Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


ArtigoFilmes

Entrando em Pânico: De espectador a parte da história

Conheça a história de Rodrigo Kurtz, criador do site "Hello Sidney"

05/09/2025

Foi no meu quarto, coberto de pôsteres e com prateleiras cheias de fitas VHS, que eu e minha irmã assistimos a Pânico (1996) pela primeira vez. Por mais estranho que isso possa parecer, aquela noite mudou minha vida para sempre. Mas, para entender o porquê, preciso rebobinar um pouco a fita…

LEIA TAMBÉM: Pânico: Suas referências e seu impacto

Talvez tenha sido Os Fantasmas se Divertem (1988), de Tim Burton, ou mesmo a perda precoce do meu pai — eventos que despertaram minha curiosidade por temas mais sombrios na infância. Algo que os filmes de terror inexoravelmente tocam. Lembro-me também das chamadas de O Exorcista (1974) no SBT, que me traumatizaram tanto quanto me fascinaram. 

Depois veio minha obsessão por Poltergeist (1982) e a tragédia de sua atriz mirim, Heather O’Rourke — prova de que a morte, infeliz e injustamente, alcança até os mais inocentes. Nem Jason Vorhees, que também carregava sua própria fatalidade, parecia capaz de interromper a vida tão cedo. Vistos de outro ângulo, esses filmes até traziam, de uma forma enviesada, uma mensagem esperançosa ao sugerir a existência de um além-vida. 

poltergeist

E lá estava eu, com sete anos de idade, gastando o cabeçote do meu VHS em filmes de terror irresistíveis, baratos e ensopados de culpa puritana. Quando minha mãe percebeu, era tarde: eu, literalmente, havia aprendido inglês assistindo à franquia Sexta-Feira 13 (1980) e Poltergeist III (1988) repetidamente.

O resultado foi uma nota escrita, em caneta Bic vermelho sangue, no meu cadastro da videolocadora: “Até segunda ordem, Rodrigo está proibido de alugar filmes de terror.”

Claro que meu interesse pelo cinema ia além do horror. Essa proibição materna, registrada na minha ficha permanente, até ajudou a diversificar meu repertório cinematográfico. Mas o terror, como sabemos, sempre volta para um último susto. E foi naquela noite, em 1997, um ano após a estreia americana de Pânico, que tudo recomeçou.

pânico

Original

Como escrevi na introdução do livro Pânico: O Legado do Grito, vi em seus personagens um reflexo imediato: jovens que amavam cinema, conheciam os mesmos filmes que eu e falavam como eu e meus amigos falavam. Nenhum outro longa havia chegado tão perto dessa identificação — parecia feito para mim e para minha geração, mesmo que eu ainda demorasse a entender o conceito de “geração”.

Eu estava possuído: Passava 80% do tempo falando sobre Pânico, e o resto esperando que alguém o trouxesse à tona. A ponto de meu apelido no colégio virar o próprio título do filme.

Na aurora da internet, comecei a pesquisar tudo: a sequência em produção, a mitologia, as referências, Wes Craven, Kevin Williamson, Neve Campbell, Sarah Michelle Gellar. Não bastava consumir — eu queria participar daquele zeitgeist.

pânico

Montei meu primeiro site, dedicado a Scream, Alicia Silverstone e até Edileuza do Sai de Baixo. Nem sei como conciliei esses universos, mas logo foquei apenas em Pânico, criando o Panico3.cjb.net — meu primeiro passo como webdesigner.

Foi o primeiro site notório do filme em português. Inspirado em Gale Weathers, fiz amizade com a secretária da assessoria de imprensa da Lumière, distribuidora no Brasil. E daí vieram meus “primeiros cinco minutos de fama”: apareci na Folha de São Paulo em uma manchete que até hoje me assombra e, através da matéria, conheci um dos meus melhores amigos até os dias de hoje, o Marcos.

Com o site, publiquei scoops (incluindo imagens exclusivas de Pânico 3 (2000) antes de todo mundo) e comecei a entender como funcionava imprensa e crítica. O ingresso na faculdade de Comunicação Social só reforçou isso, despertando meu interesse pelas resenhas. Escrevi para sites, depois para o finado jornal O Estado de Santa Catarina, muito inspirado em Isabela Boscov, que na época derrubava ou canonizava filmes na Veja com seu sarcasmo sempre elegante. Assim como a trilogia, que parecia concluída, uma era também chegou ao fim.

Reboot

Todo bom filme precisa de uma sequência. E certa madrugada me deparei com as primeiras notícias sobre Pânico 4 (2011). Era um novo ciclo de tempo e geracional.  

Em um de meus mergulhos de hiperfoco, criei o HelloSidney.com, inicialmente para treinar inglês e acompanhar a produção turbulenta da quarta parte da franquia. Cobri madrugadas inteiras pelo Twitter, relatando filmagens e bastidores, até que o próprio Wes Craven notou o site, chegou a compartilhar posts e, por fim, passou a segui-lo. A validação daquele ídolo parecia dizer a um adolescente de 16 anos que tudo aquilo fazia sentido.

