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O Grito: A história do quadro que inspirou a capa de Fragmentos do Horror

Obra de Edvard Munch possui muitas camadas e influencia a cultura pop até hoje

01/07/2024

Existem quadros que são tão famosos que basta dizer seu nome para que sejam instantemente reconhecidos. Esse é o caso de O Grito (em norueguês, Skrik) do artista Edvard Munch. Considerada uma das obras mais importantes do movimento expressionista, O Grito data de 1893 e traz como protagonista uma figura andrógina com as mãos no rosto e a boca aberta em um grito escancarado. Embora seja uma das imagens mais conhecidas do mundo da arte, existem na verdade quatro versões da pintura. Isso acontece porque Munch experimentou diferentes métodos e técnicas, resultando em versões feitas em tinta, têmpera e pastel. 

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Contudo, o que mais impressiona é como ao longo das décadas O Grito ganhou vida própria. Foi transformada em emoji, parodiada em cartazes e até inspirou a máscara de um dos vilões mais famosos do terror, o icônico Ghostface da franquia Pânico

Não é coincidência então que a pintura — capaz de transmitir as emoções mais angustiantes e intensas — tenha inspirado a capa do mangá Fragmentos do Horror do mestre Junji Ito. Assim como as histórias assustadoras e bizarras do mangaká, O Grito também tem uma trajetória digna de roteiro de cinema. Até se tornar a obra de arte mais cara já vendida em um leilão, a pintura de Edvard Munch foi protagonista de não um, mas dois roubos icônicos, e deixou um impacto duradouro na cultura pop. 

fragmentos do horror

Quem foi Edvard Munch?

Edvard Munch nasceu na Noruega em 1863 e desde cedo sua vida foi marcada por tragédias. Aos 5 anos, sua mãe faleceu após contrair tuberculose, doença que mais tarde levaria também uma de suas irmãs. Posteriormente, Munch viu sua outra irmã, Laura, ser internada em um hospital psiquiátrico e seu irmão falecer aos 30 anos devido a uma pneumonia Em seus escritos, o pintor recorrentemente expressou medo e ansiedade perante as questões de saúde mental de sua família, afirmando que havia herdado as “sementes da loucura” do pai, o qual descreveu como um homem nervoso e obsessivamente religioso. 

Após desistir da faculdade de engenharia, Munch ignorou as críticas do pai e ingressou no mundo da arte por meio da Royal School of Art and Design em 1881, onde foi aluno de figuras famosas como o pintor naturalista Christian Krohg. Em 1883, participou de sua primeira exposição pública com um retrato do pintor Karl Jensen-Hjell, sendo ridicularizado pelos críticos especializados.

Após uma visita a Paris em 1886, Munch começou a romper com o realismo, aproximando-se do expressionismo que o tornaria famoso. Em 1889, retornou para Paris após a morte do pai e foi durante essa estadia que passou por um de seus períodos mais produtivos e problemáticos, produzindo a série de pinturas que chamou de O Friso da Vida, que inclui O Grito

o grito

Embora tenha desfrutado de sucesso, Munch foi afetado por sua saúde mental e consumo excessivo de bebida alcoólica. Em 1908, o pintor foi internado em um hospital psiquiátrico e embora tenha deixado o local em 1909, sua vida nunca mais foi a mesma. Ele passou a viver isolado em sua propriedade perto de Oslo e faleceu em 23 de janeiro de 1944, pouco mais de um mês após seu 80º aniversário.

A história de O Grito 

Munch escreveu em seu diário que a inspiração para O Grito veio de uma memória de 1882 quando estava caminhando com dois amigos durante o pôr do sol. Subitamente, o céu ficou tingido com uma tonalidade vermelho-sangue e o pintor começou a se sentir profundamente cansado e angustiado. Ele parou para descansar e se apoiou em uma cerca, enquanto os amigos continuavam a caminhada.

Contudo, sua ansiedade foi tão grande que ficou tremendo e sentiu um grito infinito que parecia ecoar por toda a natureza. Posteriormente, Munch resolveu pintar o que sentiu e ouviu naquele momento. Nascia assim uma das imagens mais provocantes e enigmáticas de todos os tempos. 

o grito

O que O Grito quer dizer?

