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O que é fato e o que é ficção em Monstros: Irmãos Menendez?

Conheça a verdadeira história que inspirou a série de Ryan Murphy

02/10/2024

“Baseado em uma história real” é o tipo de aviso que permite uma ampla interpretação quando o assunto é Hollywood. De casos levemente inspirados a produções que quase parecem um documentário, a frase dá brecha para muitas liberdades criativas em cima de algo real, e no mundo do true crime isso não é diferente.

Ryan Murphy é um showrunner que pegou gosto por se inspirar em histórias de crimes reais e transformá-las em suas séries antológicas American Crime Story, que nos apresentou ao caso de O.J. Simpson, o assassinato de Gianni Versace e o escândalo sexual do ex-presidente Bill Clinton; e mais recentemente a Monstro, que na primeira temporada explorou os crimes do serial killer Jeffrey Dahmer e acaba de trazer para a Netflix o caso dos irmãos Menendez.

ATENÇÃO: O POST A SEGUIR CONTÉM SPOILERS

A nova temporada examina como Erik (Cooper Koch) e Lyle (Nicholas Alexander Chavez) assassinaram os próprios pais, José (Javier Bardem) e Kitty (Chloe Sevigny), incluindo as acusações que os irmãos fizeram durante o processo de que eles teriam sido abusados sexualmente e emocionalmente pelos pais.

A série já está gerando controvérsias desde que estreou, recebendo críticas de Erik, que acusa a produção de trazer ao público “mentiras horríveis e descaradas”, principalmente na representação de seu irmão mais velho. Ryan Murphy rebateu as críticas em entrevista ao Entertainment Tonight, dizendo que ele duvida que Erik ou Lyle tenham sequer assistido à série e que a sua intenção era mostrar várias perspectivas e deixar que os espectadores interpretem o crime e suas motivações por conta própria.

A revista People revisitou o que foi noticiado sobre o caso até hoje e comparou com os eventos mostrados na série. Esse é o seu guia do que é fato e o que é ficção na série Monstros: Irmãos Menendez.

Lyle e Erik tinham uma relação incestuosa?

O episódio 2 mostra Lyle e Erik se beijando nos lábios e no episódio 6 Kitty se depara com os dois tomando banho juntos (apesar da cena ser uma fantasia). Embora alguns espectadores sintam que a Netflix quis dar a entender que os irmãos mataram os pais porque eles teriam descoberto sua relação incestuosa, não há qualquer indicação de que isso seja verdade.

Tanto Lyle quanto Erik testemunharam no tribunal que nunca tiveram um relacionamento sexual. Erik disse que quando tinha 8 anos teria sido molestado por Lyle na floresta. Robert Rand, autor de um livro sobre o caso, disse ao The Hollywood Reporter que acredita que essa tenha sido a única ocasião de qualquer tipo de contato sexual entre eles: “Certamente não chamaria de um relacionamento sexual de qualquer tipo. É uma resposta ao trauma”.

Lyle Menendez realmente é careca?

A parte do roteiro que mostra Lyle usando uma peruca e lidando com sua calvície precoce é baseada na realidade. Lyle perdeu o cabelo ainda jovem e manteve isso em segredo do seu irmão mais novo, usando um moderno aplique de cabelo que ele comprou em 1988 por 1.450 dólares, de acordo com uma matéria de 1994 publicada pela Vanity Fair.

E tem mais: Robert Rand diz que Kitty realmente arrancou o aplique de Lyle em um ataque de raiva, causando-lhe muita dor, uma vez que o acessório só poderia ter retirado com um solvente especial. No próprio caso, a defesa alegou que quando Erik viu Lyle sem sua peruca teria se dado conta de que poderia revelar seu próprio segredo: que ele estaria sofrendo abuso sexual do próprio pai desde a infância.

José Menendez realmente viu os filhos se aproximando com espingardas?

Na série, os irmãos, ambos empunhando espingardas, entram na sala de estar onde os pais estão assistindo TV. José os vê e pergunta o que estão fazendo antes de ser baleado pelos filhos junto da esposa.

Na realidade, é muito provável que José não tenha visto os filhos antes de ser assassinado, pois ele levou um tiro nas costas de um ponto cego, de acordo com o Los Angeles Times. Kitty, no entanto, sabia que os filhos eram os atiradores, uma vez que ela os viu, sobreviveu aos primeiros tiros e tentou escapar antes que eles dessem os disparos fatais.

Erik e Lyle realmente foram ao cinema para ter um álibi?

Tanto na série como na realidade os irmãos disseram que tinham ido ao cinema e que não estavam em casa na hora dos assassinatos, mas eles realmente só “foram” ao cinema e a um restaurante cheio para o seu álibi na série. No caso real, eles nunca saíram de casa na noite em que assassinaram os pais.

Em uma entrevista ao ABC News em 1996, o próprio Erik disse: “Doze tiros no meio de Beverly Hills num domingo à noite e ninguém chamou a polícia. Estávamos esperando em casa e ninguém apareceu. Ainda não acredito. Nós não tínhamos um álibi, apenas dissemos que estávamos no cinema.”

Os irmãos Menendez realmente tocaram Milli Vanilli no funeral dos pais?

Segundo Rand, Lyle tocou “Girl I’m Gonna Miss You”, no velório dos pais. O autor ainda compartilhou que várias músicas do Milli Vanilli foram tocadas na ocasião, realizada no Directors Guild of America em 25 de agosto de 1989.

