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As Criadoras de Anjos: Quem foram as envenenadoras de Nagyrév

Saiba tudo sobre as mortes misteriosas no interior da Hungria no início do século XX

26/11/2024

Localizada na região central da Hungria, ao sudeste da capital Budapeste, Nagyrév era no início do século XX uma cidade agrícola com poucos habitantes, conhecida como um lugar discreto e tranquilo. Embora sua comunidade fosse unida, as condições de vida não eram nada fáceis. A mudança era algo muito distante na vida de seus habitantes, os quais em sua maioria nasciam e morriam ali, sem muitas perspectivas de melhoria. 

LEIA TAMBÉM: Veneno: Uma arma de mulheres?

Para as mulheres as condições eram ainda mais árduas. A falta de um médico ocasionava mortes frequentes durante os partos e as impedia de controlar seus direitos reprodutivos. Como se isso não bastasse, a Hungria do início do século XX foi um lugar de agitação política, imensa pobreza, mortes constantes e poucas opções para as mulheres. A grande maioria se encontrava em casamentos, arranjados quando ainda eram muito novas, com homens muito mais velhos escolhidos por suas famílias. Mesmo em casos de abuso, o divórcio não era permitido. Assim como inúmeras outras mulheres húngaras, as cidadãs de Nagyrév viviam em casamentos onde não possuíam voz e eram constantemente aterrorizadas por seus parceiros. 

No entanto, algo estava para mudar. Em 1911, uma mulher chamada Zsuzsanna Fazekas, a Tia Suzy, chegou na cidade. Pouco se sabia sobre seu passado, além do fato de que seu marido havia desaparecido em circunstâncias misteriosas. No entanto, ela tinha referências sólidas e uma ampla experiência como parteira, o que lhe rendeu grande poder e respeito em Nagyrév, que necessitava urgentemente de assistência na área da saúde. 

criadoras de anjos de nagyrev

Mas a fama de Zsuzsanna Fazekas não ficou restrita à pequena aldeia. Em menos de quinze anos, ela se tornou uma das mulheres mais infames da Europa, conhecida por liderar um grupo de mulheres acusadas de envenenar mais de 300 pessoas. Em 1929, este sombrio segredo foi exposto e o mundo descobriu a existência das Criadoras de Anjos de Nagyrév. 

Anteriormente abordada em Lady Killers: Assassinas em Séries, esta poderosa história agora é contada em detalhes pela jornalista Patti McCracken em As Criadoras de Anjos, lançamento da marca Crime Scene da DarkSide® Books. Explorando as circunstâncias sociais e pessoais que levaram essas mulheres a cometerem atos tão desesperados, assim como as dolorosas raízes de Nagyrév, As Criadoras de Anjos reconstrói a vida de Tia Suzy e suas aliadas, revelando seus segredos e sua sororidade letal. Oferecendo uma visão completa da vida devastada pela guerra, pobreza e violência, o livro de Patti McCracken é um true crime histórico que oferece uma narrativa jornalística e captura esta história real que beira o inacreditável

as criadoras de anjos

Mas a pergunta que não quer calar, quem foram as envenenadoras de Nagyrév? Saiba mais sobre a história que você encontra em As Criadoras de Anjos.

Tem um problema? Procure a Tia Suzy

No começo do século XX, quando o povo de Nagyrév tinha um problema, eles não pensavam duas vezes em recorrer a Tia Suzy, a parteira designada do vilarejo. Os homens utilizavam seus remédios caseiros para aliviar as dores causadas pelos pesados trabalhos nos campos. Já as mulheres a procuravam não apenas para o parto, mas também para abortamentos e práticas contraceptivas. Presas em casamentos infelizes, muitas vezes Zsuzsanna Fazekas era a única pessoa a quem podiam.

As coisas mudaram um pouco quando os homens de Nagyrév foram enviados para lutar na Primeira Guerra Mundial. Inicialmente sozinhas e sem apoio, as mulheres se viram em uma situação difícil, mas ainda assim libertadora. Logo Nagyrév se tornou um campo de detenção para os prisioneiros de guerra aliados, que foram enviados para trabalhar nas fazendas deixadas para trás pelos homens recrutados. 

