Crime Scene • Curiosidades

O que é parricídio?

Conheça 5 casos reais deste tipo de crime

19/11/2024

Vivemos um período em que estamos sendo constantemente bombardeados por histórias de true crime. Além de podcasts, séries documentais e filmes que retratam os mais diferentes casos, também nos encontramos conectados 24h por dia, recebendo notícias do mundo todo em um piscar de olhos. Nunca foi tão fácil ficar a par de histórias chocantes que se mostram tão sombrias que parecem ter saído de um filme de terror.

Entre tantas notícias e crimes, existem alguns que se mostram tão chocantes que instantaneamente ganham notoriedade na mídia e no imaginário popular. Um exemplo disso são os crimes de parricídio. De acordo com o FBI, por exemplo, o parricídio é um dos tipos de assassinatos mais raros, contabilizando 2% de todos os crimes de homicídio nos Estados Unidos. A palavra vem do latim parricidium e se refere ao assassinato deliberado dos próprios pais ou parentes próximos, como cônjuges, filhos e irmãos.

No entanto, o mais comum é que o termo seja utilizado para se referir especificamente ao assassinato intencional de pais pelos próprios filhos. Desta forma, o parricídio é utilizado como um termo guarda-chuva que engloba outros crimes, os quais podem ser classificados com base no gênero da vítima, como o matricídio (assassinato deliberado da própria mãe), o patricído (assassinato deliberado do próprio pai) e até mesmo o familicídio (casos conhecidos como aniquilações de família em que pelo menos um dos pais é assassinado junto de outros parentes).

Considerado um crime tabu, parricídio chama bastante atenção do público e seus infratores são sujeitos a processos criminais rigorosos, frequentemente enfrentando penas de prisão perpétua ou até mesmo pena capital, dependendo do país. No Brasil, por exemplo, o crime não possui uma classificação específica, sendo enquadrado como homicídio qualificado. Nesse sentido, é tratado com rigor pela legislação e a relação familiar pode ser considerada uma agravante. Quando é comprovada a intenção de matar, o Código Penal brasileiro prevê a deserdação, de forma que o criminoso é impedido de receber qualquer tipo de herança.

Por ser um tipo relativamente raro de crime, as informações ainda são limitadas. Segundo pesquisas, os perpetradores geralmente são homens brancos de classe média sem antecedentes criminais. Embora a mídia se concentre em adolescentes que cometem esse tipo de crime, a maioria dos infratores são homens maiores de idade que residem na casa dos pais. Nesses casos, em quase 75% dos casos os assassinatos são resultados de conflitos de relacionamentos e discussões intensas. Há também uma alta probabilidade de o infrator sofrer de doenças mentais, como esquizofrenia e outros transtornos.

Já no caso de adolescentes, as motivações geralmente envolvem abusos físicos e mentais a longo prazo e relações difíceis com os pais. No geral, pesquisadores apontam que existem três tipos de infratores parricidas: os que sofrem de abusos graves; os que possuem histórico de doenças mentais e os antissociais, os quais geralmente assassinam os pais por interesse no patrimônio ou porque os enxergam como um obstáculo.

Embora a psicologia, a criminologia e outras áreas da ciência estejam se debruçando sobre as motivações, sinais e explicações do parricídio, não existe um consenso sobre o que leva indivíduos a cometerem esse crime, que está longe de ser uma ocorrência contemporânea e aparece em relatos bíblicos e fontes da Roma Antiga. Conheça a seguir alguns notórios casos de parricídio:

Caso Parker–Hulme

Em 22 de junho de 1954, a pequena cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, foi abalada por um crime brutal, o qual entrou para a história como um dos mais infames assassinatos do país. Tudo começou quando Pauline Parker, de 16 anos, e Juliet Hulme, de 15, planejaram um ataque contra a mãe de Parker, Honorah Mary Rieper. Elas enfim colocaram o plano em ação na tarde do dia 22, quando convenceram Honorah a lhes fazer companhia em um passeio pelo parque. Quando estavam em um lugar isolado, as duas jovens espancaram Honorah até a morte, utilizando um tijolo escondido em uma meia calça.

Após o corpo ser descoberto, Pauline e Juliet tentaram se safar e alegaram que tudo não passava de um terrível acidente. No entanto, a verdade se mostrou muito mais complexa, revelando um caso marcado por relações obsessivas, preconceitos e instabilidade familiar.

