Darkside • Perfil

Peter Straub: A síntese do horror e da beleza na literatura

Legado do escritor ecoa até hoje em nossos pesadelos

01/03/2024

Existem autores que conseguem explorar o terror muito além dos sustos, dos monstros e dos truques convencionais para causar medo. Eles encontram um canto na sua mente e lá se instalam. Um canto permeado pelas trevas de nossa própria essência. Mas poucos alimentam nossos pesadelos mais primitivos como Peter Straub.

Referenciado como parte da “profaníssima trindade do horror” — ao lado de Stephen King e Anne Rice — Straub e sua valiosa contribuição à literatura podem ser avaliados de diferentes maneiras, como a quantidade e a variedade de suas histórias, a longevidade de sua atuação, as parcerias literárias e os prêmios que coroam seu brilhantismo.

Uma prolífica e aclamada carreira literária

Leitor voraz desde a infância e assombrado por um acidente que deixou marcas emocionais, é um presente para o mundo que Straub tenha decidido se dedicar a contar as próprias histórias — e para a nossa alegria, foram muitas.

A predileção pelo gênero do terror surgiu de maneira bem estratégica para Straub, como o próprio autor já explicou: “A razão pela qual eu escolhi escrever livros assustadores era porque, naquela época, existiam três romances de terror que tinham conquistado um sucesso enorme: O Exorcista, O Bebê de Rosemary e O Outro. Mas tinha apenas três deles, então me pareceu que havia bastante espaço para novatos. E se eu escrevesse no gênero de terror, eu sabia que poderia fazer de tudo. Poderia fazer experiências.”

E foi por esse caminho que ele seguiu, conduzindo histórias que se depositam sob a nossa pele, num cantinho tenebroso da mente. O legado de Peter Straub deixou um conjunto de obras ao longo de cinco décadas que incluem romances, poemas, novelas, contos e antologias editadas por ele, que ajudaram a promover seus colegas escritores, além de autores iniciantes que puderam contar com sua mentoria. Ao longo da carreira, ele foi reconhecido com premiações ilustres do meio literário, como o Bram Stoker Award, o World Fantasy Award, o International Horror Guild Award e o Life Achievement Award da Horror Writers Association.

Dentre seus romances, o destaque vai para Ghost Story, publicada em 1979, considerada uma das histórias sobrenaturais mais surpreendentes já escritas. Marco na carreira de Straub, é nessa obra que ele mostra todo o seu talento ao apresentar cada membro da Sociedade Chowder para o leitor, ao mesmo tempo em que estabelece a atmosfera da cidadezinha fictícia e os acontecimentos sobrenaturais. O romance foi um sucesso de crítica, que recebeu uma adaptação cinematográfica em 1981 estrelando Fred Astaire.

Ao longo da carreira, Peter Straub nutriu uma amizade e uma relação de respeito e reconhecimento com Stephen King. Em 1984 os dois lançaram seu primeiro romance em conjunto: O Talismã. Em 2001 a parceria se repetiu com a publicação de A Casa Negra, uma continuação para o primeiro livro. Em 2016 King até encheu os fãs do terror de esperança anunciando que a dupla tinha planos para escrever um terceiro livro para O Talismã. Porém, em 2021 Straub explicou que, por motivos de saúde, seria muito improvável que isso acontecesse.

A admiração dos autores dura mesmo após a morte. Quando foi divulgada a notícia do falecimento de Peter Straub, em setembro de 2022, Stephen King disse ao The New York Times: “Ele não era apenas um escritor literário com sensibilidade poética, mas ele era legível. E isso era algo fantástico. Ele era um autor moderno que era equivalente a, digamos, Philip Roth, mesmo escrevendo sobre coisas fantásticas.”

Um domínio literário inigualável

Tão literária quanto assustadora, a escrita de Peter Straub misturava elementos de vários gêneros, e de épocas diferentes de literatura especulativa, inspirado tanto por mestres como Henry James, de A Volta do Parafuso, como por seus colegas contemporâneos. “Ele trouxe a sensibilidade de um poeta à área, criando uma síntese de horror e beleza”, definiu King.

As histórias de Peter Straub são tão únicas porque elas percorrem os labirintos mais escusos da mente humana, sondando as sombras e trazendo à tona nossos medos mais íntimos. Mestre do sinistro, seus trabalhos têm uma característica assombrada, digna de pesadelos, que cativa ao mesmo tempo em que é enervante.

Carregada de simbolismo e metáforas, sua narrativa sempre vem acompanhada de diversas camadas. Não são apenas os temas de suas histórias que são assustadores, mas sim a compreensão profunda que o autor sempre entregou da mente humana e da psicologia do terror.

Aliás, o horror psicológico é uma constante na bibliografia do autor. Ele obriga o leitor a confrontar sua própria mortalidade, seus aspectos mais vulneráveis e o potencial assustador da mente humana. Em suas obras, Straub explorava temas como culpa, memória, identidade e o ameaçador abismo entre a realidade e a nossa percepção dela.

Por mais que as obras do escritor caminhem pelo campo do sobrenatural, elas são essencialmente histórias humanas. Em suas narrativas, você não encontrará sustos fáceis. O terror de Peter Straub vem da introspecção, da compreensão da nossa própria capacidade de sucumbir às trevas. Estamos falando de um terror que não apenas assusta, mas provoca reflexões e nos confronta com nossos próprios temores existenciais.

Além de dominar as trevas da mente humana, o autor de Ghost Story também dominava como poucos a linguagem. Como um verdadeiro mestre das palavras, Peter Straub costurava seu texto no limite entre a prosa e a poesia. Ele elaborava cuidadosamente cada palavra, cada frase, criando uma atmosfera densa e suspense. Mais do que um mestre do horror, seu legado se estende à literatura como um todo, como bem pontuou Neil Gaiman: “Um dos melhores escritores que eu já li, um dos melhores amigos que eu já conheci. Sempre gentil, engraçado, irascível, brilhante”.

Um legado que se mantém vivo e Dark

A genialidade de Peter Straub não é admirada somente pela crítica e pelos seus colegas escritores. Os DarkSiders que tiveram a oportunidade de conferir Ghost Story tiraram suas próprias conclusões pela narrativa única do escritor:

“De longe, um dos melhores livros da literatura de terror que eu já li, e ainda mais na literatura que aborda o horror sobrenatural.” — Redatora de M*%$#

“Ghost Story não se tornou um clássico do terror por acidente: o livro tem as melhores características do gênero do terror sobrenatural e consegue surpreender o leitor a cada página.” — Valkirias

Leia a resenha completa

“O horror aqui se fortalece do que ele tem de mais potente: permanecer implícito. Em Ghost Story, como bem disse Stephen King, nós não só encontramos o monstro, nós somos ele.” — Fanzine

“Peter Straub é extremamente calculista em sua escrita, nada de sustos fáceis ou previsíveis, suas descrições evocam um pavor arrepiante que cresce a cada virada de página, revelando lentamente toda a extensão de seus horrores.” — Biblioteca do terror

Leia a resenha completa

LEIA TAMBÉM: 10 HISTÓRIAS DE FANTASMAS HORRIPILANTES