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E.L.A.S

O adoecimento materno na ficção

Precisamos falar sobre a saúde mental das mães

07/04/2025

A maternidade é, sem sombra de dúvida, um momento extremamente gratificante. Gerar uma nova vida e acompanhar o desenvolvimento de um pequeno ser humano é para muitas pessoas um sonho e uma realização. No entanto, por mais que a maternidade seja um assunto discutido hoje em dia, pouco se fala sobre a saúde mental das mães. Afinal, enquanto ser mãe pode trazer inúmeras alegrias, a experiência também pode ser desafiadora e vivenciada de diferentes maneiras. Para algumas mulheres, inclusive, pode ser bastante traumatizante.  

LEIA TAMBÉM: 10 Thrillers que abordam a maternidade

Grande parte desse silêncio em torno da saúde mental materna vem da visão de que mães são super-heroínas com forças inesgotáveis. A ideia de que elas conseguem “dar conta de tudo”, conciliando vida profissional, social, afazeres domésticos e cuidado com os filhos, além do cuidado com si mesmas, muitas vezes as sobrecarrega ao ponto da exaustão e do adoecimento. Aliado a isso, a romantização da maternidade, representada em filmes, séries de televisão e livros, muitas vezes mascara uma experiência cheia de sentimentos conflitantes, como ansiedade, tristeza e culpa.

Isso faz com que a saúde materna seja frequentemente desconsiderada ou até mesmo tratada como um tabu, já que se espera que as mães estejam sempre felizes e dispostas. No entanto, o assunto é muito mais comum do que imaginamos e pode afetar de forma drástica tanto a mãe quanto seus filhos. O Dia Mundial da Saúde Mental Materna, por exemplo, foi instituído como forma de conscientizar a importância de falarmos sobre a saúde mental na maternidade, sendo comemorado na primeira quarta-feira do mês de maio. A organização por trás da data estima que 7 em 10 mulheres ocultam ou minimizam seus sintomas e sofrimentos mentais.   

Os adoecimentos mais comuns na gravidez e no pós-parto

Dentre os sintomas mais comuns no período gestacional estão a ansiedade e a depressão. Frequentemente, essas condições são ignoradas no acompanhamento pré-natal e podem se tornar fatores de risco para a depressão pós-parto. Embora a depressão pós-parto seja similar à depressão comum, ela surge conectada a vivências específicas da maternidade, como cansaço extremo, tristeza prolongada, sentimento constante de culpa, pânico e sensação de ser incapaz de cuidar do bebê. Além disso, outro adoecimento comum é o chamado Baby Blues, caracterizado por intensos sentimentos de melancolia, os quais atingem cerca de 85% das mães nas primeiras semanas após o parto.

Em alguns casos, há ainda diagnósticos como o de psicose puerperal, o qual acomete uma a cada cinco mães na fase do puerpério. Considerado um tipo de Transtorno do Humor, a psicose puerperal apresenta sintomas graves e agudos como alucinações, delírios e oscilações de humor e sono. Também existe o diagnóstico de TEPT, Transtorno de Pânico Pós-Parto, o qual é desenvolvido como resposta a um evento traumático durante a gestação ou o parto. Mulheres que sofrem de perdas perinatais, morbidade, partos complicados, violência obstétrica e procedimentos invasivos, por exemplo, podem manifestar sintomas de ansiedade elevada e até mesmo comportamentos obsessivos-compulsivos. 

O adoecimento materno na ficção

Embora seja bastante comum que filmes e livros retratem a maternidade de forma idealizada, há ainda espaço para obras que abordam o assunto de maneira mais realista, utilizando a saúde mental materna como ponto de partida para narrativas angustiantes. Em Ela Não Pode Confiar, Katie Sise conta a história de Rowan O’Sullivan, um renomada autora de suspense, que após um parto traumático em um hospital de Nova York finalmente retorna para sua casa com a filha recém-nascida, Lila, e o marido Gabe, um dramaturgo de sucesso. 

Para ajudar Rowan com o bebê, o casal contrata June, uma jovem babá de meio período indicada pelo agente de Gabe. Inicialmente as duas mulheres se tornam amigas, mas as coisas mudam quando Rowan passa a ser dominada pelo medo e ansiedade, sofrendo um colapso emocional e acusando June de tentar prejudicar seu bebê. Tudo piora quando June desaparece sem deixar nenhum rastro, fazendo Rowan temer que ela possa ser a responsável pelo seu sumiço. 

Um dos primeiros lançamentos do projeto especial E.L.A.S – Especialistas Literárias na Anatomia do Suspense da DarkSide® Books, Ela Não Pode Confiar traz uma tema pouco abordado no mundo dos thrillers: a maternidade. Aqui, Kate Sise mistura o trauma do pós-parto com a trama de pessoas desaparecidas, criando um suspense que prende o leitor até o fim. 

