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Os principais temas de O Morro dos Ventos Uivantes

Romance de Emily Brontë conta muito mais do que apenas uma história de amor

20/10/2021

O tórrido romance entre Catherine e Heathcliff marcou gerações e inspirou muitas obras. Mas não é apenas a história de paixão e vingança entre os dois que torna O Morro dos Ventos Uivantes uma obra atemporal. Há muito mais na obra de Emily Brontë do que as idas e vindas do casal.

LEIA TAMBÉM: 5 OBRAS INSPIRADAS EM O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

Publicado em 1847, o livro dividiu a opinião da crítica e chocou a sociedade vitoriana. Elogiado por sua criatividade e diversas camadas por uns, O Morro dos Ventos Uivantes também foi considerado imoral e desagradou muita gente, principalmente pelas personalidades intempestivas e egoístas de seus protagonistas.

Ao ser observado de perto, o romance de Emily Brontë aborda muitos temas além de uma história de amor, envolvendo comportamento humano, religião, disparidades de classes sociais e até mesmo racismo. A Caveira irá analisar mais detalhadamente cada um deles:

1. Amor

Vamos começar pelo mais óbvio, mas certamente não o mais simples entre os temas de O Morro dos Ventos Uivantes. Apesar de figurar como uma das maiores histórias de amor de todos os tempos, muitos leitores discordam desta visão romantizada, enxergando a exploração da maldade e o abuso mútuo entre os amantes.

A professora de literatura Helen Small defende que as duas visões estão certas: ao mesmo tempo em que estamos falando de uma das maiores histórias de amor da língua inglesa, a trama carrega uma das mais brutais narrativas de vingança

Para muitos críticos, O Morro dos Ventos Uivantes romantiza homens abusivos e relacionamentos tóxicos enquanto se disfarça de uma história de amor que é ao mesmo tempo apaixonada, amaldiçoada e que transcende a própria vida.

A autora feminista Simone De Beauvoir sugere em seu livro O Segundo Sexo que quando Catherine diz “eu sou Heathcliff” ela está afirmando que seu próprio mundo colapsa, pois o mundo no qual ela realmente vive é o dele. Trata-se de uma interpretação do mito do amor romântico em que o homem é superior e percebido como livre, enquanto a mulher se sente presa a ele.

Apesar da ardente paixão entre os dois, Emily Brontë não menciona qualquer tipo de relação sexual entre o casal. Isso rendeu muita especulação por parte de estudiosos e críticos, que em sua maioria acreditam na castidade da heroína. Recentemente, o professor e estudioso de literatura Terry Eagleton sugeriu que a relação dos dois não tivesse sexo porque eles teriam sido criados como meio-irmãos, o que levaria a um medo inconsciente de incesto.

2. Moralidade

Um dos atributos de O Morro dos Ventos Uivantes que mais chocou os críticos vitorianos foi a violência e a imoralidade da história e de seus personagens. Supostamente, Emily Brontë não estaria ciente dos limites da polidez esperada dos autores vitorianos e teria incluído vocabulário vulgar nas falas de seus personagens.

Outro ponto que não foi perdoado pelos críticos foi que, apesar de Emily ser filha de um pároco, ela não se mostrou muito respeitosa em relação à religião. O único personagem realmente religioso da trama é Joseph, que frequentemente é interpretado como uma sátira do movimento metodista, ao qual a autora foi exposta pela tia Branwell.

Uma das principais inspirações para os personagens imorais de O Morro dos Ventos Uivantes vem das histórias que seu pai lhe contava sobre os comportamentos impróprios dos quais ouvia em fofocas na igreja. Mesmo de veracidade duvidosa, Emily entendeu que tais casos eram reais.

LEIA TAMBÉM: 10 ADAPTAÇÕES DE O MORRO DOS VENTOS UIVANTES PARA O CINEMA

3. Religião

Apesar de ter frequentado a igreja com bastante constância, Emily Brontë era conhecida por ser rebelde e um tanto cética. Embora nunca tenha escrito nada abertamente contrário às crenças religiosas, alguns estudiosos enxergam em sua obra uma certa sede por uma experiência espiritual que definitivamente não é cristã – principalmente pela abordagem ao espírito de Catherine atormentando Heathcliff.