Minuciosamente investigado em Almas Gêmeas, lançamento Crime Scene, o caso Parker-Hulme chocou o mundo e inspirou o filme homônimo de Peter Jackson, lançado em 1994 e protagonizado por Kate Winslet e Melanie Lynskey.

Caso Menendez

No final dos anos 1980, os irmãos Lyle e Erik Menendez ganharam notoriedade por brutalmente assassinar os pais em sua mansão em Beverly Hills. Inicialmente, os irmãos, de 21 e 18 anos, alegaram à polícia que invasores desconhecidos haviam entrado na residência e que o crime estava possivelmente relacionado à máfia. No entanto, após o comportamento suspeito dos jovens e a confissão de Erik, que contou o que havia acontecido ao seu psicólogo, os dois foram presos.

Durante o primeiro julgamento, tanto Lyle quanto Erik afirmaram terem sido submetidos a anos de abusos sexuais, emocionais e físicos, de forma que teriam agido em legítima defesa. No entanto, após um novo julgamento em 1996, ambos foram condenados à prisão perpétua sem possibilidade de condicional.

Extremamente conhecido nos Estados Unidos, o caso voltou a ser comentado no mundo após o lançamento da minissérie Monstros: Irmãos Menendez: Assassinatos dos Pais e do documentário O Caso dos Irmãos Menendez. Devido a isso, em outubro de 2024, o procurador do distrito de Los Angeles recomendou uma revisão da sentença dos irmãos.

Caso Richthofen

Um dos crimes mais conhecidos do Brasil, o homicídio de Manfred Albert e Marísia von Richthofen foi minuciosamente abordado por Ilana Casoy em Casos de Família. No dia 31 de outubro de 2002, o casal foi brutalmente assassinado pela própria filha, Suzane, na época com 19 anos, junto do namorado e cunhado, Daniel e Cristian Cravinhos.

Inicialmente, a polícia acreditou se tratar de um caso de latrocínio (roubo seguido de morte). No entanto, a cena do crime e o comportamento estranho do trio levaram os investigadores a desconfiar dos jovens. Em 8 de novembro, os três foram presos e confessaram ter planejado e assassinado Manfred e Marísia. Um dos motivos seria a herança que Suzane herdaria e o fato dos pais se oporem ao seu relacionamento com Daniel. Em 2006, Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos e seis meses de prisão, enquanto Cristian recebeu a pena de 38 anos e seis meses.

Caso Rugai

Outro crime que impactou o Brasil foi o cometido pelo estudante Gil Rugai no dia 28 de março de 2004. Na época com 20 anos, o jovem assassinou o pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, com 11 tiros em sua residência na cidade de São Paulo. Um dia depois, o vigia da rua afirmou ter visto Gil saindo da casa do pai na noite dos assassinatos. Alguns dias mais tarde, a perícia da Polícia Civil encontrou no quarto do estudante um cartucho disparado pela mesma arma do crime.

Ele foi preso em 2004 e, após diversos adiamentos, foi levado a julgamento em 2013, sendo condenado a 33 anos e 9 meses de prisão. Acredita-se que a motivação do crime teria sido financeira, já que Gil, que cuidava da contabilidade da empresa do pai, teria dado um desfalque de mais de R$ 25 mil, sendo expulso da residência da família cinco dias antes dos homicídios.

Caso Lizzie Borden

O nome de Lizzie Borden é provavelmente um dos mais famosos quando o assunto é parricídio. Em 4 de agosto de 1892, na cidade de Fall River, no estado de Massachusetts, a jovem Lizzie Borden ganhou notoriedade por supostamente ter assassinado a machadadas o pai e a madrasta. A relação de Lizzie com o pai, um homem abastado e mal humorado, não era das melhores e os dois viviam entrando em confronto devido a assuntos financeiros. Quando ele foi encontrado assassinado em sua própria casa, ao lado da esposa, todas as atenções se voltaram para Lizzie, que foi presa e julgada pelos crimes.

No entanto, as evidências contra ela eram puramente circunstanciais. Havia alegações, por exemplo, de que a jovem teria tentado comprar veneno nos dias anteriores e que também foi vista queimando um vestido logo após o crime. No final das contas, Lizzie foi absolvida, mas viveu o resto de sua vida na mesma cidade onde foi ostracizada até falecer em 1927. Por mais que nunca tenha sido considerada culpada, a história de Lizzie Borden entrou no imaginário popular dos Estados Unidos e sua reputação como uma parricida rendeu filmes, séries de televisão, musicais e até mesmo uma ópera e um balé inspirados em sua história.