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DarksideEntrevista

Enéias Tavares: “Serpentes & Serafins é um convite para pegarmos a estrada, literária ou literal”

Em entrevista ao DarkBlog, autor apresenta o lançamento

11/09/2024

Esta é sua convocação para uma viagem divina e ao mesmo tempo profana pelas nossas buscas mais profundas. Depois de deslumbrar os DarkSiders com o inventivo universo steampunk de Parthenon Místico e Lição de Anatomia, Enéias Tavares nos apresenta ao seu primeiro romance contemporâneo com Serpentes & Serafins.

LEIA TAMBÉM: Lançamento: Serpentes & Serafins, por Enéias Tavares

No lançamento, o autor nos coloca como companhia de viagem de Alex Dütres, um comerciante de arte sacra cuja vida sempre foi uma eterna busca. Com uma infância inspirada e assombrada por uma rígida criação religiosa, ele sempre se viu só em seus desejos e inquietações, até que um despretensioso voo de São Paulo para Berlim o conduz ao seu destino.

Em uma conversa exclusiva ao DarkBlog, Enéias Tavares compartilhou suas inspirações, referências e falou sobre a sua relação pessoal com o protagonista e como foi o processo de criação do seu “roadmance”. Prepare as malas e viaje nesta entrevista:

DarkBlog: Para começar, uma pergunta pessoal. Alex Dütres, o protagonista de Serpentes & Serafins, é definido como um homem em busca constante. Em que aspectos você diria que o romance também reflete suas buscas como autor?

Enéias Tavares: Eu tive uma infância protestante, com meus pais sendo muito religiosos. Se de um lado essa educação me fez apreciar a leitura e as histórias da Bíblia, por outro resultou em uma série de restrições. Com esse background, das duas uma: ou você passa a vida um tanto ressentido ou encontra um modo de curar esse machucado dentro de você e de reconstruir uma certa visão de espiritualidade. Serpentes & Serafins nasceu desse esforço, racional e artístico, usando a ficção, de cauterizar algumas feridas e encontrar respostas para questões que estão aqui ainda e que a religião deste sempre trabalha como o sentido da existência, o significado da fé, a busca por amor e compreensão, o fascínio do desejo e dos sentidos corpóreos. Enfim, tudo isso está no livro, em uma história bem on the road que conecta lembranças de quando morei fora do Brasil, com alguns lugares místicos que adoro, como a Quinta da Regaleira em Sintra, Portugal.

serpentes e serafins

D: Seu romance é permeado por muitas referências culturais e artísticas. De que modo elas se conectam no livro e como moldaram sua narrativa?

ET: Alex Dütres. Alex é fascinado por um escultor checo e vai a Berlim para negociar uma série desse artista, inspirada nos profetas do Velho Testamento. É lá que ele conhece a viúva Joana Strauss, logo após quase ter perdido a vida em um voo inacreditável que partiu do Brasil. Um anjo o contata nesse voo e este é o mote para os principais temas do livro: religião, fé, paixão, arte, cultura e viagens, tanto internas quanto geográficas. O livro brinca com a ideia de um homem que abandonou sua fé religiosa e a reposicionou no mundo da arte, para então reaprender, no corpo e através dos sentidos e do amor, uma experiência de transcendência. Essa experiência acontece ao encontrar dois anjos caídos, duas figuras igualmente enigmáticas e fascinantes, um defendendo uma ideia bíblica de existência e outro, uma ideia científica. Essas duas versões da realidade constituem o principal conflito da trama, entre outros embates, que acontecem não apenas em diferentes lugares, mas em diferentes temporalidades.

D: O livro aborda espiritualidade e religião. De onde surgiu a ideia de trabalhar esses temas e por que eles são importantes para você?

ET: Sinceramente, de observar os tempos em que vivemos e perceber uma crescente crise em diversos campos: ambiental, político, cultural e tecnológico. É um tanto curioso pensarmos em grandes temas filosóficos e existenciais enquanto vemos nosso planeta agonizar nas mãos de autoridades gananciosas e nossa cultura ser reduzida à última postagem da rede social da vez. Além disso, pandemias e desastres climáticos nos deixaram ainda mais cativos de nossas casas e de nossas telas. Pensando nisso, Serpentes & Serafins é um convite para pegarmos a estrada, literária ou literal, visando novos caminhos de descoberta e encanto. Adoro aproximar a busca pelo divino da busca pelo sensorial. E as referências presentes no livro são sobre isso: sobre encontrar Deus nas pessoas que amamos, nos poemas que celebramos, nos corpos que habitamos. 

D: Falando em referências, poderia compartilhar conosco quais foram as suas inspirações para escrever esta história?