Não demorou para que esses prisioneiros passassem a participar da vida do vilarejo, envolvendo-se romanticamente com as mulheres casadas cujos maridos haviam ido para a guerra. Estima-se que algumas delas tiveram três ou quatro amantes de uma única vez em um breve e inédito período de libertação sexual. Durante esse tempo, Fazekas prestava seus serviços a essas mulheres, muitas das quais enfrentaram gravidezes indesejadas. Embora tenha sido presa pelo menos dez vezes entre 1911 e 1921 por realizar abortamentos ilegais, a parteira sempre era absolvida e voltava para Nagyrév.

criadoras de anjos de nagyrev

Os problemas começaram quando alguns dos homens de Nagyrév retornaram à aldeia após o fim da guerra. Profundamente modificados por suas experiências nas batalhas, muitos se tornaram dependentes de suas esposas, que não desejavam voltar para suas vidas após tantos anos de liberdade. Sobrecarregadas, elas então procuraram o ombro amigo de Fazekas, que, acostumada a aconselhá-las em seus problemas mais íntimos, lhes ofereceu uma solução única

“Eu tenho uma solução simples”

A solução era arsênico, feito em papel mata-moscas dissolvido em água. O envenenamento por arsênico era ideal para aqueles que desejavam disfarçar seus crimes, já que a substância poderia ser misturada na bebida ou comida e seus sintomas eram facilmente confundidos com a cólera. Os resultados eram fatais e não deixavam vestígios. Para mulheres desesperadas, presas em uma região com pouca infraestrutura e assistência, era o plano perfeito. 

Rapidamente, Fazekas convenceu as mulheres a envenenarem seus maridos. Segundo Tori Telfer em Lady Killers: Assassinas em Série, ela “não hesitava ao recomendar o assassinato às suas clientes desesperadas e distribuía veneno como se fosse remédio para dor de cabeça”. A parteira também contava com a ajuda de Susi Oláh, uma mulher que preenchia os certificados de óbito e ocultava sua verdadeira causa de morte. 

lady killers

A notícia se espalhou silenciosamente por Nagyrév e as mortes aumentaram como uma névoa diabólica. No entanto, os maridos não foram os únicos a serem envenenados. Logo, as mulheres começaram a matar outros membros dependentes de suas famílias, incluindo pais, sogros, filhos e amantes. Em Lady Killers, Tori Telfer traz o exemplo de Rozália Takács, que envenenou o marido e depois ajudou uma jovem esposa a matar o sogro. Havia também o caso de Mariá Kardós, que envenenou o filho adulto e enfermo e pouco depois, com ajuda de Fazekas, assassinou com arsênico seu terceiro marido, o ex-prefeito da cidade. Em Nagyrév nenhuma mulher matava sozinha

Enquanto algumas usavam o arsênico por desespero, outras o utilizavam por vingança ou para adquirir bens materiais. As Criadoras de Anjos eram uma geração de mulheres que nunca recebera nada e que não podia esperar nada. Durante os dezoito anos que Zsuzsanna Fazekas morou no local, houve um número estimado de 45-50 assassinatos cometidos por 34 pessoas. Até que em 1929 o segredo sombrio da aldeia foi revelado. 

O fim de uma sororidade letal

Não se sabe ao certo como As Criadoras de Anjos foram descobertas. Alguns relatos afirmam ter sido um estudante de medicina de uma cidade vizinha que detectou altos níveis de arsênio em um corpo encontrado à beira do rio. Já outros apontam que os jornais locais receberam cartas anônimas discorrendo sobre algo terrível que estava acontecendo em Nagyrév, que havia conquistado nos últimos anos o apelido de “distrito do assassinato”

as criadoras de anjos

Independentemente de qual for a verdade, a polícia exumou dezenas de corpos no cemitério, encontrando vários cadáveres com traços de arsênio. Vinte e seis mulheres foram eventualmente presas e julgadas pelo assassinato. Porém, quando a polícia foi prender Zsuzsanna Fazekas ela já estava morta, tendo tomado seu próprio veneno. 

Os motivos dos assassinatos desencadearam pânico em Nagyrév e nas aldeias vizinhas, mas a origem dos crimes era tão difusa quanto a ação do próprio veneno e, no fim, quando confrontadas pelo tribunal, muitas dessas mulheres sentiam que tinham feito o que era necessário. O fenômeno, na verdade, nasceu de uma conjuntura social muito mais ampla. “Economia, cultura e infelicidade humana, juntas, teceram uma intricada teia em Nagyrév, criando uma atmosfera caracterizada não pela loucura de uma parteira, mas por um silencioso e duradouro desespero feminino”, afirma Tori Telfer em Lady Killers

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No fim, após enfrentarem a justiça em um caso de tribunal relatado no mundo todo e sofrido com a hostilidade de toda a população local, sete mulheres foram condenadas à morte, duas foram executadas e a outra maioria sentenciada à prisão. Algumas poucas foram inocentadas porque não havia evidências suficientes para condená-las. Atualmente, as criadoras de anjos de Nagyrév se transformaram em uma espécie de lenda local, entrando para uma parte curiosa da história da Hungria.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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