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O que era a Ordem do Dragão

A relação entre Drácula e as cruzadas

13/01/2025

Se você é fã de Drácula com certeza já se deparou com o nome de Vlad III. Mais comumente conhecido como Vlad, o Empalador ou Vlad Dracula, o príncipe que governou a Valáquia (atual Romênia) no século XV ficou famoso na história e na cultura pop por seus atos cruéis, amplamente divulgados por livros e histórias populares. Posteriormente, o príncipe ganhou um status ainda mais lendário após servir de inspiração para Bram Stoker, que utilizou sua famosa alcunha para nomear seu icônico vampiro.

Embora tenha recebido uma reputação sanguinária, eventualmente sendo associado a criaturas sobrenaturais, Vlad é um dos governantes mais importantes da história da Valáquia, conhecido por deter o avanço do Império Otomano e sendo até hoje considerado um herói nacional na Romênia.

Acontece que sua verdadeira história e trajetória são tão misteriosas quanto a de seu descendente literário vampiresco. Enquanto algumas histórias o pintam como um herói, outras o retratam como um cruel sanguinário. Possivelmente a verdade se encontra no meio do caminho, mas ainda assim é bastante difícil chegar a uma conclusão definitiva.

Então, entre tantas incertezas históricas, por que Stoker utilizou a alcunha de Vlad III para nomear seu personagem? A resposta, na verdade, remonta ao pai de Vlad, conhecido como Vlad II ou Vlad Dracul. Dracul em romeno significa “o Dragão”, título que o governante adotou após ter se tornado membro da Ordem do Dragão. A honra era tanta que, mais tarde, seu filho, Vlad III entrou para a Ordem e assumiu a alcunha de Dracula (ou Draculea), traduzida como “o filho do Dragão” ou “o filho da Ordem do Dragão”.

A questão é que a alcunha também poderia ser entendida com a conotação de “filho do mal” ou “o demônio”, a qual possivelmente foi aplicada aos membros da família por seus inimigos, ganhando espaço entre camponeses e a população local. Foi este segundo significado que chegou até Bram Stoker. Mas afinal de contas, o que era a Ordem do Dragão e por que era considerado uma honra tão grande fazer parte dela?

A Ordem do Dragão: Societas Draconistarum

Embora ao longo do tempo, Vlad III tenha sido repetidamente associado ao sobrenatural e a atos de extrema violência, na verdade tanto ele quanto seu pai foram guerreiros cristãos, dedicados a defender a cristandade de seus inimigos externos. Isso é visível em sua participação na chamada Ordem do Dragão.

Fundada em 1408 por Sigismundo von Luxembourg, então rei da Hungria e da Croácia, e futuro Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, a Ordem do Dragão (ou Sociedade dos Dragonistas), foi uma ordem de cavalaria para a nobreza selecionada. Moldada após as ordens militares das cruzadas, a Ordem incitava seus iniciados a defender a cruz e lutar contra os inimigos da cristandade, em particular o Império Otomano.

Ela floresceu durante a primeira metade do século XV, especialmente nos atuais territórios da Alemanha e Itália. Os membros eram homens nobres, na sua maioria aliados políticos de Sigismundo, que deveriam prestar juramento e lutar contra os inimigos da Monarquia Húngara, posteriormente do Império, e da Igreja Católica. Além disso, também deveriam prometer lealdade ao rei, à rainha e aos seus futuros filhos, protegendo os interesses reais. Em troca de seus serviços, esses nobres desfrutavam de uma posição privilegiada com proteção real, honras e cargos.

Originalmente, a Ordem do Dragão contava com vinte e um membros, conhecidos como “draconistas”, nomeados um a um nas cartas de fundação. Em 1431, a Ordem cresceu e Sigismundo convocou para a cidade de Nuremberg diversos integrantes da nobreza que considerava úteis para alianças políticas e militares. Entre eles estava Vlad II, um pretendente ao trono da Valáquia, que passou então a assumir a alcunha de Vlad Dracul.

A criação da Ordem do Dragão seguia uma tendência do início do século XV de fundar ordens cavalheirescas, de forma que esta não foi a única a ser fundada nesse período. Extremamente motivada pela ameaça otomana e pelo desastre da batalha de Nicópolis, a última cruzada em grande escala da Idade Média em 1396, a Ordem do Dragão foi particularmente inspirada na Ordem de São Jorge, fundada em 1326, adotando o santo como seu padroeiro.