Eles realmente confessaram o crime ao terapeuta?

Sim, e a realidade foi tão dramática quanto a série. Em Monstros, L. Jerome Oziel (Dallas Roberts) pede que sua amante, Judalon Smyth (Leslie Grossman), venha ao seu consultório para ser testemunha, depois que Lyle ameaça matá-lo. Ela ouve por trás de uma porta quando Lyle confessa os assassinatos dos pais. Depois, Oziel diz a ela que planejou guardar a gravação da confissão em um cofre e que lhe daria a chave. Temendo pela vida dos dois, ela implora que Oziel vá até a polícia e diga o que sabe.

O que aconteceu foi um pouco diferente: em outubro de 1989, Smyth disse que ouviu Lyle e Erik confessarem o assassinato a Oziel. No entanto, a Vanity Fair noticiou que foi só em março de 1990, depois do casal ter se separado, que ela deu a dica à polícia sobre a gravação, levando à prisão dos irmãos. Semanas depois, ela ainda acusou Oziel de tê-la drogado e abusado sexual e fisicamente durante o relacionamento dos dois.

A promotoria e a defesa dos irmãos discutiram se as fitas poderiam ser aceitas ou não no tribunal por mais de dois anos, até que, em 1992, a suprema corte da Califórnia decidiu que a maior parte das gravações poderia ser aceita. Quando Smyth deu seu testemunho, em 1993, ela voltou atrás no seu depoimento original e alegou que Oziel teria feito “lavagem cerebral” para que ela pensasse ter ouvido mais do que realmente aconteceu.

Foram realizados vários julgamentos dos irmãos Menendez?

Embora alguns detalhes variem bastante da realidade para a ficção, os irmãos realmente tiveram vários julgamentos antes de serem condenados. No primeiro deles, em 1993, Lyle e Erik foram julgados separadamente, com diferentes juízes. Após várias semanas de deliberação, os magistrados ainda estavam em dúvida se eles seriam condenados por homicídio culposo ou qualificado e ambos julgamentos foram anulados. Nesse caso, eles poderiam ter sido condenados à pena de morte.

O julgamento de 1995 se desenrolou de uma maneira bem diferente: Lyle não depôs, e não foi permitido quase nenhuma alegação de abuso sexual no tribunal.

Uma curiosidade: se você já passou pelo episódio 8 e viu que várias deliberações do primeiro julgamento foram adiadas por causa de um terremoto, saiba que isso não foi inserido na trama para efeitos dramáticos. Em janeiro de 1994, um terremoto de 6,7 de magnitude atingiu Los Angeles, causando estragos no bairro onde o julgamento estava sendo conduzido. Isso resultou em atrasos na deliberação do julgamento de Lyle — o primeiro de Erik já havia sido anulado na semana anterior.

Lyle Menendez realmente escreveu um livro?

Em Monstros, Lyle cultiva um relacionamento pelo telefone com uma mulher chamada Norma e planeja trabalhar com ela em um livro. É revelado que ela gravou as conversas, o que fez com que Lyle não testemunhasse no seu segundo julgamento, pois as gravações prejudicariam sua credibilidade.

livro de lyle menendez por norma novelli

Na realidade, uma mulher chamada Norma Novelli testemunhou que conheceu Lyle em pessoa quando o visitou na prisão e que a amizade deles continuou por meio de ligações telefônicas. Ela alegou que Lyle consentiu com as gravações porque ela não conseguia anotar rápido o suficiente. Novelli ainda alegou que, após o primeiro julgamento de Lyle, ela soube que poderia ganhar dinheiro com as fitas, levando-a a vender o material para a Dove Books por 12,5 mil dólares.

Os irmãos realmente arrecadaram dinheiro para pagar sua advogada?

Na série, a advogada de defesa da dupla, Leslie Abramson (Ari Graynor) repreende os irmãos no segundo julgamento por fazerem uma campanha para pagarem por seus serviços, dizendo-lhes que isso afetaria a imagem deles. Na verdade, Abramson ajudou os réus a fazerem a campanha de arrecadação, em vez de desencorajá-los.

O Los Angeles Times noticiou o fato em março de 1996, afirmando que ela teria enviado cartas com o papel timbrado do seu escritório pedindo doações para a defesa dos irmãos, que sairia por um milhão de dólares. Quando chegou a data do segundo julgamento, o dinheiro da família já havia acabado, e Abramson concordou em representar Erik pro bono, enquanto um defensor público representou Lyle.

Erik e Lyle realmente ficaram amigos de O.J. Simpson na prisão?

O penúltimo episódio mostra Erik conversando com O.J. Simpson na cela ao lado, embora o rosto do ex-jogador condenado pelo assassinato da ex-esposa e um amigo nunca seja mostrado. Simpson realmente conhecia a família Menendez há anos.

Os irmãos conheceram O.J. depois que José o contratou para estrelar os comerciais da Herz, e Lyle se lembra de Simpson jogando futebol americano com ele e Erik, além de lhes dar de presente bolas autografadas. Lyle também disse que encontrou Simpson em um restaurante de Los Angeles poucos meses antes de ele e o irmão assassinarem os pais. A próxima vez que se viram foi na prisão, quando esperavam seus respectivos julgamentos. De acordo com Rand, a parte em que a série retrata erroneamente a relação deles é que não foi Erik que aconselhou Simpson a fazer um acordo, foi Lyle.