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A narrativa sensível e tocante de Kimberly Bradley

A autora de A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver explorou temas familiares espinhosos em meio ao cenário da Segunda Guerra Mundial

08/03/2019

Por Valkirias, parceiras DarkSide

Kimberly Brubaker Bradley é uma autora para guardar no coração. Apaixonada pela escrita desde criança, quando andava na rua e escrevia histórias em sua cabeça sobre tudo aquilo que via, hoje ela encanta leitores de todas as idades com suas histórias carregadas de sensibilidade. Em A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver, publicados no Brasil pela DarkSide Books, ela nos apresenta a história da Ada, uma garotinha que vê nos possíveis bombardeios de Hitler a chance de fugir da guerra que ela e seu irmão vivem dentro de casa, em Londres. Acolhidos por Susan, uma moça que tem seus próprios problemas para lidar, eles aprendem a enxergar a vida com outros olhos. E, quem sabe, também a amar.

É com muita habilidade que Kimberly Brubaker Bradley narra as adversidades trazidas pelo conflito, em um registro emocional e historicamente preciso. Ao mesmo tempo, ela desenvolve seus personagens daquele jeito que todo mundo gosta: fazendo com que eles se tornem próximos, quase como amigos de longa data. Na entrevista abaixo, a autora fala sobre sua pesquisa histórica, a importância de discutir assuntos sérios e como é ser publicada na DarkLove, uma linha editorial que abre portas para mulheres com vozes poderosas e muita história para contar.

Confira a entrevista completa com a autora:

[foto]

Cresci ouvindo histórias do meu avô sobre a Segunda Guerra Mundial porque ele lutou na Itália ao lado dos Aliados. Esse contato com o conflito desde a infância me marcou muito, e hoje sou naturalmente atraída por histórias ambientadas na guerra. Mas sei bem que esse “fascínio” não acontece apenas comigo. Por que você acha que histórias com esse pano de fundo cativam tantos leitores?

Acredito que é porque foi um conflito global — pessoas de todos os cantos do mundo foram afetadas — e durou por tempo suficiente para moldar gerações. E há também muito espaço para contar histórias no drama da guerra.

Em uma das histórias que meu avô me contou, uma família de italianos havia sido enforcada pelos soldados alemães na própria casa. Em outra, eles [os soldados do regimento] encontraram um piano e decidiram fazer um baile improvisado para alegrar um pouco o ambiente. Eu sempre notei que existia essa dualidade nos relatos, momentos de tristeza e felicidade, algo que também acontece com Ada na casa de Susan. Você acha importante lembrar aos leitores mais novos que alegria pode ser encontrada em tempos de grande dificuldade?

Eu acho. Acho que conflitos e tristeza são coisas das quais nenhum de nós consegue escapar, mas precisamos mostrar às crianças que alegria e tristeza podem coexistir.

No fim do primeiro livro temos uma pincelada das motivações da mãe de ser do jeito que é, embora isso não justifique seus maus-tratos. Naquela época, e ainda hoje, muitas pessoas com deficiência não totalmente são integradas na comunidade em que vivem por ignorância, omissão ou preconceito das pessoas ao seu redor, mas por que você escolheu retratar isso na mãe de Ada?

Eu queria que a Ada fosse libertada pela guerra, o que significa que eu precisei começar a história com ela em uma espécie de prisão. Se ela tivesse pais amorosos, ela não teria sentido necessidade de escapar.

É de partir o coração ver como Ada e Jamie foram condicionados a certos pensamentos e como eles relutam em aceitar a verdade após anos de abuso. Como foi seu processo de pesquisa para retratar esses sentimentos de maneira tão real?

Eu pesquisei muito sobre o que eu chamo de crianças em lares difíceis — relatos de crianças adotadas em orfanatos, por exemplo. Muitos de seus problemas são os mesmos que os de Ada e Jamie.

Ada é uma garotinha inteligente e engenhosa, que tem dentro de si a vontade de mostrar seu valor. Acompanhar sua jornada foi incrível e emocionante, e eu adorei ver como ela encontra no Manteiga uma paixão e um hobby. Você acha que ter essas paixões nos torna mais fortes?

