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Qual a relação entre caveiras mexicanas e literatura?

Conheça as calaveras literárias

02/11/2023

Você provavelmente já deve tê-las visto por aí. Coloridas, decoradas e esbanjando simpatia, as calaveras mexicanas são um símbolo icônico do Dia de Los Muertos, uma das festas mais famosas do México.

O Dia de Los Muertos é uma celebração mexicana comemorada oficialmente no dia 2 de novembro, mas cujas festividades se iniciam ao final de outubro, quando se acredita que os mortos voltam para visitar seus entes queridos. Nessa época, o costume é visitar cemitérios e túmulos, enfeitar as casas e preparar altares com velas, flores e comidas especiais. Tudo para entrar no espírito e na atmosfera festiva. 

LEIA TAMBÉM: CONHEÇA O DIA DE LOS MUERTOS, UM DOS FERIADOS MAIS COLORIDOS DO MÉXICO

Nesta grande celebração à vida, tanto daqueles que ficaram quanto daqueles que já se foram, um símbolo muito presente são as calaveras. Essas caveiras ficaram tão famosas que acabaram ultrapassando as festividades mexicanas, sendo integradas à arte e cultura pop, estampando até mesmo itens de decoração e vestuário.

A origem das calaveras mexicanas

Sabemos que as caveiras são recorrentemente utilizadas para representar e expressar a morte. É o que acontece em diferentes culturas e religiões. Logo, não tem nada mais lógico do que elas serem um dos símbolos do Dia de Los Muertos, não é mesmo? Mas engana-se quem acha que as calaveras abordam a morte sob uma perspectiva sombria ou taciturna. Elas se distinguem justamente pelo uso das cores vibrantes, além de serem decoradas com itens como papel alumínio colorido, glacê, miçangas, penas de pássaros e flores. 

calaveras mexicanas

Tradicionalmente, as calaveras podem ser feitas tanto com materiais decorativos quanto comestíveis, sendo produzidas a partir de moldes. Os métodos de produção desses objetos datam de muito tempo, embora seja difícil apontar com precisão quando eles surgiram. Muito se argumenta que a tradição possui raízes nos povos pré-hispânicos, como os astecas, maias e totonacas, que já possuíam rituais para celebrar seus mortos. As imagens de caveiras e esqueletos apareciam recorrentemente nas pinturas e representações artísticas desses povos indígenas, pois os ossos eram vistos como importantes repositórios de energias e poderes vitais

No entanto, vale lembrar que as festividades dos povos pré-hispânicos foram muito modificadas pela presença dos espanhóis — que utilizavam as caveiras como símbolos de morte e vida — e a primeira menção à venda de figuras de esqueletos data de bem mais tarde, por volta de 1740. Originalmente, as calaveras de açúcar foram criadas como uma forma de presente, para serem consumidas pelas crianças. Ou seja, elas não eram tradicionalmente utilizadas nas oferendas. Foi apenas nos tempos mais atuais que passaram a ser colocadas nos altares domésticos conhecidos como tais. 

Doces ou argile: você escolhe

Durante o Dia de Los Muertos, as calaveras podem ser feitas de inúmeros materiais. As mais famosas são produzidas a partir de moldes de açúcar em uma única peça, sem corante ou sabor, tingidas e adornadas com tintura vegetal. Em outros casos, elas podem conter nozes, chocolate e outros itens comestíveis. Quando as calaveras de açúcar são compradas ou dadas como presente, o nome do falecido é popularmente escrito com glacê na testa do crânio

LEIA TAMBÉM: DOIS RITUAIS E FORMAS DIFERENTES DE LIDAR COM A MORTE

Inclusive, a produção pode ser um processo bastante demorado. O artesão que cria as calaveras pode levar até seis meses produzindo e decorando os objetos para a festividade anual! As caveiras mais elaboradas, por exemplo, são vistas como arte e não devem ser consumidas. Como o processo é mais voltado para a estética e celebração do que alimentação, muitas dessas calaveras de açúcar são decoradas com itens não comestíveis, como miçangas, penas e papel alumínio. As pessoas as guardam por alguns dias e depois jogam fora.

calaveras de açúcar

Apesar disso, ainda é possível encontrar as feitas de chocolate, marzipã, aromatizadas com baunilha e outros itens que podem ser consumidos. Todos esses tipos são tradicionalmente vendidos em mercados ao ar livre alguns dias ou semanas antes do Dia de Los Muertos.

