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Como é a vida de uma antropóloga forense? Conheça Sue Black

A carreira nada convencional da autora de Todas as Faces da Morte e Ossos do Ofício

27/06/2024

Pergunte a qualquer criança “o que você quer ser quando crescer?” que as respostas irão variar entre astronauta, professor, cantor ou jogador de futebol, por exemplo. Para Sue Black, seus planos envolviam estudar corpos.

LEIA TAMBÉM: O QUE É ANTROPOLOGIA FORENSE + 1º CASO RESOLVIDO POR ELA

Uma das principais anatomistas e antropólogas forenses do mundo, Dame Sue Black não tem medo de encarar a morte de frente desde muito nova. Em mais de três décadas de carreira, a antropóloga forense já dissecou casos de todos os tipos, incluindo crimes de guerra no Kosovo e o estudo das vítimas do tsunami que atingiu o sudeste asiático em 2004.

Com uma imparcialidade e pragmatismo exigidos por um trabalho minucioso e científico como esse, ela reúne suas experiências e conta aos leitores como é trabalhar com a morte todos os dias no lançamento Todas as Faces da Morte, recém-publicado pela coleção Profissionais da Morte.

todas as faces da morte

Com um olhar sensível e bem-humorado — que os DarkSiders já conheceram em seu best-seller Ossos do Ofício —, Sue Black mescla memórias pessoais, casos reais de estudos, tragédias naturais, doenças debilitantes, insights científicos, e nos presenteia com histórias emocionantes que servem como reflexão da vida.

Tudo começou no açougue

Não é muito comum encontrar adolescentes que queiram trabalhar em um açougue, mas foi assim que a carreira de Sue começou. “Havia uma lógica nisso”, declarou em entrevista ao site da Royal Society of Biology. “Quando você remove carne da área do ombro de uma vaca, por exemplo, é o mesmo padrão todas as vezes. Você sabe onde fazer os cortes e você sabe onde o feixe neurovascular vai estar.

Black relembra que ela provavelmente não entendia muito bem o que estava vendo naquela época, já que nessa idade muita informação acaba ficando registrada na sua mente meio que inconscientemente. Ainda assim, ela sabe que isso a ajudou em sua carreira: “Quando você começa a ver isso em um humano você resgata uma experiência que nem sabia que estava integrada em você”.

sue black

A carreira com anatomia e ciência forense

Por mais que estivesse acostumada a ver carne e sangue, migrar para o laboratório de anatomia certamente deixou uma forte impressão em Sue Black. “A anatomia toma conta de todos os sentidos. Cada departamento de anatomia tem um cheiro próprio — você poderia me vendar e me deixar lá que eu saberia exatamente onde estaria. Você anda e vê a sala, ouve os ecos, cheira o formol, e sabe que o próximo sentido que vai usar é o tato. A próxima coisa que tem que fazer é puxar aquele lençol branco e cortar pele humana.”

Outro impacto mencionado por ela é associar o seu objeto de estudo a uma pessoa: “Quando você pensa no fato de que aquelas pessoas mortas estavam vivas há seis meses, e que elas decidiram que deixariam seu corpo para que você pudesse aprender, é um momento bem reflexivo. É uma responsabilidade imensa.”

Por mais impressionante que o início em anatomia pudesse ser, Sue sabia que estava no caminho certo. “Toda vez que abro um corpo fico maravilhada com o que se esconde ali”, menciona, sem esconder seu fascínio até hoje: “Imagino que alguns vejam isso de uma maneira mais fria, mas para mim, toda a ideia — doação de corpos e dissecação de corpos — é um evento social gigante”.

sue black

A migração da anatomia para a ciência forense ocorreu durante o doutorado, quando o supervisor dela foi convidado para participar de um caso da área. Ela, então, avaliou sua relação com sua experiência e com o trabalho em si e chegou à conclusão de que poderia se transferir do ambiente da anatomia para o necrotério.

Dos laboratórios para a guerra

O convite para se unir a uma equipe forense na guerra do Kosovo veio de maneira inesperada de Peter Vanezis, professor de medicina forense da universidade de Glasgow. Sem saber muito sobre as condições de trabalho, ela embarcou e logo percebeu que o campo de batalha “é o mais distante possível das condições do laboratório”.

A primeira cena com que se deparou envolvia examinar 44 homens que foram incendiados dentro de uma casa. “Os corpos estavam bem decompostos, queimados e o teto havia cedido. Para piorar, os refugiados que saíram do local deixaram seus cães para trás, que estavam se alimentando dos restos. Essa era a sua cena de crime.”

todas as faces da morte

Para ela, sua objetividade científica a protege de assimilar os horrores que ela estava testemunhando. “Nós estamos lá para fazer um trabalho específico e ser cientistas imparciais, ou seja, você tem que coletar e relatar evidências de uma maneira objetiva, você não pode tomar lados — essas são as regras da ciência.”

Nossos corpos são nossa principal identidade

Um dos casos que permanece forte na lembrança de Sue envolve justamente sua experiência no Kosovo, quando um homem que havia perdido onze familiares, incluindo oito filhos, em explosões buscava os restos mortais deles. “Ele procurava onze sacos de cadáver, cada um com o nome de um parente”, disse Black ao The Guardian

Para ela, trabalhar com identificação de vítimas de desastres sempre reacende o medo e a possibilidade de que algo assim aconteça próximo de você. Ciente disso, Sue criou uma espécie de “mapa corporal” de suas filhas, com anotações de marcas de nascença e até mesmo extrair impressões digitais das mãos e dos pés.

sue black

A antropóloga forense também desencorajou as filhas a usarem aparelhos nos dentes quando eram crianças. “Parte do que é identificável a seu respeito e o desalinhamento dos seus dentes. Eu prefiro mil vezes que a sua boca se pareça com um túmulo saqueado do que com o Tom Cruise.”

A evolução da ciência e da antropologia forense

Com mais de quarenta anos de carreira, Sue Black observa como a área evoluiu desde que ela começou a estudá-la, principalmente desde a introdução do uso de DNA nos anos 1980: “Hoje nós temos uma dependência tão grande do DNA que isso quase substitui todas as outras ciências forenses”.

Mas há, é claro, várias técnicas que são aplicadas além do próprio DNA — algumas delas pouco conhecidas do público. “Nós tivemos um caso em que alguém que estava sofrendo abuso deixou a sua câmera ligada no Skype, e à noite a câmera mudava para o modo infravermelho. Essa luz faz com que os seus padrões venosos se destaquem como trilhos de tram pretos.” 

Com algumas imagens de uma mão e um antebraço aparecendo no enquadramento da câmera, os policiais encaminharam o material para anatomistas fazerem comparações. “Se você olhar as costas de suas mãos ou pulsos, os padrões das duas serão bem diferentes — existe uma variação gigante de padrões. Fomos ao tribunal pela primeira vez com um material desse tipo. Foi a primeira vez no Reino Unido.”

sue black

Quando questionada se ela se preocupa que criminosos em potencial se aproveitem de seus livros, estudos e aulas para praticarem seus crimes, Sue Black se mostra bem tranquila: “A maioria dos criminosos, graças a Deus, não é muito inteligente, e é por isso que são pegos… eles não acham que isso vai acontecer com eles. Eles também precisam saber que a ciência está no encalço deles.”

LEIA TAMBÉM: O QUE ACONTECE COM OSSADAS QUE SÃO ENCONTRADAS?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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