Com certeza. O amor de Ada por cavalos vem do amor que eu mesma sinto por cavalos e das experiências que tive ao aprender a cavalgar.

Assim que Susan apareceu pela primeira vez na história eu senti uma conexão bem forte com ela e ela logo se tornou minha personagem preferida. Ela fez faculdade, é independente, quebrou as expectativas dos pais e da sociedade e é super empoderada para a época. Qual a importância de ter personagens assim em uma história voltada para o público jovem?

Duas coisas: a primeira é mostrar que essas características não são algo que mulheres almejam apenas agora, são coisas que mulheres já aspiraram no passado. Além disso, a independência de Susan e o distanciamento que ela sente de sua família e, por vezes, da comunidade em que vive, tornam muito fácil para ela compreender a desconexão de Ada. Susan se relaciona com Ada em um nível muito elementar: ela não precisa se esforçar muito para entendê-la.

A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver fazem parte da linha editorial DarkLove. Como foi ser acolhida por uma editora que tem uma coleção que empodera mulheres?

Eu amo fazer parte da linha DarkLove e adorei toda a experiência de ser publicada no Brasil.

Após perder sua melhor amiga, Susan sente dificuldade em ser feliz novamente e há momentos em que ela passa boa parte dos dias deitada e encarando o nada. É bem sutil, mas existe uma presença da depressão na história e sei que você mesma lutou contra a depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Você acredita no poder da literatura de discutir esses transtornos?

Eu acredito que sim. Na verdade, acho que é muito importante que a saúde mental seja discutida na literatura. Muitas pessoas sofrem com transtornos diversos; se não os leitores do livro, então talvez os membros de suas famílias. Quando você passa por alguma situação, principalmente quando criança, e você lê sobre um personagem que também vive aquilo, isso pode ajudá-lo a entender que você não está sozinho. Eu também quero reduzir o estigma associado com transtornos de saúde mental.

É impossível falar de guerra sem falar sobre morte. Qual sua opinião sobre discutir o luto com o público jovem?

Acredito que é importante ser sempre muito honesto sobre o assunto. Nós não temos que saber as respostas — nós não precisamos ter certeza sobre o que acontece com as pessoas depois que elas morrem —, mas temos que ser verdadeiros sobre as emoções que sentimos ou podemos sentir. Algumas coisas são muito tristes e difíceis, e se você disser isso em vez de dizer que “é tudo para o bem, eles estão em um lugar mais feliz”, você permite que as crianças aceitem o próprio luto e superem isso.

Você escreveu os livros para crianças, mas é muito fácil encontrar resenhas feitas por adultos que foram tocados pela história. Por que você acha que a história da Ada conseguiu emocionar leitores de idades tão variadas?

Eu não sei ao certo. Eu concordo que é verdade; A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver têm mais apelo com os leitores adultos que meu livros anteriores. Talvez seja porque todos nós ansiamos por amor, cura e família.

Vemos uma mudança muito grande na Ada do início até o fim de sua jornada. Foi difícil construir essa evolução da personagem?

Sim! Isso foi, de longe, a coisa mais difícil que eu já escrevi. Eu tive que ir fundo em nove rascunhos inteiros. Ada se desenvolveu um pouquinho em cada um deles.

Vemos que muitos leitores se identificam de alguma forma com a história da Ada. Existe uma lição maior, ou até mesmo algum personagem, que você sente que mexeu mais com os leitores? Por que você acha que isso acontece?

Espero que eles vejam que o amor pode conectar todos nós.

Nos livros, nós acompanhamos muitas guerras além da guerra de Hitler. A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver são, acima de tudo, livros sobre o amor. Você acredita que algumas guerras não podem ser vencidas sozinhas?

Hmmm. Eu não sei se seria impossível vencer algumas guerras sozinho, mas eu sei que é muito mais fácil quando você tem alguém em quem confia batalhando ao seu lado.

Publicado originalmente no blog Valkirias

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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1 Comentário

  • Paola Cruz

    19 de dezembro de 2019 às 07:30

    Meus favoritos da DARKSIDE,esses foram meus favoritos de 2019. Me encantei pela história de superação da Ada.

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