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A bruxaria é um ato político

Ser bruxa é um posicionamento que vai além da prática em si

28/09/2022

“Eu sou bruxa.” Essas três palavrinhas sempre irão causar algum tipo de reação, que pode variar do ceticismo ao medo. Em tempos passados, emitir tal afirmação poderia resultar em uma sentença de morte. Mas mesmo nos dias de hoje não são todos os praticantes da magia que “saem do armário” em relação à própria crença.

LEIA TAMBÉM: AFINAL, O QUE É BRUXARIA?

Há o estigma histórico e a incredulidade. Uma adolescente ou jovem mulher que se define como praticante de bruxaria certamente irá despertar algum tipo de escárnio de quem acha que essa é mais uma rebeldia típica da idade. Mais uma modinha propagada nas redes sociais. Se ela tiver um pouco mais de idade, muitos julgam que a praticante ainda está presa à nostalgia da juventude.

Quando não provoca ceticismo, a bruxaria pode causar receio, principalmente de quem cresceu ouvindo e acreditando que bruxas são más. Envenenam princesas. Comem crianças. Atacam meninas na estrada de tijolos amarelos. “Não se brinca com essas coisas” podem alertar aqueles que desconhecem o que a bruxaria realmente significa.

Bruxaria: Um desafio ao status quo

A dominação cristã na Europa, que posteriormente espalhou seus estigmas pelo mundo, colocou um alvo na testa de todo mundo que não seguisse seus preceitos. Não eram apenas as bruxas de verdade que eram perseguidas, mas basicamente qualquer um que não vivesse de acordo com o que o deus monoteísta cultuado pela maioria representasse. Às vezes bastava não ter filhos, entender de plantas, morar sozinha, ter muito dinheiro sem depender de homem, ser ruiva, ter algum sinal diferente na pele ou simplesmente ser mulher.

A maioria dessas características desafiava o que é considerado santo, como o sexo exclusivo para fins de procriação, o casamento com a finalidade da servidão ao marido e a cura que só viria através da fé, por exemplo. Não é de se estranhar que religiões que tenham exclusiva ou predominantemente sacerdotes homens tenham perseguido as mulheres por tanto tempo. E engana-se quem acha que isso acabou.

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Naquela época era muito difícil alguém se assumir praticante de bruxaria porque isso poderia custar a sua vida. Mas ainda às escondidas, continuar seguindo suas práticas e crenças era um posicionamento significativo de alguém que entendia como a sociedade funcionava, só não queria fazer parte daquilo

Diante das caças às bruxas (no sentido literal do termo), manter a magia em sua vida era um ato de resistência. Ou melhor, ainda é. Por mais que as antigas perseguições na Europa e América do Norte tenham acabado há bastante tempo, praticantes de bruxaria ainda correm perigo em locais como a África e a América Latina.

protesto de bruxas
Imagem: Bev Grant/Getty Images

Assumindo a sua individualidade na bruxaria

Em 1993, ao completar 40 anos de idade, o escritor e quadrinista Alan Moore declarou que iria se tornar um mago cerimonial. Certamente ninguém considerou que isso fosse uma rebeldia de adolescente, mas a excentricidade do autor de Palavras, Magias & Serpentes levantou algumas sobrancelhas.

O que nem todos percebem nesse ato tão simbólico de Alan Moore é toda a consciência pessoal que o levou a tal decisão. Misturando suas pesquisas sobre ocultismo na época de escrever Do Inferno e toda a bagagem de vida acumulada ao longo de quatro décadas, Moore percebeu que isso era o que fazia sentido para ele. E na posição de um escritor consagrado internacionalmente, sentiu-se à vontade para manifestar sua decisão.

alan moore

Assim como Alan Moore, todos os dias há pessoas questionando a fé e os dogmas que foram obrigadas a seguir ao longo da vida. Muito se fala sobre o tal “chamado” à magia, mas ele está longe de ser uma voz que vai chegar no seu ouvido e dizer “vem ser bruxa”. Ele começa com o questionamento, com uma inquietação de que algumas coisas simplesmente não fazem mais sentido para você (se é que um dia fizeram).

A inquietação leva a uma decisão: buscar aquilo que se encaixa na sua vida. Nessa jornada, muitas pessoas irão se deparar com a bruxaria e todas as suas possibilidades. É justamente essa variedade de caminhos que acaba atraindo tanta gente: você pode seguir uma abordagem mais coletiva e se juntar a um coven ou perceber que o caminho solitário é o melhor para você. Pode se conectar a divindades do mundo antigo ou simplesmente às forças da natureza. Ser bruxa também é assumir essas rédeas e se deixar guiar na jornada com a qual você se conecta.

Bruxaria é sobre liberdades e responsabilidades, assim como a própria sociedade funciona. Você é livre para praticar aquilo que acredita ao mesmo tempo em que está ciente do seu papel no universo e nas consequências dos seus atos. Você sabe que tudo o que você emana uma hora irá voltar para você e por isso acaba agindo com mais consciência.

Quando você diz “eu sou bruxa” também acaba dizendo vários nãos: às religiões dominantes, ao patriarcado, a uma gama de regras das quais você já se libertou ou ainda está no processo. Mas a frase também carrega o sim à conexão com a natureza, com o universo, consigo própria. É o sim do “eu sei quem sou no mundo e honro a minha essência”. Um sim mágico e repleto de possibilidades.

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Sobre Luciana Kühl

Avatar photoJornalista e Head de Conteúdo da DarkSide®. Blogueira desde a época do Templates by Marina, cinéfila que cresceu em meio às produções da Disney e hoje se rendeu ao lado Dark dos filmes. Louca dos gatos, bruxa solitária, revisora macabra e DarkSider de coração gelado.

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