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Por que Raça das Trevas é o filme mais pessoal de Clive Barker

As mensagens do mestre além do terror

27/06/2024

Há mais de quarenta anos Clive Barker alimenta nossos pesadelos em todos os meios possíveis. Escritor, artista e cineasta, não há limites artísticos para o horror visceral de seu universo banhado em sangue, criaturas inimagináveis e enredos com camadas e subtextos que nem todos enxergam.

LEIA TAMBÉM: CLIVE BARKER, UM ARTISTA COMPLETO

Talvez a complexidade de suas obras multifacetadas sejam o motivo para que estúdios tenham passado por bons perrengues para adaptarem suas histórias para o cinema, com filmes destinados a audiências mais abrangentes. Mesmo com o sucesso de Hellraiser, estreia de Barker no cinema, o filme que o sucedeu não agradou a crítica, o público e nem o próprio autor: Raça das Trevas.

O abismo de Hellraiser a Raça das Trevas

A contribuição mais famosa de Clive Barker para o cinema é o imortal Hellraiser, lançado em 1987, baseado na novela Coração Condenado, de 1986. O filme é icônico desde o primeiro momento em que você é impactado por ele, e não é de surpreender por que Hollywood o transformou em uma das franquias mais conhecidas do terror.

Raça das Trevas foi o filme que deveria seguir o sucesso do primeiro. O longa é uma adaptação de Cabal: Raça das Trevas, recentemente publicado pela Macabra e pela DarkSide® Books. O livro é considerado pelo próprio Clive Barker um de seus melhores trabalhos já feitos.

cabal raça das trevas

O herói de Cabal é um homem solitário e atormentado chamado Boone. Logo no começo da história, ele é confrontado com uma terrível possibilidade: seu psiquiatra, Decker (interpretado no filme por ninguém menos que David Cronenberg), lhe diz que ele é responsável por uma série recente de terríveis execuções. Para piorar as coisas, mais adiante a gente descobre que o próprio Decker é, na verdade, um serial killer cruel e extremamente metódico responsável pelos ataques — e querendo induzir Boone a acreditar que o assassino é ele. 

A maior parte do filme Raça das Trevas se concentra em Boone fugindo para um reino místico conhecido como Midian, que na prática é uma rede de túneis subterrâneos situados sob um cemitério. Lá, ele conhece criaturas inumanas e malformadas com características físicas felinas. Diante disso, nós como espectadores só podemos esperar pelo pior para o nosso herói.

raça das trevas

Porém, como Barker sempre simpatiza com os marginalizados, não é isso o que acontece em Raça das Trevas. Para surpresa de Boone (e do público), ele é acolhido pelos seres de Midian. Assim como o próprio autor já se definiu, o protagonista sempre se sentiu distante e marginalizado do mundo, então há um sentimento de acolhimento muito grande ao ser bem recebido pelas criaturas. 

Os verdadeiros monstros de Raça das Trevas

Barker deixa para revelar os verdadeiros vilões de Raça das Trevas no segundo ato do filme, quando conhecemos o detestável policial Eigerman, que se junta a Decker para capturar Boone e derrubar Midian. É aqui que todas as alegorias ao movimento e à comunidade LGBTQIAP+ ficam evidentes, pelo menos no que diz respeito à maneira com que o filme decide retratar esses supostos defensores da lei, da moral e dos bons costumes.

Nesse ponto, a polícia é retratada como uma força selvagem e indiferente que passa por cima de quem precisar para impor o status quo e privilegiar as classes dominantes. Afinal, Raça das Trevas nada mais é do que a história de um personagem marginalizado e confuso que escolhe fugir da “vida normal” e de uma relação heteronormativa engessada em busca do abrigo de uma subcultura alternativa de sua própria realidade.

raça das trevas

Não é novidade para ninguém que Barker, que escreve sobre criaturas monstruosas em boa parte de seus trabalhos, se empenhou em transformar Raça das Trevas na própria definição de um trabalho feito com amor. Ainda assim, a produção parecia condenada desde o início, com mudanças criativas em cima da hora, disputa de egos e várias podadas na sua fotografia e pós-produção.

Clive Barker assume as rédeas de sua narrativa

Para surpresa de zero pessoas, Barker não gostou nada da versão de Raça das Trevas que foi para os cinemas — e com razão. E é por isso que hoje o mundo tem Nightbreed: The Cabal Cut, uma versão editada por fãs e que foi aprovada pelo próprio autor. A produção traz a visão de Barker de maneira mais incisiva, abordando abertamente os acenos homoeróticos de Cabal: Raça das Trevas.

Por mais que Raça das Trevas carregue elementos icônicos do terror, como espíritos, cemitérios e gore, a dicotomia filosófica que é explorada de modo metatextual é ainda mais perturbadora: existir em um mundo de binaridades vazias e com a angústia de ser submetido a uma hierarquia opressora que só pode ser mantida às custas da nossa humanidade coletiva.

clive barker

Embora Hellraiser se mantenha como “o filme” de Clive Barker, Raça das Trevas é aquele que mais tem a dizer sobre o próprio mestre do horror, sua arte, sua alma e por que ele escolheu contar as histórias que conta até hoje.

LEIA TAMBÉM: VOCÊ SABE O QUE É QUEER HORROR?

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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