É justamente por essa associação com São Jorge, conhecido por lendariamente derrotar um dragão (draconis em latim), que a Ordem passou a usar o animal como símbolo de seu ethos militar e religioso. Desta forma, o brasão oficial apresenta um dragão com a cauda enrolada em torno do pescoço, tal qual o ouroboros, antigo símbolo que representa uma serpente devorando sua própria cauda.

Na parte de trás, encontra-se a Cruz Vermelha de São Jorge com chamas amarelas na extremidade de cada braço, sendo que cada uma representa virtudes, obrigações e aspirações dos cavaleiros. Infelizmente, nenhuma forma original do emblema da Ordem do Dragão sobreviveu ao tempo, mas a imagem foi replicada a partir de referências encontradas em moedas, artes e escritos.

Com a morte de Sigismundo em 1437, a Ordem perdeu parte de sua importância na Europa Ocidental. No entanto, após a queda de Constantinopla em 1453, continuou a desempenhar um papel importante na Hungria, Sérvia, Romênia e outros territórios ameaçados pelo Império Otomano. O prestigioso emblema do dragão foi mantido nos brasões de várias famílias nobres, incluindo os Báthory (sim, a família daquela lady killer) e do principado da Valáquia, comandando por Vlad II e mais tarde por seu filho, Vlad III.

A Ordem do Dragão e os príncipes da Valáquia

Após diversas disputas de poder pelo trono da Valáquia, em 1437 Vlad Dracul venceu o príncipe Alexandru I e finalmente conquistou o tão sonhado trono, tornando-se Vlad II da Valáquia. Ele tinha tanto orgulho de fazer parte da Ordem do Dragão que mandou cunhar moedas com um dragão alado. Além disso, seu brasão pessoal também contava com a imagem de um dragão, representando a luta entre o Bem e o Mal com a vitória da cristandade.

Anos mais tarde, em meio a diversas disputas políticas e territoriais, seu filho, Vlad III, tornou-se príncipe da Valáquia. Ele entrou para a Ordem do Dragão e assumiu a alcunha de Draculea ou Dracula, o “filho do Dragão”. Embora tenha sido usado como uma honra, inclusive constando em assinaturas do príncipe, o termo assumiu uma segunda conotação, mais negativa e até mesmo demoníaca, possivelmente fruto dos detratores e inimigos de Vlad III e sua família.

Foi justamente essa que chegou até um escritor irlandês chamado Bram Stoker, que estava pesquisando história romena para seu futuro romance. Atualmente, historiadores argumentam que Stoker sabia muito pouco do histórico de Vlad III e apenas usou a sua alcunha, Drácula, para substituir o nome que havia originalmente pretendido usar para seu vilão, Conde Wampyr. Não há evidências de que o autor conhecia a Ordem do Dragão, assim como não há comentários sobre Vlad III em suas notas de pesquisa.

O Retorno do Príncipe das Trevas

Entre tantos fatos curiosos e personagens misteriosos, Drácula se tornou um dos maiores clássicos da literatura de horror. Agora, o icônico vampiro está de volta em Drácula: Ordem do Dragão, obra que reinterpreta o romance de Stoker em um quadrinho audacioso e impressionante de Marco Cannavò e Corrado Roi.

Lançamento da DarkSide® Books, Drácula: Ordem do Dragão é ambientado na Hungria do final do século XIX e acompanha Jonathan Harker, que após ser capturado por Vlad Drácula encontra esperança na figura de Greta, a esposa repudiada do príncipe que se propõe a ajudá-lo. Tudo isso enquanto Drácula encontra-se a caminho da Inglaterra para se casar com Lucy, sua noiva.

Misturando elementos de horror e beleza, Drácula: Ordem do Dragão leva o leitor para uma viagem pelas origens do mal, explorando temas como amor, traição, redenção e humanidade. Com uma narrativa magistral, o quadrinho se aprofunda nas motivações dos personagens, instilando sangue novo à essa história clássica, ao mesmo tempo em que captura sua essência sombria e envolvente. Uma leitura ideal para os fãs de romances góticos, releituras cinematográficas e incursões modernas, Drácula: Ordem do Dragão é um convite para o mundo do gótico e do sobrenatural, uma homenagem à história de um dos vampiros mais icônicos e poderosos de todos os tempos.

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