Enquanto O Grito possui semelhanças com outras obras de Munch, como o Desespero, sua complexidade abre portas para diferentes interpretações, partindo da misteriosa figura no centro. Seria um crânio ou um rosto? O que ela está vestindo? O que está acontecendo? Todas essas características difíceis e indistintas, mais a técnica de pintura, transformam O Grito em um enigma visual. A abordagem, as cores, os traços não realistas e a união entre conteúdo e forma são um ponto de virada na história da arte, marcando a transição do movimento simbolista para o expressionista

A partir da descrição de Munch, muitos pesquisadores apontam que a paisagem e o caminho que vemos no quadro estão situados em um lugar real na Noruega: um fiorde com vista para Oslo com a colina Ekeberg logo atrás. Nesta mesma colina estaria localizado o hospital psiquiátrico onde Laura, a irmã do pintor, havia sido internada, enquanto os dois homens ao fundo seriam os amigos da caminhada. Alguns críticos também sugerem que o céu alaranjado poderia representar uma erupção vulcânica próxima ou até mesmo as emoções tumultuadas do pintor, surgidas por estar próximo do local de residência da irmã. 

Há outros estudiosos que apontam que O Grito é um estudo de equilíbrio. A mistura dos componentes na pintura — como o céu e a paisagem rodopiante — sugerem um estado mental caótico, enquanto as linhas lineares e duras fornecem um contraste para esses elementos, de forma que Munch estaria transparecendo um tumulto interno entre a sanidade e a loucura.

o grito 1910

A figura principal também continua sendo objeto de análise. Embora seja frequentemente apontado que seja uma representação do próprio pintor, outras teorias sugerem que se trata de sua irmã. Contudo, ao tornar a figura tão enigmática, muitos críticos concordam que Munch estava abordando a ansiedade, o caos e a alienação como sentimentos universais, os quais todos os seres humanos poderiam se relacionar de alguma forma. Isso é endossado pelo fato de O Grito se relacionar com temas presentes em suas outras obras, como doença, isolamento, medo e morte.  

As diferentes versões e os roubos cinematográficos

Munch criou quatro versões de O Grito. A primeira foi pintada em 1893 e atualmente se encontra no Museu Nacional da Noruega em Oslo. A segunda, feita em pastel naquele mesmo ano, é considerada um estudo preliminar e está no Museu Munch, também em Oslo. A segunda versão pastel de 1895 situa-se em uma coleção particular — vendida por cerca de 119 milhões de dólares — e a segunda versão pintada de 1910 também está na coleção do Museu Munch

O GRITO versões

Em 12 de fevereiro de 1994, no dia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, a versão do Museu Nacional foi roubada por dois homens após ter sido transferida para o segundo andar do prédio devido às festividades olímpicas. Os assaltantes ainda deixaram um bilhete com os dizeres “obrigado pela segurança precária” e pediram um resgate de um milhão de dólares. Quando o museu se recusou a pagar, a polícia norueguesa montou uma elaborada operação e recuperou a pintura em maio do mesmo ano. 

Dez anos depois, em 2004, foi a vez da versão de 1910 ser roubada quando homens mascarados entraram no Museu Munch e levaram O Grito e Madonna, outra obra do pintor. As pinturas ficaram desaparecidas por mais de dois anos e só foram recuperadas em 2006 com danos que foram reparados por especialistas. 

O Grito na cultura pop

Ao longo de sua existência, O Grito é um dos quadros que mais impactou a cultura pop. Entre paródias, imitações e inspirações, a obra de Edvard Munch é uma das peças de arte mais reconhecíveis do mundo inteiro. De Ghostface até Andy Warhol, O Grito já apareceu em obras literárias e foi apropriado até mesmo no cinema, como é o caso do cartaz de Esqueceram de Mim (1990)

o que sabemos sobre pânico 6

Outra inspiração certeira apareceu na capa de Fragmentos do Horror do mestre Junji Ito, primeiro mangá publicado pela DarkSide® Books. Tanto a pintura quanto a coleção de histórias do mangaká mostram a estranha relação entre o assustador e o belo. Vai dizer, é a cara da Caveira, não é mesmo?

LEIA TAMBÉM: POR QUE O TERROR DE JUNJI ITO É TÃO PERTURBADOR?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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