Nunca tive coragem de incomodá-lo com minhas perguntas ou admiração, mas a partir dali coisas incríveis aconteceram: participei de documentários sobre a franquia, desenhei pôsteres (um deles foi parar no Blu-ray oficial da trilogia), ganhei máscaras de produção e autógrafos de Craven.

Quando ele nos deixou em 2015, além da tristeza, restou a frustração de nunca ter dito o quanto seu trabalho havia me inspirado e, de certa forma, influenciado o meu caminho.

Numa viagem a São Francisco, aproveitei para visitar as locações do primeiro filme. Fiz a viagem com minha irmã e o Marcos, de quem falei antes, achando tudo menor do que parecia na tela. E me marcou a coincidência de ver a foto de Wes em um mural de despedidas, no hostel em que me hospedei. Senti melancolia e uma nostalgia estranha, como se tivesse perdido um amigo próximo. Com a partida de Craven, Pânico e o site pareciam ter encerrado sua trajetória.

hello sidney

Requel

Tal e qual Michael Myers, a franquia despertou de seu sono num momento inóspito: durante a pandemia. Sozinho em um apartamento de 65m², com minhas gatas como únicas companheiras, minha sanidade encontrou refúgio no início da produção do quinto filme, que por sua vez me levou a reativar o site.

Fiz isso com a mesma paixão de antes. E chamei a atenção não só de fãs de dois outros ciclos, mas da Geração Z e de integrantes da própria produção. E dessa vez tive o ímpeto de convidar os diretores de Pânico 5 (2022), Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin, para uma entrevistae eles aceitaram, tendo em vista que acompanharam a minha cobertura do novo capítulo.

Daí tudo escalou: a Paramount me procurou; participei de ações de marketing oficiais, co-criei um action figure do Ghostface para a Handmade by Robots (que acabou aparecendo em Pânico 6); entrevistei parte da equipe; e vivi um momento muito especial: uma videocall com Neve Campbell.

hello sidney

Nunca compartilhei publicamente o vídeo. Nele, agradeci à Neve por Sidney Prescott. Tal personagem, assim como eu, havia perdido os pais cedo — e que sua força e resiliência diante disso me inspiraram profundamente. Ela recebeu minhas palavras com respeito e carinho. 

Foram tantas experiências surreais que às vezes nem eu acredito ou consigo colocar em ordem. Tive pequenas interações com Jack Quaid, Melissa Barrera, David Arquette e a incrível Jasmin Savoy Brown, que trouxe a primeira representação LGBTQIA+ explícita à franquia — antes apenas sugerida, mas com a qual eu já me identificava nos subtextos de Williamson.

Mais recentemente, durante a produção do sétimo filme, Kevin Williamson passou a seguir o site no Instagram. Ele, que ao lado de Craven inspirou pilares da minha trajetória pessoal e profissional, continua ali, na lista de seguidores. Eu, por minha vez, sigo à espera do momento certo para rebobinar a fita e dizer: obrigado.

hello sidney

LEIA TAMBÉM: Conheça as principais referências a filmes de terror em Pânico

Sobre Rodrigo Kurtz

Rodrigo KurtzRodrigo Kurtz é o criador e webmaster do HelloSidney.com, um dos principais sites dedicados à franquia Pânico. Formado em Comunicação Social e Design Gráfico, já participou de diversos projetos relacionados aos filmes — de documentários a ações de marketing com distribuidores e criadores da saga.

Website

0 Comentários

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

Pânico: O Legado do Grito + Brinde Exclusivo
R$ 89,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
Poltergeist + Brinde Exclusivo
R$ 84,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
DarksideEntrevista

Sam Holland: “Gostamos de ler sobre true crime porque é um medo bastante real”

Quem seriam os ídolos de um serial killer? Essa é a pergunta que Sam Holland se fez...

Por DarkSide
DarksideFilmes

Relembre os 3 primeiros filmes de Invocação do Mal

Em 2013, Invocação do Mal estreou nas telas do cinema mostrando que ainda existia...

Por DarkSide
Crime SceneE.L.A.SLançamento

Chame por Andrea, por Noelle W. Ihli

Um jogo mortal de caça e vingança, com ingredientes sobrenaturais. Em Chame por...

Por DarkSide
Crime SceneE.L.A.SLançamento

Lançamento: O Lado Selvagem, por Tiffany McDaniel

Condenadas à margem da sociedade, filhas das águas e moldadas por suas correntezas...

Por DarkSide
Crime SceneE.L.A.SLançamento

Lançamento: Minha Adorável Esposa, por Samantha Downing

Prepare-se para uma leitura que vai mexer com seus nervos e desafiar suas mais sombrias...

Por DarkSide