Dark

BLOG

O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ


FilmesMedo Clássico

Por que O Fantasma da Ópera de Lon Chaney é um ícone do terror

Filme mudo completa um século e se mantém relevante

11/02/2025

Há mais de 100 anos a literatura e a cultura pop são assombradas por um Fantasma que habita as catacumbas do monumental teatro de Paris. Publicado entre 1909 e 1910, O Fantasma da Ópera segue entoando sua melodia nos palcos e nas telonas até os dias de hoje, mas sua representação mais icônica na sétima arte segue sendo o filme mudo de 1925 estrelado por Lon Chaney.

LEIA TAMBÉM: Lançamento: O Fantasma da Ópera, por Gaston Leroux

Embora as audiências de hoje em dia estejam mais familiarizadas com a adaptação de Andrew Lloyd Webber para os palcos — que ganhou sua própria versão para o cinema em 2004 pelo diretor Joel Schumacher — essa é uma versão bem mais romantizada do que pretendia o autor Gaston Leroux no original. O início da história está até bem parecido, mas Webber optou pelo caminho de retratar um amor trágico, o que distanciou bastante o musical do verdadeiro Fantasma da Ópera.

Mas muito antes da história ganhar os palcos da Broadway, ela já foi para as telonas em um filme que está completando um século, ainda na era do cinema mudo. O Fantasma da Ópera dirigido por Rupert Julian e estrelado por Lon Chaney deixou sua marca no imaginário popular e segue até hoje como uma das referências visuais mais fortes para o romance de Leroux.

lon chaney como fantasma da ópera

A adaptação mais fiel de O Fantasma da Ópera até hoje

Sem a ambição de transformar a história em um romance trágico, a visão de Rupert Julian para O Fantasma da Ópera é bem mais próxima das intenções de Gaston Leroux, que escreveu, em essência, uma história de terror. O romance ainda está lá, claro, mas é mais um tema secundário, e não algo que toma conta do roteiro. Além disso, o elenco de coadjuvantes têm mais tempo de tela para desenvolver seus personagens.

A trama segue o caminho pavimentado por Leroux: levado à loucura por sua insaciável necessidade por interações humanas, o Fantasma (Lon Chaney) rapta sua aprendiz Christine Daaé (Mary Philbin). Atraída pelas excepcionais habilidades musicais do Fantasma e com alguma dose de Síndrome de Estocolmo, Christine se afeiçoa ao seu captor. É claro que isso desperta a ira do noivo de Christine, Raoul de Chagny (Norman Kerry), que mobiliza uma caçada ao Fantasma. Enquanto o romance de Webber termina com um beijo e uma despedida agridoce, o desfecho da versão de Julian é bem mais trágico.

Apesar do final controverso e de não ter escapado de alguns atritos nos bastidores, o filme de 1925 segue até hoje como sendo a mais fiel adaptação de Gaston Leroux. Embora tenha um roteiro considerado claudicante, essa versão de O Fantasma da Ópera oferece uma série de momentos primorosos, como o baile de máscaras — uma breve sequência em Technicolor, algo bem extravagante para a época —, em que o Fantasma surge vestido como a Morte Escarlate do conto de Edgar Allan Poe. 

fantasma da ópera morte vermelha

Além deste aceno ao mestre do horror gótico, há a impactante queda do lustre, um artifício usado pelo Fantasma para mostrar à plateia o que ele acha da atual diva do teatro. Isso sem contar, é claro, daquela cena da revelação do rosto do Fantasma da Ópera, da qual falaremos um pouco mais a seguir. O visual do Fantasma com o manto vermelho também foi a representação que foi aproveitada pelo musical de Webber.

“Lon Chaney, ou não poderá ser feito”

Não é exagero: essa foi a reação de Rupert Julian quando ele recebeu o roteiro de O Fantasma da Ópera. Não era para menos: na década de 1920 Lon Chaney já era conhecido como “o Homem das Mil Faces”, principalmente após sua interpretação de Quasimodo em O Corcunda de Notre Dame

Chaney se tornou particularmente valioso para os estúdios não apenas por sua interpretação comovente, mas também pelo seu trabalho de maquiagem que criava verdadeiros efeitos especiais para os filmes. Como acompanhamos na sua história na graphic novel Fala Comigo, Lon Chaney, naquela época não era comum os estúdios contarem com uma equipe especializada em maquiagens que pudessem criar tais efeitos, e era justamente nisso que Chaney se destacava dos demais com sua incansável dedicação a criar maquiagens elaboradas que transformassem completamente a sua feição, além de criar alguns dos monstros mais icônicos do cinema.

fala comigo lon chaney

Lon Chaney se dedicou a descobrir diferentes truques criativos para criar o visual cadavérico que hoje conhecemos tão bem. Para compor o visual de caveira, Chaney ergueu os contornos das maçãs do rosto com algodão e colódio, uma solução viscosa altamente inflamável que cria a ilusão de pele marcada quando seca.