O autor Thomas John Winnifrith, que escreveu um livro sobre as irmãs Brontë, acredita que as alusões a céu e inferno no livro são muito mais do que metáforas, e estariam carregadas de significado religioso. Segundo ele, para Heathcliff, a perda de Catherine seria o próprio inferno – o que faz bastante sentido ao observar a cena final dos dois.

4. Classes sociais e raça

Sim, O Morro dos Ventos Uivantes tem muito a dizer sobre as diferenças de classes sociais e até mesmo aborda questões raciais. Publicada em 1847, a obra surgiu em uma época de transição entre o mundo feudal e a Revolução Industrial. Para a sociedade, isso significou uma mudança de classes sociais, que antes era apenas de senhores e vassalos, e agora contava com uma dinâmica classe trabalhadora, ou classe média, e redefiniu os conceitos de criação, família e até mesmo de caráter.

O livro aborda a prestigiada família Linton, que habita e Granja da Cruz dos Tordos, em contraste com os feudais, e depois decadentes, Earnshaw, que moram na propriedade do Morro dos Ventos Uivantes. Além disso, há a ascensão social de Heathcliff, um órfão que é tratado como inferior por Hindley (apesar de eles terem sido criados como irmãos). Depois de deixar o Morro dos Ventos Uivantes, ele retorna rico, no melhor estilo O Conde de Monte Cristo.

Aliás, o personagem levanta um debate em relação à sua origem. Apesar de ela nunca ser abertamente revelada, o personagem é referido como “cigano” e “lascar”, que pode se referir a origens de países árabes, africanos ou indianas. Nelly ainda brinca quanto ao passado de Heathcliff, especulando se ele não seria o filho de um imperador chinês e de uma rainha da Índia. Sua aparência e origem possivelmente escrava se tornam motivo suficiente para que Hindley o atormente e o considere inferior.

5. Infância e amadurecimento

Estudiosos de educação falam bastante sobre como a infância forma a personalidade de alguém. Isso também é observado nas trajetórias dos personagens de Emily Brontë, cujas experiências quando crianças moldaram muitas de suas paixões, traumas e rancores, carregados até a fase adulta. 

Diferentemente de muitos contemporâneos da autora, que acreditavam que as provações da infância formariam pessoas mais resilientes e de bom caráter, Brontë tinha uma visão pessimista de tais experiências, que resultaram em adultos orgulhosos e egoístas.

6. Calmaria e tempestade

O primeiro contraste que se observa ocorre entre as duas propriedades: a Granja e o Morro. Enquanto a primeira era um lugar calmo, estável, com festas, boas maneiras e alegria, a segunda era marcada pela violência dos ventos e a decadência com o passar do tempo. O conflito de forças também é observado no comportamento de seus habitantes: civilizados na Granja, selvagens e intempestivos no Morro.

O Morro dos Ventos Uivantes é uma daquelas histórias que vale a pena ler e reler, pois a cada nova imersão o leitor percebe mais camadas para esta rica história da mente fértil de Emily Brontë.

Nova edição da DarkSide® Books

Um dos grandes romances das irmãs Brontë, este clássico que apresenta uma história fantasmagórica de obsessão, vingança e paixões intensas ganhou uma edição limitada com uma nova capa, mas mantém o conteúdo que já apaixonou muitos darksiders: as ilustrações de Luciana Vasconcelos, a tradução de Marcia Heloisa e uma seleção de extras para aprofundar ainda mais a experiência da leitura: introdução DarkSide, dois prefácios de Charlotte Brontë, trechos biográficos de Emily assinados por Elizabeth Gaskell, um ensaio que Emily escreveu em francês, linha do tempo, resenhas da época e uma mini biografia poética da autora.

“Emily foi inspirada por alguma concepção mais ampla. O ímpeto que a instigou a criar não foi seu próprio sofrimento ou seus próprios ferimentos. Em desordem gigantesca, ela olhou para uma fenda no mundo e sentiu dentro dela o poder de uni-lo em um livro.”
— VIRGINIA WOOLF —

LEIA TAMBÉM: NOVA EDIÇÃO: O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, DE EMILY BRONTË

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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