Mergulhando no mundo da saúde mental materna, a obra mostra as cicatrizes de uma gravidez difícil e de um parto traumático. Rowan ama sua filha, no entanto, quando não consegue amamentá-la, ela teme que possa prejudicar o bebê. Além disso, a nova mãe não se lembra de nada do nascimento, o que lhe deixa com a sensação de que uma escuridão está continuamente pairando em sua vida. Lutando para lembrar o que aconteceu no parto, ela frequenta sessões de terapia, embarcando em um processo lento e estressante. Preocupado com seu estado de espírito, seu marido, Gabe, a mantém protegida e isolada dos amigos e família. Contudo, por meio de conversas silenciosas e comportamentos evasivos, Rowan sente que todos ao seu redor estão agindo de forma estranha, como se soubessem de alguma verdade desconhecida para ela. Nisso, a personagem precisa enfrentar acontecimentos sombrios que sua mente tenta manter em segredo. 

Com personagens complexos, Ela Não Pode Confiar aborda de forma dolorosa a questão da saúde mental materna, mostrando como as mães podem enfrentar momentos intensos de fragilidade e dúvidas. Kate Sise mostra uma personagem que questiona o tempo todo sua capacidade de ser uma boa mãe e uma boa esposa, lançando luz sobre problemas universais que muitas mulheres enfrentam ao terem filhos e tentarem gerenciar relacionamentos, carreiras e sua nova função como mães, percebendo que as coisas não são tão fáceis quanto elas foram levadas a acreditar. 

Além de Ela Não Pode Confiar, outro livro que aborda saúde mental materna é O Berço Vazio de Thomas Olde Heuvelt, que nos leva pelos recantos da depressão pós-parto de uma mãe abalada por uma perda inimaginável. Aqui o autor de HEX conta a história de Charlotte, uma mulher atormentada pela morte da filhinha Dolores, que mergulha em uma busca obsessiva para recriar o bebê perfeito. Partindo de uma das vivências mais dolorosas e silenciadas da maternidade – mães que perdem seus filhos – O Berço Vazio nos leva pela mente fragilizada de Charlotte e nos transforma em testemunhas de sua solidão e dor. 

o berço vazio

O cinema também aborda esse viés doloroso da maternidade, o qual muitas vezes é relegado a um canto de silêncio, para falar sobre a saúde mental materna. Um bom exemplo é o longa de terror psicológico Birth/Rebirth de Laura Moss, que conta a história de Rose, uma médica patologista que, após conseguir reanimar o corpo de uma criança de cinco anos, trabalha junto com sua mãe para mantê-la viva. Já o filme Pedaços de Uma Mulher utiliza de uma narrativa dramática para contar a história de uma mulher que precisa lidar com um parto traumático e a eventual perda de seu bebê.

o bebe de rosemary

Por outro lado, histórias como O Bebê de Rosemary e Prevenge trazem ansiedades relacionadas ao período da gestação. No livro de Ira Levin, por exemplo, Rosemary passa por uma gravidez difícil, sendo abalada por incertezas, mudanças corporais drásticas, desconfortos intensos e desejos estranhos. Por mais que a história enverede para o sobrenatural, com a protagonista envolvida em uma conspiração para dar vida ao Anticristo, O Bebê de Rosemary aborda questões como isolamento materno e partos traumáticos. Por outro lado, o filme britânico Prevenge envereda por um lado mais cômico para contar a trajetória de Ruth, uma viúva, grávida de sete meses, que fica convencida de que seu bebê não nascido está a incentivando a embarcar em uma jornada de vingança contra aqueles responsáveis pela morte do marido. Dirigido pela cineasta Alice Lowe, que estava grávida durante as filmagens, Prevenge medita sobre a ansiedade do pré-parto e o luto extremo. Já o australiano O Babadook, dirigido por Jennifer Kent, aborda as dificuldades da maternidade solo e a saúde mental de uma mãe sobrecarregada em uma história de horror atmosférica e sobrenatural onde um monstro perturba as fronteiras entre a realidade e o pesadelo. 

Práticas da saúde mental materna e como ajudar

Quando pensamos em mães, gestantes, puérperas e tentantes é vital entendermos que a saúde mental é tão importante quanto a física, merecendo igual atenção. Nesse sentido, especialistas apontam que além de diagnósticos e tratamentos adequados, o apoio e a assistência da família, amigos e conhecidos é muito importante.

É necessário combater uma cultura que romantiza a maternidade e perpetua a ideia de que mães não podem pedir ajuda, ficar cansadas ou ter sentimentos conflitantes em relação à gestação, ao parto, ao puerpério e até mesmo à criação dos filhos. Desta forma, especialistas ressaltam que a família e os amigos podem ajudar mostrando que elas não estão sozinhas nessa jornada, dando suporte emocional e também auxiliando em tarefas domésticas, cotidianas e em cuidados pessoais. Embora sejam coisas pequenas, isso pode ajudar muitos neste período de mudanças e adaptações. Além disso, aponta-se que o acompanhamento psicológico é de extrema importância, auxiliando as mães a navegarem por essas diferentes etapas da maternidade.

A lição que fica é que precisamos falar cada vez mais sobre a saúde mental das mães, dando fim a esse véu de silêncio que foi imposto sobre a maternidade. Saúde mental é um assunto sério e deve ser prioridade na vida de todos nós. Por isso, a Caveira reforça: cuide das gestantes, tentantes e mães ao seu redor. Diante de qualquer sinal, não hesite em procurar ajuda profissional. 

LEIA TAMBÉM: Clock: Thriller psicológico escancara as dores da pressão social pela maternidade

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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