Ele achatou, provavelmente com cola, as orelhas em sua cabeça. Além disso, uma calota craniana exagerada foi utilizada para elevar a testa de Chaney em vários centímetros, acentuando o escalpo ligeiramente calvo do Fantasma, a não ser pelos ralos fios de cabelo oleoso que compunham seu visual repugnante. 

Em uma de suas raras entrevistas, publicada em artigo da American Cinematographer, Chaney afirmou que usou pinturas nos tons e locais certos, não as partes óbvias do rosto, que davam a completa ilusão de terror: “Meus experimentos como gerente de palco, que foram bem amplos e variados antes de eu entrar nos filmes, me ensinaram muito sobre os efeitos da luz no rosto do ator e os truques mais sutis para enganar. É tudo uma questão de combinar pinturas e luzes para formar a ilusão certa.

lon chaney fantasma da ópera

Usando a paleta de cores das ilustrações de André Castaigne, da publicação original de O Fantasma da Ópera, Chaney pintou o contorno dos olhos de preto, acrescentando realces brancos no entorno para destacar o efeito esquelético e sugerir a transição do osso para seus encaixes. 

O sorriso assustador do Fantasma foi feito com a ajuda de pinos fixados em um par de dentes falsos serrados. Claro que Chaney não parou por aí, deformando seus lábios e acrescentando sombras ao rosto com graxa.

O nariz foi possivelmente a pior parte: Lon Chaney aplicou massa de vidraceiro (!) para afinar a ponta e inseriu dois arames nas narinas para criar o formato esquelético. 

lon chaney fantasma da ópera

Existe também um mito de que Lon Chaney teria colocado membranas de ovo nos próprios olhos para dar um olhar meio anuviado. O boato provavelmente surgiu pela combinação de dois fatos: Chaney prejudicou a própria vista com o tampão de olho que usou em O Corcunda de Notre Dame (1923) e a lente de contato branca que ele próprio criou para usar em Tirano e Mártir (1926). Embora a história da membrana de ovo provavelmente seja um exagero, ela corrobora com a ideia de que Lon Chaney não tinha limites para criar seus efeitos especiais de maquiagem — mesmo que isso prejudicasse sua saúde e integridade física.

Todo o trabalho surtiu um resultado que ressoa na história do cinema mais de um século depois. O visual de Chaney foi mantido segredo das audiências, que puderam ter a experiência de se assustar de verdade com a revelação de seu rosto. 

Embora essa estratégia de manter o mistério seja bem comum até os dias de hoje — vide o Nosferatu de Robert Eggers —, Lon Chaney manteve segredo do seu visual até mesmo dos membros da produção do filme e demais atores. O resultado disso foi que a reação da atriz Mary Philbin na cena da revelação — supostamente dirigida pelo próprio Chaney — foi genuína, uma vez que ela não fazia ideia de qual seria a aparência do Fantasma. Não apenas ela: o próprio operador de câmera se assustou com a revelação, e é possível observar a tomada perdendo o foco por um instante.

fantasma da ópera

Nem mesmo as brigas no set e os diferentes cortes que se seguiram após a estreia diminuem o impacto deste filme na história do cinema. O Fantasma da Ópera de 1925 se tornou um clássico inquestionável pela sua fidelidade à obra original e, claro, por conter um dos melhores exemplos de atuação melodramática do cinema mudo: o impecável e horripilante monstro de Lon Chaney

LEIA TAMBÉM: Como foi a Era do Cinema Mudo em Hollywood

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

Website

1 Comentário

  • Marília

    15 de fevereiro de 2025 às 17:19

    Parabéns ao redator que fez a matéria! Muito envolvente e com informações que eu não conhecia.

Deixe o seu comentário!


Obrigado por comentar! Seu comentário aguarda moderação.

Indicados para você!

O Fantasma Da Ópera + Brinde Exclusivo
R$ 99,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
Fala Comigo, Lon Chaney + Brinde Exclusivo
R$ 79,90
5% de Descontono boleto
COMPRAR
  • Árvore de Ossos

    Sobreviventes
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
FilmesNovidades

Versões Dark de Mickey e Ursinho Pooh se enfrentam em novo filme

Um grupo de amigos decide se aventurar em uma floresta. Até aí, parece o enredo de...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Epiléptico, por David B

David B. nasceu como Pierre-François Beauchard em uma pequena cidade perto de...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Violência & Paz + O Jovem com uma Government .45, por Shinobu Kaze

Alguns autores no universo do mangá transcendem o tempo, oferecendo reflexões que...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Em Busca de Watership Down, por Richard Adams, James Sturm e Joe Sutphin

Romance de estreia do britânico Richard Adams, Em Busca de Watership Down é uma...

Por DarkSide
Graphic NovelLançamento

Lançamento: Final Cut, por Charles Burns

Capturado pelo reflexo distorcido na torradeira à sua frente, Brian Milner percebe que...

Por DarkSide