Crime Scene Fiction • Curiosidades

Giulia Tofana: Saiba quem foi a envenenadora

Aqua Tofana narra a história desta dama mortal

17/07/2024

Algo estava errado na Roma do século XVII: homens começaram a cair como moscas sem que ninguém entendesse o porquê. Essa era uma época em que o tal do “até que a morte os separe” era levado muito a sério e divórcios não eram uma opção.

Diante deste cenário, e considerando o fato de que naquela época mulheres não podiam trabalhar ou adquirir propriedades, muitas chegaram à conclusão de que a viuvez era o caminho mais curto para ter alguma liberdade. E Giulia Tofana estava lá para ajudá-las.

A história da envenenadora é uma das várias contadas por Jennifer Wright em Damas Mortais, que traz o perfil de quarenta assassinas ao longo da história. Para preencher as lacunas deixadas pela história, Cathryn Kemp uniu sua extensa pesquisa histórica à ficção em Aqua Tofana, uma jornada arrebatadora que reimagina a biografia de Giulia Tofana com sensibilidade e ousadia.

Mas afinal, quem foi esta assassina? A Caveira trouxe algumas gotas deste veneno neste post.

Uma dinastia venenosa

Nascida por volta de 1620 em Palermo, Giulia era filha de Thofania d’Adamo. A mãe dela foi executada em 1633 adivinha por qual motivo? Matar o marido. Ela deixou uma herança letal para a filha: um veneno muito eficaz, que ficou conhecido como “Aqua Tofana”.

Para não levantar suspeitas, a substância foi disfarçada de cosmético, mas na verdade misturava arsênico, chumbo e beladona. Individualmente, esses ingredientes já são mortais, juntos, chegam a uma letalidade tão alta que quatro gotas são suficientes para ceifar a vida da vítima. Com uma gota, a pessoa apresentaria sintomas de um resfriado. Na segunda, o quadro seria semelhante ao de uma gripe. Três gotas mandariam a pessoa para a cama e a quarta seria fatal.

Sem levantar suspeitas

A poção de Giulia se tornou popular no submundo mágico e criminoso de Roma, que envolvia bruxas, cartomantes e um misterioso círculo de envenenadoras que trabalhavam sob o disfarce de uma botica. A maior vantagem da Aqua Tofana era justamente a dificuldade em detectá-lo.

Conforme uma revista de 1890 relatou, a esposa era capaz de resguardar sua aparente inocência, mesmo solicitando um exame post mortem, que não indicaria o real motivo do falecimento. Ou seja, as pessoas não a culpariam e ela ainda poderia lembrar a todos de que o parceiro morreu sem dor, inflamação, febre ou espasmos. Realmente um mistério.

Se depois de um ano, mais ou menos, ela decidisse tomar um novo esposo, ninguém poderia culpá-la. Afinal, sua perda era justificada e ninguém acharia absurdo uma mulher não querer carregar o nome de um homem cujos parentes a acusaram de envenená-lo. Era o plano perfeito.

O papel de Giulia Tofana nos envenenamentos

Como Giulia era viúva, é bem possível que ela conhecesse de perto as qualidades do veneno criado pela mãe. Se ela seguiu os passos da mãe, certamente não foi a única. De fato, os negócios iam tão bem que acredita-se que ela tenha contribuído com a morte de seiscentas pessoas.

O sucesso era tanto que sua produção precisou aumentar. Diversos colaboradores, incluindo sua filha, começaram a ajudar na preparação e venda das poções, que eram escondidas em frascos que continham a imagem de São Nicolau de Bari, ninguém menos que o bom velhinho que inspirou o Papai Noel.

Só que o reinado de terror — ou de emancipação feminina, dependendo do ponto de vista — dela eventualmente chegou ao fim. A maneira ainda gera debate até os dias de hoje. Sabemos que em 1659, durante o papado de Alexandre VII, o número de mulheres que se tornaram viúvas em Roma começou a chamar atenção — e que isso acontecia, coincidentemente, depois dos maridos se tornarem desagradáveis com suas esposas.

Há versões que dizem que Giulia morreu em 1651 tranquila, em sua cama. Já outras versões defendem que ela tenha sido delatada por uma de suas clientes, que ficou com remorso após dar sopa envenenada pro marido.

Uma das versões mais conhecidas é a de que o número de maridos mortos chamou a atenção e as suspeitas recaíram sobre Giulia, que buscou refúgio em um convento. No começo, houve várias pessoas que se levantaram em sua defesa, porém, quando as autoridades espalharam um boato de que ela estava envenenando poços da cidade, o povo se voltou contra ela. Giulia teria sido arrastada do convento onde estava, torturada e estrangulada.

Um legado venenoso

Se Giulia morreu em 1651, seu veneno certamente viveu por mais tempo. Em seu leito de morte, em 1791, Mozart teria se queixado de que o mataram com Aqua Tofana. A principal suspeita, na verdade, é de sífilis, mas é impressionante pensar que, mais de um século após sua morte, o legado venenoso de Giulia permanecia vivo no imaginário popular.

Tão vivo que ela chegou com sua poção intoxicante na marca Crime Scene Fiction com Aqua Tofana. Deixe-se envenenar por esse episódio histórico e pela recriação mordaz de Cathryn Kemp sobre esta lady killer. Uma história que vai circular por muito tempo nas suas veias.