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O gore raiz de Paulo Fontenelle em Sala Escura

Confira a entrevista do diretor ao DarkBlog

12/11/2024

Sala Escura é a nova incursão do diretor Paulo Fontenelle, que já foi da comédia ao romance passando pelo documentário, e agora aposta num terror “gore raiz”, como ele mesmo diz. O longa chega aos cinemas nacionais nesta quinta (14/11) e promete apavorar aqueles que, como a Caveira, já são amantes de longa data do terror.

LEIA TAMBÉM: Sala Escura: conheça a equipe e o elenco da produção

Passado numa sessão de cinema, o longa quase metalinguístico mostra os eventos macabros que se sucedem quando uma cena estranha aparece no filme em exibição e todos os frequentadores se veem trancados na tal sala escura. Apesar de usar um bate-bola, figura representativa do Carnaval suburbano-carioca, Paulo garante que esse é um terror universal e que a ideia foi justamente fugir do terror nacional, que “precisa dizer alguma coisa”. A mensagem aqui é a sanguinolência.

A Caveira está super empolgada com a chegada deste terror alimentado por talentos brasileiros e trocou uma ideia com Fontenelle. Confira a entrevista exclusiva ao DarkBlog:

DarkBlog: Você comentou que o plot metalinguístico de Sala Escura surgiu a partir de uma fobia, um pensamento intrusivo que você tinha sempre que estava numa sala de cinema vazia. O processo de fazer esse filme melhorou ou piorou a questão? Foi como uma terapia?

Paulo Fontenelle: Tem uma declaração do Stephen King que eu nunca esqueci. Ao ser perguntado se ele não sentia medo (já que escrevia todas aquelas histórias horripilantes),Stephen King respondeu que talvez fosse a pessoa mais medrosa do mundo e que a forma dele colocar o medo pra fora e, de certa forma, enfrentá-lo, era escrevendo seus livros. Eu também sempre fui um cara meio medroso. Lembro que, ainda pequeno, vi Carrie, a Estranha e passei uma semana sem dormir. Porque dormia em uma bicama, na altura do chão, e tinha certeza que uma mão ia sair pelo meio do colchão e me pegar no meio da noite.

Sala Escura veio desse medo de estar em um espaço fechado com pessoas desconhecidas e uma delas ser um potencial psicopata assassino. E fazer o filme diminuiu meu medo por alguns motivos, o primeiro é que, como Stephen King, coloquei pra fora. O segundo é que agora teremos mais gente com o mesmo medo. E o terceiro é que, por conta do filme, já sei de meios que posso usar pra me defender. Brincadeiras à parte, é realmente muito bom colocar fobias “pra fora”. Inclusive já penso em novas fobias para novos filmes de terror. 

sala escura

D: A figura do bate-bola, tão assustadora, entrou como nesse plot? A intenção era fazer um terror bem brasileiro?

PF: A ideia sempre foi exatamente o contrário. Nunca quis fazer um terror bem brasileiro, mas um terror que pudesse se passar em qualquer lugar do mundo e que funcionasse em qualquer lugar do mundo. O palhaço nunca foi pensado como Brasileiro, longe disso. A máscara do Jason é uma máscara de hóquei no Gelo, esporte que praticamente não existe fora dos EUA e do Canadá. Isso faz dele um símbolo que funciona somente por lá? A ideia do palhaço sempre foi de criar um signo. É como a máscara do Michael Myers, do Pânico ou do Leatherface. Fomos atrás de um símbolo que não estamos acostumados a ver em um slasher, para criar algo novo, o bate-bola foi uma escolha natural. Algo que não foi visto nem no Brasil nem fora do Brasil. E ainda assim, fizemos vários testes para chegar na versão final do bate bola. A primeira tentativa foi a mais clássica, com perucas de bate bola mesmo, de várias cores, não funcionou. Quando colocamos o cabelo real saltou aos olhos e encontramos o nosso palhaço. O desenho da máscara é original eu mesmo fiz. Depois levamos para um artesão de carnaval que produziu a máscara que usamos no filme.

D: Por que optar por efeitos mecânicos, tudo real e filmado em locação? O quanto isso impactou no desenvolvimento do filme? E como você se sente em relação ao resultado alcançado?

