cena, The Rocky Horror Picture Show já mostra a que veio. O filme começa com uma tela em preto que rapidamente revela grandes lábios femininos, os quais passam a se mover em sincronia com uma voz masculina, estabelecendo o tema da androginia e fluidez de gênero abordado pelo longa. A cena e a música Science Fiction/Double Feature foi filmada utilizando os lábios da atriz Patricia Quinn (que interpreta Magenta) e a voz de Richard O’Brien (que também dá vida a Riff Raff). 

A música estabelece a homenagem que o filme faz aos clássicos do terror B e da ficção científica, elencando títulos como O Dia em que a Terra Parou (1951), Flash Gordon (1936), O Homem Invisível (1933), King Kong (1933), Planeta Proibido (1956) e Tarântula! (1955). 

A estreia decepcionante e o renascimento

Embora atualmente seja considerado um clássico, The Rocky Horror Picture Show foi um fracasso de críticas e bilheteria em seu primeiro lançamento cinematográfico em agosto de 1975. Após estrear em Londres em 14 de agosto e nos Estados Unidos em 26 de setembro, o filme foi retirado de circulação nas oito cidades em que deveria ser exibido devido à falta de público. A estreia planejada para acontecer em Nova York na noite do Dia das Bruxas também foi cancelada, para a tristeza de todos os envolvidos. 

The Rocky Horror Picture Show

A 20th Century Fox até tentou encontrar formas de atrair a atenção do público, relançando o filme em campus universitários em uma dobradinha com O Fantasma do Paraíso de Brian de Palma e divulgando cartazes que parodiavam o filme Tubarão, lançado naquele mesmo ano. No entanto, o sucesso ainda estava por vir. E ele viria nas sessões da meia-noite.

Quando filmes como Pink Flamingos, do cineasta John Waters, começaram a fazer dinheiro em sessões de cinema da meia-noite, um executivo da Fox convenceu os distribuidores de The Rocky Horror Picture Show a exibirem o filme nesse formato, começando pela cidade de Nova York em 1º de abril de 1976. A partir disso, tudo mudou e o longa conquistou milhares de fãs no mundo inteiro. Durante uma das exibições no Waverly Theater em Nova York, que haviam conquistado popularidade por meio do boca a boca, os fãs começaram a gritar suas próprias respostas às falas ditas no filme. Rapidamente, a prática se tornou comum e The Rocky Horror Picture Show passou a ser exibido em inúmeras outras cidades dos Estados Unidos em sessões onde os participantes entravam gratuitamente se chegassem fantasiados. Aliado a isso, os fãs também criaram grupos de performance, algo que se tornou constante nas exibições, com atores interpretando os personagens com fantasias completas e adereços enquanto o filme é exibido na tela grande. 

Por volta de 1978, The Rocky Horror Picture Show já era uma febre cultural. Grupos de performance locais publicaram boletins procurando novos integrantes, convenções eram realizadas e até mesmo um fã clube internacional foi criado. Um ano depois, em 1979, O’Brien chegou a escrever uma sequência para o filme, intitulada Rocky Horror Shows His Heels. Enquanto o roteiro apresentava o retorno de todos os personagens originais, Jim Sharman não quis revisitar o conceito e Tim Curry optou por não reprisar seu papel. Após isso, a premissa foi refeita e transformada em Tratamento de Choque, filme de 1981 que trouxe o retorno de alguns personagens como Janet e Brad. 

The Rocky Horror Picture Show

Legado, influência cultural e impacto

Desde a década de 1970, inúmeras convenções anuais de The Rocky Horror Picture Show são realizadas ao redor do mundo. O filme também conquistou um público fiel e global, criando uma comunidade engajada que mantém vivo o legado da produção. 

Além disso, é inegável a influência cultural de The Rocky Horror Picture Show. Além de quebrar as barreiras dos gêneros cinematográficos, o filme foi referenciado em programas de televisão como Os Simpsons, Cold Case e Glee, aparecendo também em longas como Fama (1980) e As Vantagens de Ser Invisível (2012). O diretor Rob Zombie, por exemplo, o citou como uma grande influência para A Casa dos 1000 Corpos (2003), enquanto o cineasta John McPhail se inspirou na produção para criar seu musical de zumbi, Anna e o Apocalipse (2018). Em 2016, o filme ainda ganhou uma refilmagem dirigida por Kenny Ortega e protagonizada por Laverne Cox, a qual foi ao ar na Fox em 20 de outubro. 

No entanto, talvez o maior legado de The Rocky Horror Picture Show seja a forma como o filme dialoga com seus espectadores, especificamente com a comunidade LGBTQIA+, que desde cedo identificou os temas de androginia, libertação sexual e fluidez de gênero presentes no roteiro. Como muitas leituras apontam, a chegada de Brad e Janet ao mundo de Frank-N-Furter é uma analogia à autodescoberta da identidade queer

The Rocky Horror Picture Show

Gradualmente, as exibições imersivas criaram uma comunidade segura para um público tradicionalmente ostracizado, mostrando que existia sim uma maneira alternativa de ser e existir. Os fãs também descobriram que não estavam sozinhos no mundo e que não iriam ser ridicularizados por serem eles mesmos. Nesse sentido, The Rocky Horror Picture Show deixou de ser apenas um filme, tornando-se um local de pertencimento, acolhimento, amizade e liberdade. 

50 anos de um filme que mudou o cinema

O tempo passou e The Rocky Horror Picture Show continua sendo um fenômeno cultural global. Arrecadando mais de 115 milhões de dólares em todo o mundo, o longa que desafiou as fronteiras entre os gêneros cinematográficos tornou-se um dos lançamentos teatrais mais longos de todos os tempos, graças às suas exibições interativas que continuam até os dias de hoje. 

Em comemoração ao aniversário, os fãs serão presenteados com uma nova restauração do filme em 4K Ultra HD, além de inúmeros eventos e produtos temáticos. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, o Rocky Horror Picture Show Spetacular Tour acontecerá entre setembro e novembro com aparições e encontros com o elenco original, como Barry Bostwick, Patricia Quinn e Nell Campbell, em uma excursão que cobrirá 55 cidades. Além disso, Los Angeles contará com uma convenção oficial, além de exibições especiais em locais famosos, como o Hollywood Forever Cemetery. Os fãs também podem esperar uma edição de luxo da trilha sonora, um steelbook limitado e novos colecionáveis, como bonecos Funko. 

The Rocky Horror Picture Show

Quando The Rocky Horror Picture Show foi lançado 50 anos atrás, provavelmente ninguém imaginava que o filme teria um impacto tão grande na cultura e no imaginário coletivo. Muito menos que seria celebrado por tanto tempo. O que começou como um pequeno projeto rebelde se tornou uma celebração global da individualidade, da liberdade criativa, da comunidade e do pertencimento. 

Cinco décadas se passaram e The Rocky Horror Picture Show continua mais vivo e pulsante do que nunca, nos ensinando que a autenticidade é sempre a melhor saída e nos incitando não apenas a sonhar, mas também a sermos… nós mesmos. 

LEIA TAMBÉM: Tubarão faz 50 anos

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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