Além das calaveras feitas de açúcar, há também as produzidas em argila e madeira. Elas são frequentemente pintadas em cores prateadas e metálicas, além de tons mais básicos como branco, preto e vermelho. É comum que suas órbitas sejam adornadas com miçangas de cores diferentes. 

As calaveras literárias

As calaveras se tornaram símbolos tão marcantes do Dia de Los Muertos que elas chegaram na literatura, tornando-se outra parte importante da festividade. As calaveras literárias são poemas e versos escritos de forma satírica e bem-humorada que geralmente adotam um tom divertido para criticar os vivos, lembrando de sua mortalidade, e expressar determinados descontentamentos políticos e sociais. 

Originalmente conhecida como panteone, essa forma literária data do século XIX aparecendo como um epitáfio satírico e abrindo espaço para ideias e sentimentos que não possuíam outros espaços para serem expressos. As primeiras calaveras literárias começaram a ser publicadas em 1879 em um jornal chamado El Socialista

Ao lado desses versos eram frequentemente publicadas gravuras e caricaturas de políticos importantes, representados como esqueletos cujos rostos e roupas ainda os mantinham reconhecíveis ao grande público. As calaveras eram representadas bebendo, rindo, cantando, dançando e fazendo outras coisas mundanas. Junto dos desenhos, vinham rimas irreverentes, escritas como epitáfios, como se a pessoa representada estivesse morta. Com o tempo, além de políticos as calaveras literárias passaram a representar também pessoas públicas e famosas.

Caricaturistas mexicanos importantes como Manuel Manilla e José Guadalupe Posada foram alguns dos nomes mais influentes desse tipo de calavera, inserindo ácidos e satíricos comentários rimados em seus desenhos. Posada, por exemplo, criou uma das representações mais famosas de La Catrina, um símbolo do Dia de Los Muertos. Representada como uma dama da alta sociedade, com vestido e chapéu refinados, o objetivo desta calavera literária era justamente relembrar aos vivos que na morte somos todos iguais e as diferenças sociais não significam nada. 

Atualmente, as calaveras literárias se tornaram composições tradicionais no México durante a época das festividades, sendo oferecidos concursos que incentivam a produção desse conteúdo literário. Elas podem ser representadas tanto por versos quanto por imagens e além da sátira às pessoas famosas também podem ser dadas para familiares e amigos como uma forma de lembrança. 

Festejando a morte e a vida

O Dia de Los Muertos é uma enorme celebração da vida, das histórias e de todos os ancestrais que já se despediram desse mundo. As calaveras, símbolos leves e coloridos da morte, mostram que ela não é o fim, mas sim uma transição que deve ser celebrada com muita festa e carinho

calaveras mexicanas

Isso pode contrastar um pouco com o costume brasileiro do Dia dos Finados, por exemplo. Mas na verdade, apenas ressalta que existem diferentes formas de se lidar com a morte ao redor do mundo. Todas são válidas e todas merecem respeito.

É justamente o que a autora Caitlin Doughty comenta em Para Toda a Eternidade, uma jornada que visa conhecer o mundo e a forma pelas quais as diferentes culturas lidam com o fim da vida. De maneira respeitosa e inusitada, Caitlin investiga a história funerária no mundo, nos ensinando que sim, temos muito o que aprender com a morte.

LEIA TAMBÉM: CAITLIN DOUGHTY: “MORTE É CIÊNCIA E HISTÓRIA, ARTE E LITERATURA”

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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