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Brain Dead: Seu cérebro nunca será desligado

Estranho, mas canônico no terror

17/05/2024

Depois de tudo o que foi feito pelo horror nos anos 1980, nosso gênero mais amado (e controverso) encontrou vários desafios para sobreviver à década seguinte. Aliás, o maior deles, o que perdura até hoje, foi conseguir alcançar o mesmo nível de criatividade de seus antecessores. Nessa situação bem arriscada (e sem interesse em perder o dinheiro que o cinema de horror já trazia para os cofres dos produtores), os anos noventa encontraram como solução misturar algumas premissas, diretores, antigos sucessos, e até mesmo atores conhecidos do gênero para se manter no topo da lista.

brain dead

Dirigido por Adam Simon e estrelado por Bill Pullman, Bill Paxton e George Kennedy, entre outros atores sensacionais, Brain Dead é um desses filmes estranhos e canônicos, que, graças a atores veteranos e ideias improváveis, caíram nas graças dos cinéfilos de horror. Aliás, em tempos de Neuralink, Brain Dead pode inclusive se considerar bem mais realista do que poderiam supor seus criadores (a começar pelo logotipo da empresa Eunice que lembra um infinito e consequentemente o logotipo da Neuralink de Elon Musk).

brain dead

Começamos nossa aventura perturbadora com uma trilha sonora vibrante e imagens analíticas do cérebro humano, enquanto esperamos, cheios de ansiedade, que o filme de fato comece em um laboratório de pesquisas. Na cena seguinte, temos o belo vislumbre de um rosto esticado, destacado do corpo, que reage ao cérebro mantido em suspensão vital quando incentivado por um dos cientistas. O próximo a assumir o “equipamento quase vivo” é doutor Rex Martin, cientista e neurocirurgião interpretado por Bill Pullman. Nesse filme de horror tudo é um pouco estranho, mas por enquanto muito pouco é realidade (por enquanto, reafirmo). Dr. Martin, por exemplo, considera cada um daqueles cérebros uma vida, uma alma, uma pessoa como outra pessoa completa qualquer.

brain dead

Jim Reston, interpretado por Bill Paxton, surge no filme em seguida. Jim é amigo de Rex Martin desde os tempos da faculdade, e agora ele precisa de um favor. Dr. Martin precisa avaliar se um homem está de fato perdido em delírios paranoicos ou apenas fingindo, para fugir das garras da sociedade e da empresa Eunice.

brain dead

Halsey, o matemático e homem internado que nos interessa, está convencido que alguém chamado Ed Conklin está tentando matá-lo, e que Eunice, nome da corporação onde trabalhava antes de surtar, é na verdade o nome de sua esposa traidora. Depois de alguma conversa (e de ser atropelado por um carro na saída de uma reunião desagradável), Martin reconsidera convencer Halsey a se submeter aos testes laboratoriais. Os testes apontam que Halsey está doente de verdade, mas a sugestão de Jim Reston é que Halsey seja submetido a uma operação inédita (e ilegal) para a remoção da área comprometido do cérebro, ou até mesmo, para a inativação do cérebro, já que o matemático paranoico Halsey esconde segredos corporativos milionários da Eunice em sua mente.

LEIA TAMBÉM: GRIM PRAIRIE TALES: UM CLÁSSICO DESCONHECIDO DAS ANTOLOGIAS DE HORROR

O problema, além da questão ética, é que Martin se afeiçoou depressa a Halsey, e perante sua recusa em operar o matemático, a empresa Eunice, que também patrocina as pesquisas de Martin, passa a pressioná-lo cada vez mais, ameaçando retirar os investimentos e promovê-lo ao anonimato acadêmico. Convencido, Martin também convence Halsey a topar o procedimento cirúrgico — algo que é realizado ao vivo (sim, com o cérebro exposto sendo cutucado, uma maravilha). 

brain dead

Ao final, aparentemente Halsey está curado de seus delírios e retoma sua consciência de matemático, e Rex Martin é ovacionado pelos executivos da Eunice. Mas ainda existe uma questão: a paranoia de Halsey, o assassino que perseguia o matemático e toda conspiração envolvida, agora estão no encalço do doutor Martin.

brain dead

Não sabemos o que aconteceu, afinal de contas, a paranoia em certo sentido é mesmo contagiante, mas existiria a possibilidade de uma paranoia ser peculiar o suficiente para se transmitir biologicamente? E quem seria o suposto assassino, Conklin, que agora é o anfitrião para apresentar novas paranoias ao Dr. Rex Martin?

brain dead

Depois de um surto de estresse que coloca Martin como assassino da esposa e de seu amante, ele desperta internado, e encontra Conklin (o assassino de seus pesadelos, interpretado por Nicholas Pryor) na pele de um médico, Dr. Marcus Ramsen, que supostamente o está tratando em uma clínica. Nessa realidade, o matemático Halsey não existe como individuo, sendo apenas uma personalidade parasita de Martin. 

O filme é muito bom em nos confundir e alterar nossa compreensão do que está acontecendo no tecido da realidade e a salvo dos delírios dos personagens, e parte dessa capacidade vem da interpretação dos excelentes atores escalados para essa produção. Rever Bill Pullman e Bill Paxton em seu auge é um verdadeiro presente, além da trama redondinha que acabou surpreendendo bastante depois da primeira metade do filme.

E Martin segue em sua espiral para a loucura em Brain Dead, como se estivesse sendo sugado por sua própria insanidade e paranoia, encontrando pessoas e lugares que não fariam sentido, exceto em sua própria imaginação.

brain dead

O gore impactante e pontual apresentado em Brain Dead satisfaz pra caramba, e mesmo longe dos exageros de sangue, tripas e rock and roll (que tanto amamos), a experiência é cirurgicamente precisa e chocante (conte com alguns sustos, ok?). Nos delírios de Martin, tudo e nada fazem sentido, e dessa forma somos arrastados por suas alucinações até o último momento, onde os mistérios desse grande filme finalmente serão explicados.

A vontade de contar tudo e continuar escrevendo é imensa, mas a varinha de condão da fada da paranoia diz que é hora de parar por aqui, ou podemos arrumar alguma confusão com a patrulha do spoiler. Finalizamos dizendo que esse é um grande filme, que merece ser visto e cultuado pelos fãs de bons filmes improváveis e atores gigantescos. Para que ninguém entre em um delírio o sofra de uma morte cerebral antecipada por pura ansiedade, vamos deixar o trailer por aqui.

Podem deixar a paranoia de lado e cutucar o play, vale muito a pena!!

LEIA TAMBÉM: THE BONEYARD: A ETERNA MAGIA DOS NECROTÉRIOS

Sobre Cesar Bravo

amplificador cesar bravoCesar Bravo é escritor, criador de conteúdo e editor. Pela DarkSide® Books, publicou Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, DVD: Devoção Verdadeira a D., 1618 e Amplificador.

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