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DarksideEntrevista

Roberto Denser: “A literatura pra mim sempre foi refúgio e fortaleza”

Autor de Colapso fala ao DarkBlog sobre máquinas de escrever e esperança no fim do mundo

03/07/2025

Dono de uma narrativa impactante, Roberto Denser conquistou os DarkSiders com a potência de Colapso, seu livro de estreia na DarkSide®. Com a visceralidade de alguém que já trabalhou em um matadouro, o autor falou ao DarkBlog sobre suas referências, processo de escrita e até sobre as vantagens de criar usando uma máquina de escrever.

LEIA TAMBÉM: Roberto Denser: “A humanidade está sempre à beira do colapso”

Entre otimismo e decepções com a própria humanidade, ele ainda carrega um olhar esperançoso sobre as pessoas, mesmo diante do fim do mundo. Confira a entrevista:

DarkBlog: Você tem uma trajetória bem peculiar: de vendedor a açougueiro, a autor… Como essas vivências o moldaram como escritor?

Roberto Denser: Eu sempre vivi muito próximo dos mais diferentes tipos de pessoa, e de forma quase íntima mesmo. Por exemplo, o meu primeiro trabalho da vida foi no matadouro do meu pai. Depois no açougue, no meio de feira, no comércio… Cresci como um homem simples, fui criado em bairro operário. Eu sempre tive muita proximidade de pessoas simples, e eu aprendi a identificá-las, a compreendê-las, seus anseios, sua natureza, e quando eu escrevo, eu gosto de trazer isso. Eu acho que muitos escritores esquecem dessas pessoas, ou recorrem a caricaturas quando escrevem sobre elas. E eu, como eu tive um convívio muito próximo, eu tento transformá-las em personagens mais palpáveis, assim como as pessoas que eu conheci, com todas as suas incoerências. Eu gosto de fazer isso, eu acho que é algo que eu vou levar para sempre em qualquer coisa que eu escrever. 

Roberto Denser

D: Colapso é um livro pós-apocalíptico, mas que fala talvez mais do presente do que do futuro. Como a nossa realidade o inspirou?

RD: A nossa realidade me inspirou porque eu me dei conta de que eu tenho uma visão muito otimista da espécie humana. Da natureza humana, e então veio a pandemia. E na pandemia eu comecei a perceber que eu estava muito errado em ser otimista. Colapso é um reflexo disso, eu que antes, até um pouco inocentemente, acreditava que havia uma tendência da natureza humana ser um pouco mais rousseauniana, isso acabou caindo por terra, e eu percebi que nós somos extremamente hobbesianos, que numa situação de crise, a gente entra numa lógica de “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Colapso reflete bem isso, os conflitos que decorrem lá da trama do livro decorrem justamente da escassez e da necessidade de autopreservação, sobrevivência etc. 

D: Quais as suas referências literárias ou artísticas? Como elas te ajudaram a encontrar a sua voz na literatura?

RD: O Roberto Bolaño foi um escritor chileno que muito me impressionou quando eu li pela primeira vez, e foi a primeira vez que eu percebi a importância do estilo, porque ele foi muito longe, ele escreveu um livro com 55 narradores, e cada narrador tem um estilo específico. Eu fiquei tão impressionado com aquilo que na época eu pensei “de duas, uma: ou eu paro de escrever agora, ou eu aprendo”. Eu tomo isso como uma aula, como uma lição. Ele acabou se tornando um norte pra mim em relação a estilo. E há outros que são nortes em relação a temas, por exemplo o Cormac McCarthy eu adoro os temas, a leitura que ele faz da natureza da alma humana, essa visão pessimista, caótica, visceral… tudo isso que está no meu trabalho é um tributo, nunca neguei as minhas influências. 

D: Voltando a Colapso e a essa visão um pouco pessimista da natureza humana, na sua opinião, existe ternura no fim do mundo?

RD: Na minha opinião, existe ternura no fim do mundo. Existe tudo aquilo que nos torna humanos, tanto tanto essas coisas boas quanto as coisas más. Um personagem ou uma pessoa pode sentir ternura por um dos seus, por uma pessoa que está ali dividindo um fardo com você e numa situação similar, com um estranho, vai sentir o oposto.

colapso

D: Você escreve uma máquina de escrever. Qual o papel do ritmo físico da escrita que o digital talvez não alcance? 

RD: Eu adoro escrever em uma máquina de escrever porque ela é exatamente isso: é uma máquina de escrever, você não faz outra coisa quando você senta para trabalhar com ela. Você tem essa enorme vantagem de ver o seu trabalho acontecendo, porque você usa todos os seus sentidos ali: você sente o cheiro de óleo da máquina, você vê a pilha de folhas aumentando de páginas, você escuta o barulho da máquina. Eu sou muito físico, eu cresci num bairro operário, eu gosto de trabalhar com as mãos, então, ver o trabalho acontecendo me estimula muito a continuar. É muito massa, depois de uma semana de trabalho você poder olhar em cima da sua mesa uma pilha de folhas do seu trabalho.

D: Em um mundo cada vez mais colapsado, qual o papel da literatura?

RD: A literatura pra mim sempre foi refúgio e fortaleza. Aquilo que muitos dizem ser Deus, refúgio e fortaleza. A literatura tem sido pra mim isso desde que eu aprendi a ler e continuará sendo, independentemente de qualquer coisa. No Colapso tem um personagem que, 40 anos após o apocalipse, o camarada é um psicopata extremamente violento, mas ele é um leitor, e esse aspecto de humanidade eu não queria abrir mão.

D: Se você pudesse deixar uma frase datilografada, é claro, que sobrevivesse ao apocalipse. O que ela diria? 

RD: Essa é difícil. [pausa dramática] É meio clichê, mas ela diria que a vida, a esperança, o amor… essas coisas que a gente acha cafona às vezes, elas valem à pena. Mesmo que o mundo seja o caos, guerra, sangue… essas coisas valem a pena.

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Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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