PF: Optamos por usar efeitos mecânicos pois fizemos um filme slasher com uma pegada também gore, algo que não estamos acostumados a ver no Brasil. Então não podíamos errar nos efeitos, eles precisavam ser tecnicamente perfeitos. Quando fazemos efeitos mecânicos sabemos na mesma hora se tudo está funcionando ou não. Retornei aos primórdios do cinema em uma época em que tudo era mecânico, mate paitings e maquiagem e funcionava. Houve um estudo enorme e uma grande união das equipes de maquiagem com a Mari Figueiredo, da arte da Fernanda Teixeira com todos os props e da luz do fotógrafo Dudu Miranda. O resultado é impressionante, não ficamos nada atrás dos efeitos de nenhum filme internacional. A cena da facada no olho, por exemplo, é uma mistura de efeitos especiais criados pelos produtores/finalizadores Rafael d’Oran e Fabrício Araújo, do momento em que a faca entra “literalmente” no olho, em junção com um efeito prático onde a maquiagem “colou” uma faca criada pela arte no olho do ator, que fica colado na porta, tentando arrancá-la. Se você achou a cena impressionante no trailer, ela é muito mais forte e violenta no filme. 

Temos um filme tecnicamente perfeito. Até a quantidade de sangue conversamos com médicos para fazer algo real, chocante. Um filme bem acima do orçamento que tínhamos para fazer, mas que foi possível porque toda a equipe abraçou a ideia e fizemos estudos minuciosos para que tudo funcionasse em conjunto.

Sala Escura é, na linha do gore real, capaz de chocar algumas pessoas, talvez por isso a gente tenha pego censura 18 anos para as salas de cinema.

sala escura
Imagem: Divulgação

D: Quais obras, cineastas e talvez autores te inspiraram para fazer seu próprio terror?

PF: Caramba. A lista é enorme, não sei nem muito por onde começar. E ela é bem eclética também. Claro que os clássicos Sexta-Feira 13, Halloween, O Iluminado, O Massacre da Serra Elétrica, Evil Dead, entre vários outros, mas também clássicos modernos como Jogos Mortais, O Cubo, House of 1.000 corpses e até As criaturas atrás das Paredes, Corra! e Pânico, claro. Mesmo assim, estou deixando um milhão de referências de fora dessa lista filmes japoneses menos conhecidos mas super impactantes como Audição, que é absolutamente apavorante e genial. Espíritos: A Morte está ao seu Lado, um filme tailandês maravilhoso. A lista seguiria interminável. Isso sem citar os filmes de zumbi, sobrenaturais, com fantasmas e monstros. Eu sou apaixonado por qualquer tipo de terror. O próximo filme que quero fazer é sobrenatural, mas também pesado e violento como Sala Escura. Stephen King, Wes Craven, Kubrick, John Carpenter, Tobe Hooper, Dario Argento, Eli Roth, George Romero, Jordan Peele, James Wan, Sabu, eu adoro terror japonês, terror coreano, tailandês e tem muita coisa legal sendo feita na América Latina. Tudo é referência.  

O que importa é o filme ser bom. Eu vejo de tudo. Fui trabalhar em uma locadora de vídeo quando tinha 14 anos e levava quatro filmes por dia pra casa. Via tudo. Talvez por isso minha filmografia seja tão eclética com terror, comédia, drama e até documentários. 

D: O que destaca este filme da produção atual do terror no Brasil e no mundo?

PF: Nós temos bons filmes de terror feitos no Brasil, mas não me lembro de nenhum como o Sala Escura. Eu gosto de grande parte deles, mas a maioria tem um cunho social ou um roteiro em que o terror é uma pitada dentro de uma história dramática mais complexa. Sala Escura é a carnificina pela carnificina. Ele chega a ser sádico em alguns momentos. Esse é o grande diferencial do filme em relação ao terror brasileiro. É um filme que poderia muito bem ser um terror de qualquer parte do mundo. E temos um roteiro recheado de viradas, mas tudo acontece rápido, os segredos vão sendo revelados e após a introdução o filme não para mais. Sala Escura é terror raiz, feito pra quem é fã do gênero.

Em relação ao resto do mundo, acho que o diferencial é que, em certos momentos, eu filmei quase como um documentário. O público fica incomodado porque se sente parte da história, seu olhar viaja por dentro de uma sala de cinema fictícia quando ele mesmo está dentro de uma sala de terror real. Somos o filme de terror dentro do filme de terror, uma imersão, puro entretenimento, quase um brinquedo apavorante de um parque de diversões.

E tem efeitos especiais que não me lembro de ter visto em outro filme nacional como usamos no Sala Escura

LEIA TAMBÉM: Sala Escura: Conheça o terror-suspense do cineasta Paulo Fontenelle

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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