ET: Foram várias, que vão desde os álbuns do U2 Achtung Baby e POP, passando pelos romances de Anne Rice A História do Ladrão de Corpos e Memnoch, os filmes de Wim Wenders Asas do Desejo e Tão Longe, Tão Perto, até obras recentes como Sapiens, de Yuval Harari. De não ficção, que constituíram parte importante desse projeto, sobretudo os embates sobre religião, ciência e alquimia, cito nomes que tratam de religião, ciência e ateísmo, como Karen Armstrong, Jack Miles e Richard Dawkins, de crítica literária e bíblica, como Harold Bloom, Reza Aslan e René Girard, ficcionistas que estão interessados em magia como Alan Moore e Rachel Pollack, além de ensaístas como Ed René Kivitz, Nilton Bonder e Tomáš Halík e romancistas atuais que ficcionalizaram a Bíblia, como Gerald Messadié e Anita Diamant. Desta, indico, A Tenda Vermelha, uma ousada releitura do Gênesis de uma ótica feminina.

serpentes e serafins

D: A partir desses autores, como você equilibra fé e ciência em uma única narrativa, sem favorecer uma perspectiva sobre a outra?

ET: Temos dois heróis, ambos anjos caídos, um deles mais associado ao céu, o anjo Barachiel, e outro mais ligado ao inferno, o demônio Samael. De saída, eles parecem dialogar com as tradicionais visões de céu e inferno que a cultura ocidental nos brindou. Mas, na verdade, ambos são criaturas apaixonadas pela humanidade. Assim, Barachiel é um leitor e um entusiasta dos mitos literários antigos. Já Samael, um viajante que aprendeu com Darwin a investigar a existência física e seus mecanismos de evolução e magia. A fusão das duas narrativas acontece em um real laboratório alquímico no qual o físico e o espiritual entram em colisão. Em outra dimensão, a história de amor entre Alex e Joana também trabalha esses opostos, mas a partir da crença e da descrença, que não raro associamos à religião e à ciência. Assim, fé e ciência se encontram em Serpentes & Serafins no espaço precioso e sagrado do amor e da arte, do corpo e da mente.

D: Cidades e paisagens europeias desempenham um papel importante no romance. Por que escolheu esses cenários e como eles contribuem para o enredo e a atmosfera da história?

ET: Eu amo viajar e esse livro também nasceu desse interesse. Desde 2020, com a pandemia e o isolamento social, nossas viagens ficaram limitadas. Aqui no Rio Grande do Sul, depois das enchentes do início deste ano, até os aeroportos foram fechados e alguns ainda permanecem com voos limitados. Acho que Serpentes & Serafins é um desabafo real e uma viagem imaginária em prol de uma experiência mais aberta e dinâmica, mais migratória do que estática. Em um romance sobre anjos, recuperei minhas andanças da época do doutorado fora, perambulando por Berlim, Vicenza, Sintra, Madrid, Londres e outros cenários referenciados no livro. O critério foi: onde há anjos, demônios e alquimistas, lá eu levaria Alex e seus companheiros humanos e angélicos. Dessa perspectiva, Serpentes & Serafins é um perfeito romance de viagens. 

D: Como Serpentes & Serafins se diferencia de suas obras anteriores, como Parthenon Místico e Lição de Anatomia? Há algum tema ou estilo que você explorou de forma diferente neste novo livro?

ET: Meus livros anteriores são experimentações, para não dizer homenagens ou pastiches, a grandes vozes da nossa literatura canônica. Isso dialoga com o gênero steampunk, essa reinvenção do passado usando temas, personagens e referências, além da linguagem, para tratar de inquietações modernas. Assim como Simão Bacamarte de Lição de Anatomia é uma reinvenção do estilo de Machado de Assis, o Sergio Pompeu de Parthenon Místico é uma recriação da voz de Raul Pompeia, entre outros autores que são lidos e referenciados nos dois volumes de Brasiliana Steampunk. Serpentes & Serafins tem um narrador contemporâneo, em terceira pessoa, portanto mais direto e cinematográfico, menos requintado. Por outro lado, agora pensando em traços comuns, esses três romances são histórias sobre histórias e o modo como nos constituímos através delas, em nossas conversas, memórias e escritos. Nesse aspecto, há uma linha que conecta os três volumes. Serpentes & Serafins tem muitos personagens em diálogo, o que acaba retornando à maquinaria da escrita em primeira pessoa, como fiz nos livros anteriores. Os leitores de Anne Rice reconhecerão esse expediente de A Hora das Bruxas, romance que tem um narrador em terceira pessoa até mergulhar na narrativa do relatório sobre as treze gerações da família Mayfair. Então, sim, é um romance bem diferente dos outros, mas ao mesmo tempo, há uma continuidade de estilo neles.     

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D: O livro está sendo descrito como um roadmance. Como você caracterizaria esse subgênero?

ET: Um roadmovie literário em que, ao abrirmos o livro, nos jogamos na estrada, com nossas lembranças fílmicas e textuais dentro de nós, mas com trilha sonora tocando, para melhor curtirmos a paisagem. Serpentes & Serafins abre e fecha com canções do U2 cujas letras referenciam diretamente a trama do livro. É uma forma de convidar o leitor não apenas a viajar pela sinuosidade do enredo, mas também a pensar na sua trilha ideal. E esse é o convite que eu deixo aos leitores: que peguem a estrada na companhia desses anjos caídos, viajantes ousados e artistas visionários, o elenco de heróis e anti-heróis que forjam a cartografia mística, científica e apaixonada de Serpentes & Serafins.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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